terça-feira, 14 de maio de 2013


Enunciado (o mais fiel possível conforme observado):
“Já sabes? A minha vizinha virou maluca”.
“Ouvi que tem mais uma de Benguela”.
“Isso até ‘tá a dar medo”.
 “Conheço uma miúda, não é bonita nem nada, tem um [Hyundai] i10. É samba”.
“Estão a pisar grandes máquinas”.
“Tipo nada, os kotas estão a largar”.

Enquadramento:
A ideia principal resume-se aqui: “Conheço uma miúda, não é bonita nem nada, tem um i10. É samba”. Há uma crença entre os Ovimbundu na existência de força sobrenatural para atrair homens, num estilo de vida intensamente promíscua com fins materialistas. Esse poder chama-se “samba”.

Sendo a existência do feitiço indiscutível, vale acrescentar que a sua essência é o status: acumular bens, chegar ao poder, manter-se no trono, proteger-se. Em algumas comunidades, a tendência é masculinizar o feitiço (“umbanda”), sendo “oganga” o homem (que pode chegar a matar, por status ou por inveja) e “ocilyangu” a mulher (que supostamente anda fora de hora a dançar nua à porta de quem quer na desgraça). Quem recebe "samba" recebe “umbanda”, embora seja uma categoria mais leve.

Voltando ao diálogo, na percepção de beleza enquanto moeda, só as mulheres que completam os estereótipos (a tal beleza aparente) merecem ostentar bens, já que, “tipo nada, os kotas estão a largar”. Logo, para uma miúda que “não é bonita nem nada” ter um carro, só pode ser porque recorreu ao feitiço para iludir clientes com um charme que não possui. E, algo cíclico, começam a espalhar-se informações sobre raparigas que alegadamente enlouqueceram porque o feitiço expirou, ou porque não teriam cumprido os preceitos do kimbanda.

Impressão final:
Ao mesmo tempo que me revi parcialmente no diálogo, por este representar repúdio à ascendente degeneração das relações humanas, onde adultos endinheirados corrompem raparigas com idade para suas filhas (ou mesmo netas), não deixei de sentir uma ponta de tristeza; aqueles lavadores de carros demonstraram estagnação quanto à visão de mobilidade social. Em nenhum momento se referiram a alguém (“feia” ou “bonita”) que tenha carro porque conseguiu formar-se, arranjou emprego e pediu crédito.

Gociante Patissa, Aeroporto Internacional da Catumbela 13 Maio 2013


A propósito dos 396 anos que a cidade de Benguela completa no próximo dia 17 de Maio, o Jornal Cultura de 13 a 26 de Maio de 2013 traz um interessante ensaio do historiador, escritor e editor Armindo Jaime Gomes (ArJaGo), do qual partilho o trecho que tem que ver com a origem do nome:

“Do étimo mbenga, Benguela é corruptela do verbo “okuvenga” da língua umbundu; okuvengela (sujar) / okumbengela ovava (sujar-me a água), relativamente às águas estagnadas e em língua portuguesa é entendido como turvar, turvar-se, perturbar, alterar, transtornar, escurecer, embaciar, nublar, enuvear (Pe. Alves, A., 1951). Evoluído de “mbengela”, a toponímia passou asignificar perda de transparência, de limpidez, de clareza, perturbação, fazer perder a razão, cobrir o céu de nuvens, situação confusa, indefinição (op. cit.). Apesar de fazer parte da onomástica planáltica, a exemplo de Katombela, Mbaka, Kakonda, Civangulula, etc., a versão popular admite que o topónimo tenha resultado da distorção linguística nos primeiros contactos entre os portugueses e ambwi. Em vez do nome da região que se pretendia saber, os intrusos receberam a justificação da turvês das águas lacustres e fluviais.”

quinta-feira, 9 de maio de 2013

"Catepa cakopilila" (adágio Umbundu)- o que rebentou (corda) foi reforçar-se. Explicação: há momentos em que, qual cordas, rebentamos para que possamos regressar em nó mais forte.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

"Ukulu wombwa ka tombokatomboka ulyenge, ucinlã wutaima" (adágio Umbundu) - Cão velho não pula sobre a fogueira, arde a cauda. Explicação: gente madura pondera as consequências dos passos que dá.

Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa 2015

Vídeo | Lançamento do livro A Última Ouvinte by Gociante Patissa, 2010

Akombe vatunyula tunde 26-01-2009, twapandula calwa!

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