terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Quem atira coisas para a outra margem do rio espera atravessar (adágio Umbundu)


Ociluvyaluvya co vo (imagem da) Internet

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011



Velha-Mbali encontrava-se a repousar no cadeirão da varanda desde a sua chegada. Confundiam-se, no bocejar, os solavancos da viagem e os restos do sono de quem madrugou para apanhar o primeiro autocarro intermunicipal da SGO. As pausas prolongadas e a economia de palavras eram parte da recuperação do efeito dos vómitos. A anciã teve o incómodo já previsível de usar saco plástico para lançar, foram três vezes nesta viagem de setenta quilómetros para ser mais preciso, uma fatalidade que decerto não será digerida nesta encarnação.

Qual sino de boas-vindas, o efeito acústico resultante do atrito entre a loiça e os talheres, enquanto punham a mesa, lisonjeava os ouvidos da hóspede. Chegava também com agrado a fumaça do peixe na grelha, que era a segunda paixão que Velha-Mbali guardava da cidade depois da família.

Velha-Mbali herdou da mãe uma beleza que compensava a estatura baixa do lado paterno. O rosto era a única vitrina para se lhe ver a pele semi-flácida, obra da idade. Usava panos compridos, de arrastar o chão, como manda a tradição. Os cabelos, maioritariamente brancos, salientavam a ligação entre o lenço e o quimone, ambos de tecido azulescuro de pintas brancas. A sorte de nascer imune à cárie era responsável pela capacidade de competir com os netos em matérias de mastigar, fosse o que fosse. Como é claro, empatava também na hora de palitar.

E enquanto a deixavam descansar sob a sombra da trepadeira, aguardava pelo almoço, calada, mas sempre atenta ao mínimo movimento no quintal. Era esta última a característica que os netos maisgostavam nela: ser fértil em análises dramáticas das makas da sua gente.

A fadiga da viagem não duraria muito, cedo seria suplantada pela emoção de rever os netos, agora bem crescidinhos. Bálsamo mais milagroso do que isso seria, aliás, impossível. Sentia-se inclusive rejuvenescida ao ver a neta caçula, sua chará por sinal, com mais de dez anos. E isso era suficiente para se dar conta da longa ausência na vida dos seus entes, pelo menos fisicamente. Mas para além do desconforto com as viagens por estrada, infelizmente a única via, Velha-Mbali considerava improcedente o convite de viver a beira-mar. E exigia que se respeitasse a sua posição, vontade que resultara com os adultos, mas não com os netos, que eternizavam o debate.
— Ó avó — rompeu o silêncio Waldemar, o primogénito —, a avó veio para ficar já, não?
— Não, kanekulu… Avó vem comer só natal!

E a conversa ainda continuou após o almoço. Para convencer Velha-Mbali a optar por uma vida mais relaxada, os netos esgotaram todos os argumentos de vantagem da cidade sobre o campo. Ao fim de várias horas de debate, por sua vez carregado de mimos no colo e paternalismos de vária ordem, sentenciou Velha-Mbali:
— Omwenyo Okulima, olohombo ovyo vilia opapelo.[1]
.
Convencidos de que a sua forma de ver a vida era a mais acertada, os netos matavam-se de rir aos exageros da avó que, por sua vez, também se divertia rindo, com agradável malícia, da ingenuidade deles. Mal cabia na cabeça da anciã que alguém maior de doze anos viva dependente dos pais, quando no campo seria capaz de gerir a sua própria lavrinha. Os netos, ajudados pelos pais, chegaram ainda a sugerir que, como meio-termo, a avó passasse também o reveillon. Mas ela era boa a refilar:
— O quê?! Se dia da família é dois dias após o natal, o ano novo é como?!

Era propositado o trocadilho, pois que lhe custava digerir as ausências dos chefes do lar, que andavam de prevenção, o pai na marinha e a mãe no controlo aéreo da aviação civil, só regressando ao lar no dia 27 de Dezembro. E no dia da partida, houve mais alegria do que tristeza. Com a presença da avó, o natal daquele ano foi diferente.

Todas as vezes que veio à cidade, Velha-Mbali se deparou com deselegantes surpresas, mas a desta vez, batia seguramente todos os recordes. A anciã chegou mesmo a tossir de choque ao cruzar com miúdo de doze anos apenas, não mais do que isso, girando a cidade para cima e para baixo com cuecas e sutiãs de mulher adulta no ombro a gritar: «arreou, arreou no negócio, é a última zunga do ano!!!»

E como a ousadia é a alma do negócio na zunga, o rapaz abordou-a insistentemente, para não dizer chatamente:
— Minha mamoite[2], arreou na tanga; olha “mónica”; táqui surtião… Velha-Mbali ainda tentou fingir indiferença, mas não aguentou.

Arremessou, com toda a violência, o galo de raça contra a cabeça do adolescente:
— Vai faltar respeito na tua mãe, que não te deu educação!!!

O zungueiro, que nunca vira tão intempestiva reação de potencial cliente, logo uma “mamoite”, meteu-se a correr. E no máximo da sua quilometragem!

E devia ter uma cabeça muito rija mesmo, o zungueiro, já que o impacto da pancada fez rebentar a corda que imobilizava as patas do galo. Este, que não imaginava as fêmeas que por ele esperavam para reprodução lá no kimbo, meteu-se em fuga no frenético trânsito urbano em hora de ponta. Era ver o desespero da anciã diante do risco de perder o animal. Isso é que nunca! Eis que arregaçou o espírito, e lá ia atrás do galo, ela que também já não tinha lá muita juventude nas pernas. De repente… — puapualakatá, pumbas! — acabava de ser atropelada por um kupapata, que vinha em sentido contrário.
— Netele, a njali, ndakapele okuteta onimbu[3]
— Amõla wange, watopa muele cokuti vetapalo omo oteta onimbu?![4]
— Vangecele, mamã[5]… — suplicava o kupapata, enquanto se levantava do chão e inventariava os danos.
— Mbi cakulimba okuti olikondakonda opitaela?![6]

O kupapata de imediato ligou para o serviço de bombeiros, que localizou a família e levaram Velha-Mbali ao banco de urgência. Algumas horas mais tarde, estava aplicado o gesso. O kupapata tinha muitos danos, a começar mesmo pela compra de outro galo de raça — regressar de mãos a abanar é que Velha-Mbali não aceitava de modo algum!

Conscientes de que o pior havia passado, os netos partilharam com a avó a alegria de saber que, finalmente, passariam juntos o reveillon. E a velha ainda conseguia fazer troça da própria perna engessada:
— A maka é que na cidade metem perna branca!!!

Gociante Patissa, in «A Última Ouvinte», UEA&Gociante Patissa, 2010
PS: à memória da tia Adelina Mbali Manuel Patissa


[1] Viver é cultivar. Comer papéis — ou seja, dinheiro — é coisa de cabritos
[2] (calão) mãezinha
[3] É desculpar, minha mãe, a intenção era fazer corta-mato...
[4] És tão parvo assim, meu filho, que queres corta-mato na estrada?!
[5] Perdão, mãezinha
[6] Esqueceste que quem contorna também costuma chegar?!


A minha mãe partilhou connosco trecho de um cântico que costuma animar senhoras do grupo coral da sua igreja em cerimónias especiais, a exemplo de casamentos. O templo está situado no Morro do Alto-Niva, município da Catumbela. Suas colegas, que não ela, são predominantemente Vacisanji, subgrupo étnico (Ovimbundu) que habita a circunscrição administrativa do município do Bocoio, a 100 quilómetros da cidade de Benguela, capital da província como mesmo nome. A canção, de cuja letra completa a velha não recorda, agradou-me bastante, não só pela entoação, mas essencialmente pelo seu alcance poético:

“Kulo ka kuli akondombolo / Kucaca ndati?”

Traduzindo:

“Não há cá galos / Como tem amanhecido?”

Faz lembrar o papel universal do galo, o de anunciar o novo dia. Ora, na sua ausência, como saberemos que já amanheceu? Pode-se também interpretá-la no sentido de desmentir a inexistência de galos: se é o galo quem anuncia a madrugada, ora, e as madrugadas continuam a existir, logo, há galos.

Minha mãe, que não sabe dizer que despertador o galo usa para despertar os humanos, tem contudo uma certeza: madrugadas sem galo cantar são sem graça.

Recolhido por Gociante Patissa, bairro da Santa-Cruz, Lobito, 21 de Dezembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Aquele que empresta gosta de confusões. (máxima Umbundu)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Elomboloko: Olusapo wasyata pana okuti capopiwa ka cikoleliwa, cikasi ño ndo hombo, yina okuti owangu atakinla, noke te wapitulula lo kulukula.


Português: O que o cabrito mastigar não está bem triturado (máxima Umbundu).


Explicação: Diz-se de situações em que a palavra não é credível, daí o paralelismo com o cabrito, que precisa ruminar ao longo do dia.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Quando alguém fala, há que ouvir a voz por de baixo da língua (entrelinhas) - Máxima Umbundu

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O cágado não trepa (para) o tronco da árvore, é porque alguém o colocou lá (provérbio Bantu).

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Não é por deixarmos de ver as coisas que deixamos de as sentir (máxima Umbundu)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Onde a cabeça não passa, pior ainda o corpo (máxima Umbundu)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

(Traduzindo) Máximas Umbundu: "O outro não te ensina a ser parvo, é porque já o foste antes".

quinta-feira, 24 de novembro de 2011


Vai subindo de tom a conversa sobre “A proposta de lei sobre o estatuto das línguas nacionais”, apresentada pelo Ministério da cultura e que alguns deputados e estudiosos acham que deve mudar a designação para "línguas de origem africana". Como é de esperar num país com tão fresco "complexo de assimilado", não faltam fazedores de opinião que rotulam de preconceituoso quem apoia a tentativa de maior protecção e divulgação das línguas nacionais (as indígenas de outrora). Desenterrou-se como “arma de arremesso” o facto histórico de os khoisan serem os mais antigos no território que hoje é Angola. Está-se mesmo perto de dizer que o Kimbundu, o Cokwe, o Kwanyama, o Ngangela, o Umbundu, entre outras de origem Bantu, bem como a dos khoisan, chegaram para cá à mesma época que o capitão Paulo Dias de Novais ou o descobridor Diogo Cão.

Sou de opinião que, conquistada a independência, se negligenciou um bocado a gestão das políticas culturais na vertente das línguas nacionais (entenda-se promoção de estudos sobre aspectos de identidade etnolinguística e tudo a isso inerente). A prioridade recaiu para a busca da estabilidade nacional e formação de quadros.

É certo que a vontade e a visão do detentor do poder acabam prevalecendo sempre, quando se fala de políticas públicas. Ainda assim, porque posso também falar, digo que não me parece justo, no mínimo, tentar agora equiparar a língua portuguesa, que, tendo em conta o seu avanço estrutural e científico, significaria claramente sobrevalorizá-la relativamente às já citadas. A nossa língua de união e oficial vai bem. E ainda bem. Mas deixemos que o Ministério da Cultura avance. A questão é, diz-se, que a Constituição não se refere a elas como línguas nacionais, mas como línguas nacionais de origem africanas. A pergunta de retórica é se terão sido consultados os nossos antropólogos na feitura da constituição. Enfim...

Os defensores da "secundarização da noção de pertença" apresentam os seus argumentos de razão legítimos e devidamente fundamentados, embora me pareça, de certo modo, um reeditar da "atitude" de "línguas indígenas". Dizem por exemplo que as línguas mais faladas em Angola são o Umbundu e o português, que não representam mais de 30% da população. Mas, só mesmo por curiosidade, por acaso dominam eles alguma dessas "línguas de origem africana", ou é o tecnicismo puro a se confundir com exotismo? Como diria M. Rodrigues Lapa, “os puristas têm a ruim tendência para considerarem uma só forma correcta” (Gramática do Português Actual, 2009. Pág. 4).

O semba e o ku-duro, muito apoiados institucionalmente, já agora bem podiam ser considerados "apenas" estilos musicais de origem africana, tal como diríamos do kwanza (apenas símbolo monetário de origem africana). Que tal?

Gociante Patissa, Benguela, 24 Novembro 2011

"Owima
owima
ocimboto caminga ekaya
ati Burity
sipise ko/"

(Traduzindo... Trecho da canção de Carlos Burity)

É azar
é azar
o sapo pediu-me tabaco
dizendo
'Burity,
partilhe comigo o seu cigarro'

sexta-feira, 18 de novembro de 2011


Só a panelinha de barro não cresce, uma criança cresce rápido. (máxima Umbundu)


Calomboloka okuti: Tata ciwa omõla wove, henla eci a kula, wiya oku kwatisa


Explicação: Não desprezes a tua criança, porque ela logo crescerá e te vai ajudar.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Só as montanhas não se encontram, os humanos acabam por encontrar-se (máxima Umbundu)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A cabra pariu de noite, aguardamos pela manhã para avaliar a aparência (máxima Umbundu)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Nos encostámos à razão, não ao parentesco (máxima Umbundu)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

"Quem procura mulher bela não se cansa" (máxima Umbundu)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011


Upongo wa fela


A fela,
Nye wa ñembela 
okuti mbela wiya? 
Anga kulete okuti ndulavoka?
 Wa nyola ocipundo cange 
omu nda ndawunda la mbela. 

Nye ocimangela, a fela? 
Wa sakalalisa utima wange lesanju lya mbela wiya
pwãi ocili caco mbela wosia. 
Linga ohenda ko ngunja yilo. 
kopilile mbela.
Lupukako muenle. 
Ulima ulo  ndo pongiyila ongusu.

A fela,
Ndingue ohenda 
Mbela u nena.
Kofeka a kasi kwalinga onumbi! 

António Salomão Ngandu, Benguela 31/10/11

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Etambululo: "Ina yukwene nda enda epenle, ku ko yole"


Adivinha: Estou de pé sobre uma extensa pedra, vou abanando lenços.


Resposta: Se a mãe de outrem anda carente de vestuário, não te rias dela.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O que não tem cheiro não tem sabor (sabedoria popular Umbundu)

domingo, 30 de outubro de 2011

No seio dos que excedem na comida, se não se cansa quem solta gazes, cansa-se quem desvia o mau cheiro com a mão (de nariz torcido). – sabedoria popular Umbundu

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Não te causa gases intestinais o feijão que não comeste. (sabedoria popular Umbundu)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A mentira é cerco feito de folhas (quando sol bater, é só ruir) - sabedoria popular Umbundu

quarta-feira, 26 de outubro de 2011


Ombenje, yo vo
Internet 
UMBUNDU: Ndo kuvangula cesilivilo lyo ocisangwa ko kukala kutundasyãhulu wo wiñi wovimbundu

Ocisangwa (vamwe vacitukula vati “quissangua” e “kisangua”), casyata okunyuiwa mulo von Ngola, cipongiyiwa lo huta yaleluka kwenda yatanda ko kovaimbo vosi. Tusima tuti kakuli onjila imosi lika yo ku pongiya, nda twa vanjiliya awiñi la wiñi vo lo nyitiwe. Haimo lumwe, ha citangi ko nda tulinga tuti kuli ovisangwa vivali: (a) cina cakwaya kwenda cikolwisa, (b) la cina cakwaya ale syo, pwãi kacikolwisa. Oco katukainde olonjila vya sanjavala, tupopya ño eci ca syata kwapata ovimbundu.

Ocimãho cokutaya cilo oku yevalisa vimwe twamãla okuyeva, kweci catyamenla kelomboloko lyo cinsangwa (cina cakwaya ale syo, pwãi kacikolwisa) kutundasyãhulu, casumbiwa ndovava, cina okuti kakuli omõla ale ukulu kacisole. Olonjanja vyalwa, u waliveta ocisangwa olaña mwenle lo kulima kepya, ke yevi onjala.

Ocisangwa cipongiyiwa lo kufelula, ndeci ño ke kela. O sema yitengiwa lo loseke, vikalinga noke ovitami (vikoka okuti tê lo kuvenja venjamo vombya ale vo neka, oco kavikalinyolehenle). Kuli vo vana va panga ovitami lo lwoso. Onduko yovitami, tusima tuti yatundilila ko “kutamenla”.

Oco ocisangwa cisonse, osimbu omanu vainda lo kukapa kapa ko ombundi, vamwe lavo vo vakapa ko onyoñolo oco cikwate okalemba kamwe kaposoka. Ovituwa vyaco, ndomo caleluka okucitala, haiko vili kovaimbo, omo lyu hwasi wukasi vusitu, kenda andi mekonda lyu kulihinso wapiãla kweci catyamenla kuhayele lovihemba vyumbundu. Pwãi osuka oyo vali yasyata oku kapiwa kocisangwa. Kweci ca tyamenla kovikwata vyokusoleka ale okwambata, tukwete ombenje, pwãi volupale omunu osoleka leci akwete.

Ocisangwa laco vo kacitava okukamba pongandala, pepunda pana pakapiwa ovikwata vyociholo co kutambela ale oku lomba (ko putu vati “consentir”, “alambamento” ale andi “alembamento”). Mekonda lya nye? Pepulilo eli opo tusanga osapi yondaka. Ndeci twayeva kwakulu vendamba, ocisangwa cikwete esilivilo linene konepa yokutambula akombe. Onduko yocisangwa yitundilila “ko kusangiwa” ale “oku sangwa”. Tulinga tuti ocina co ku sangiwa ale cimwe cisangwa, ocidenkaise cekalo liwa ku yu wasangiwa. Njali yukãi eye ukwacikele cokucipongiya lo ku cava, kacitava cikamba.

Eli olyo esapulo twatenla ko, pwãi nda okwete lya kwavo, tulilavoka lesanju.

Gociante Patissa, Benguela, 26/10/2011
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PORTUGUÊS: Breve nota sobre o sentido etimológico da bebida Ocisangwa na cultura Ovimbundu

A “ocisangwa” (mais conhecida pelas corruptelas “quissangua” e “kisangua”) é uma bebida típica em Angola, feita à base de ingredientes simples e naturais. Não creio haver uma forma consensual que sirva de receita, tendo em conta até a nossa peculiar diversidade étnica. Ainda assim, podemos resumir a sua classificação em dois galhos: (a) a fermentada e alcoólica, (b) a azeda ou não, mas não alcoólica. Mas para não dispersar o foco, concentremo-nos à realidade dos Ovimbundu.

O propósito destas linhas é partilhar o resultado de uma recente recolha, quanto ao significado antropológico de “ocisangwa” (a azeda ou não, mas não alcoólica), aquele líquido da importância da água, sempre presente e acessível a todas as idades. Às vezes basta uma boa dose de “ocisangwa” para se passar o dia todo na lavoura.

O modo de preparo é pela fervura, similar ao de “ekela lyo sema” (papa de milho), com uma mistura de fuba e rolão, que fará o papel de “ovitami”, (minúsculas porções trituráveis de milho para engrossar o líquido, que fazem com que se esteja constantemente a agitar o copo para se evitar o desperdício de os abandonar no fundo deste). Há quem use o arroz como “ovitami”, substantivo que julgamos advir de “okutamenla”, que em Umbundu significa engrossar.

Para adoçar o líquido, os povos antigos usavam raízes, havendo também quem lhe acrescente troncos de “onyoñolo” para caprichar no aroma. Tais práticas, como é de imaginar, são ainda usuais no meio rural, dada a riqueza da flora angolana e o vasto conhecimento sobre sua multidisciplinar aplicação na medicina alternativa. Mas é ao açúcar que mais se recorre de modo geral. Quanto à sua conservação e até transporte, recorre-se à “ombenje” (cabaça), substituída por utensílios mais modernos conforme o meio.

A “ocisangwa” é dos bens de presença obrigatória na “ongandala”, a trouxa tradicional que se leva nos rituais de “okutambela” e/ou “okulomba” (conhecidos como “consentir” e “alambamento” ou “alembamento”). Então porquê? E é daqui que parte a vontade de partilharmos. Segundo nossas idóneas fontes, o líquido é de elevado valor no que à hospitalidade diz respeito. O termo “ocisangwa” vem de “oku sangiwa”, que também se diz em muitas variantes do Umbundu “okwsangwa. Ou seja, “ocina co ku sangiwa ale cimwe cisangwa”, é algo encontrado, símbolo pelo qual o anfitrião se revela hospitaleiro, claro está, tendo na mulher a garantia da sua existência.

Essa é a nossa, mas aguardamos com agrado pela versão que você tiver.

Gociante Patissa, Benguela, 26/10/2011

segunda-feira, 24 de outubro de 2011


Enquanto o português é a língua oficial de Angola, o país é anfitrião de uma riqueza de línguas e dialectos de raízes mais antigas. A revista Universo olha para os esforços para preservar e dar vida nova para a estes.

A versão do português falado pelos angolanos contém muitas palavras que seriam totalmente estranhas a lusófonos do Brasil, Portugal ou mesmo Moçambique. Isso, porque muitas palavras usadas em Angola de hoje vêm de suas línguas indígenas Africanas, como o Kimbundu, Umbundu, Kikongo e Tchokwe.

Por exemplo, os táxis colectivos miniautocarros azúis-e-brancos que se vêm em toda a Luanda são conhecidos como candongueiros. Esta vem da palavra kimbundu Candonga, que significa  mercado. É fundida com 'eiro', o ​​sufixo português, que significa mercado negro. Este nome foi dado aos táxis porque eram o meio de transporte para os vendedores que trabalham no famoso mercado da cidade, o Roque Santeiro.

Um exemplo semelhante é zungueira, palavra usada para descrever os vendedores do sexo feminino que vagueam pelas ruas da capital, oferecendo tudo, desde frutas, peixes e legumes a chinelos e ainda verniz para unhas. Zunga, em Kimbundu, significa “movimento contínuo", que resume muito bem o facto de que as zungueiras vão sempre em busca de novos clientes.

Raridade

De acordo com o escritor e antropólogo angolano, António Tomás, as pessoas em Luanda recorrem frequentemente ao Kimbundu quando querem descrever novos fenómenos sociais. "As pessoas usam Kimbundu quando se referem a algo que não possam descrever adequadamente em português; Acho que é algo exclusivamente angolano", explicou.

"É como se o Kimbundu fosse um recurso de armazenamento de palavras quando há um novo fenómeno social a precisar de nome. Outro exemplo émaka. Significa muito mais do que a palavra portuguesa "problema" , apesar de ser a tradução literal. Mas maka é mais rico de alguma forma, parece ter um significado mais profundo ".

Acredita-se haver em Angola cerca de 50 diferentes dialectos ou línguas (dependendo de como você classifica uma língua). A maioria é de origem Bantu, como o Kimbundu e o Umbundu, enquanto uma pequena maioria falada em áreas remotas vem de grupos menores, como os Khoisan. O Kimbundu é falado nas províncias do centro-norte e litoral, Luanda, Malange, Kwanza Norte e Bengo, enquanto o Umbundu é predominante no centro e sul: Benguela, Huambo, Huíla e Bié.

Nas províncias do nortenhas do Zaire, Uíge e Cabinda, as pessoas falam maioritariamente o Kikongo,  mas também Lingala e Fiote, línguas usadas na fronteira pelos congoleses.

O Tchokwe é falado nas Lundas e mais ao sul ao longo e através da fronteira com a Zâmbia, enquanto que na província mais meridional do país, o dialeto é conhecido como Cuanhama, embora seja por vezes também escrito Oshikwanyama ou Kwanyama.

António Tomás, foto A Semana
No entanto, ao contrário da África do Sul, onde há 11 línguas oficiais e para onde é mais provável ouvir um político falar em zulu ou xhosa quando você usa Inglês ouAfrikaans, em Angola as línguas  africanas são relegadas muito para o último plano. O escritor António Tomás, que nasceu em 1973, cresceu na cidade de Luanda e, enquanto seus pais são oriundos de zonas de expressão Kimbundu, em casa só falavam Português .

"Faço parte dessa geração, cujos pais viveram a era colonial dos anos 1960, quando os portugueses tentavam nacionalizar o país através da língua e alienar a etnicidade das pessoas", disse à revista Universo. "Forçaram as pessoas a assimilar. Tinham de falar Português, se quisessem um emprego, e muitas pessoas, inclusive meus pais, mudaram de nome para serem mais Portuguesas. Só quando eu tinha 18 anos é que eu descobri que o verdadeiro nome de meu pai era Kutubiko ".

Tomás, que está actualmente a concluir doutoramento em Antropologia Cultural na Universidade de Columbia em Nova York, disse que o seu primeiro contacto real com as línguas de Angola - além de sua avó, cujo Kimbundu era sempre traduzida em Português por sua mãe – deu-se quando cumpriu o serviço militar na década de 1990.

"Fui enviado para Benguela e as pessoas vieram das áreas circundantes onde todo mundo falava Umbundu mais do que Português", lembrou. "Eu não  tinha antes passado por aquilo. Pessoas da minha idade, em Luanda, simplesmente não falavam Kimbundu, apesar de os nossos pais falarem. Foi lá, ouvindo as pessoas contarem maravilhosas estórias em sua própria língua, relatos passados de geração em geração através dos avós,  que me comecei a  interessar por língua, cultura e antropologia."

Tomás disse que planeou aprender mais Kimbundu e Umbundu, e se possível algumas outras línguas de Angola . "Essas línguas são como uma caixa de armazenamento para as nossas culturas e precisamos mantê-las vivas para manter nossa cultura viva. "Se não fizermos algo agora, dentro de 100 anos o Português será a única língua falada em Angola. Precisamos urgentemente fazer valer as nossas diferenças e aprenderas nossas línguas para aprendermos também a nossa cultura. "

A residir em Benguela está o Gociante Patissa, que partilha o entusiasmo de Tomás por línguas angolanas. Totalmente bilingue em Umbundu e Português, o jovem de  32 anos é autor de um Blog e sobre a sua língua materna, onde traduz poesia e excertos da literatura e explora provérbios. "Adoro línguas e eu adoro escrever", disse. "E acho que através da minha, Umbundu,  tenho uma herança cultural muito rica e  quero compartilhar isso, então é por isso que fiz o Blog. Gostaria de um dia escrever um livro”.

Patissa, que estudou linguística na universidade e é também fluente em Inglês, nasceu na comuna rural de Monte Belo, movendo-se para a cidade costeira do Lobito, 100 km de distância, quando tinha sete anos. "Quando chegamos à cidade, a maioria não falava Umbundu, mas acho que por a minha mãe não dominar muito a língua portuguesa, continuamos falando em casa e ainda falamos enquanto adultos", afirmou. "Ainda há essa timidez de falar em línguas africanas em Angola, e isso vem do sistema colonial, mas precisamos superar isso e ter orgulho de nossas raízes culturais".

Esta é uma posição apoiada pelo governo, que já começou a com projectos experimentais de ensino do Umbundu, Kimbundu e Tchokwe em algumas escolas primárias e dirige o Instituto de Línguas Nacionais para promover dialectos autóctones.

Valorizando as línguas

Falando numa conferência em Luanda no início deste ano, Cornelio Caley, Vice-Ministro da Cultura, disse: "É muito importante que valorizemos as nossas línguas nacionais, porque nos permitem apreciar a nossa cultura nacional. Saímos recentemente de um sistema de colonial, durante o qual nossas línguas maternas foram sistematicamente negligenciadas e linguisticamente alteradas."

O vice-ministro considerou triste que jovens angolanos tivessem mostrado mais interesse em aprender línguas estrangeiras, como Inglês e Francês, em detrimento de suas línguas nacionais, e pediu aos pais para passar os seus conhecimentos aos filhos.

Na opinião de Tomás, no entanto, ao falar dialectos em casa vai mantê-los vivos, mais precisa ser feito para trazer línguas do espaço doméstico para o oficial. "Os Portugueses foram realmente eficazes na forma como criaram esse tabu em torno do nosso línguas nacionais e as pessoas tinham esse complexo real de inferioridade reais sobre o uso de dialectos africanos", disse. "Dizia-se que era uma língua inferior, menos útil e menos versátil, e lembro-me na escola que se você falasse Kimbundu, podia ser intimidado ou o professor diria que tal interferiria negativamente no seu Português. "Isso tem continuado hoje e há essa mentalidade que as línguas africanas são para falar em casa, em privado, não em público. Isto é muito triste e quando perdemos essas línguas, ninguém vai notar mesmo".

Professor Prah, foto IMPLAN
A ajudar Angola a preservar as suas muitas línguas está o Centro de Estudos Avançados da Sociedade Africana (CASAS), com sede em Cape Town, África do Sul. O Diretor Kwesi Kwaa Prah vem liderando o projeto para produzir uma ortografia-padrão (sistema ortográfico) para idiomas do país Bantu que, segundo ele, são todos muito semelhantes.

"Se você é um falante Cuanhama, pode não ser capaz de falar kimbundu, mas de lê-lo", explicou. "O que estamos fazendo é racionalizar as estruturas de ortografia para fazer uma versão harmonizada para que se possa em seguida publicar formas de escrita das línguas. "Trata-se de economias de escala. Se apenas 20 mil pessoas são capazes de ler um livro, você vai lutar para produzir muitos livros para esse público, mas se cinco milhões podem lê-lo, então você terá mais oportunidades."

Professor Prah, ganês, cuja organização trabalha em toda a África, tem opiniões fortes sobre promoção das línguas nacionais. Acredita que o legado colonial dominante de idiomas europeus, como Português, Inglês e Francês está a atrasar o desenvolvimento do continente.

"Não acredito que se possa avançar  através da língua de outra pessoa", disse. "Olhe para a Alemanha, eles falam alemão; olha para a Itália, eles falam italiano. E agora olha para a Ásia, também uma vez colonizados, mas agora falando suas próprias línguas. Vietname, por exemplo, costumava ser francês, mas agora as pessoas usam vietnamita, e na Malásia, ex-britânico e apesar de muitas pessoas falam Inglês, sua língua materna é o malaio. Estas são sociedades com economias em crescimento e estão se movendo para a frente; África ainda está atrás com isso".

Professor Prah acredita que Angola ainda precisa de agitar o que ele vê como uma dependência neo-colonialista em Português, e diz que é preciso fazer mais para promover as línguas africanas que estiveram intrinsecamente ligadas à identidade nacional e da cultura. "Se não protegermos as nossas línguas Africano, é essencialmente o etnocídio, porque as nossas línguas são parte da nossa identidade e nossa cultura e é através da nossa cultura e da língua que nós nos definimos", acrescentou.

Congratulando-se com o apoio do governo para o trabalho CASAS faz em Angola, o Professor Prah diz esperar que o guia ortográfico angolano esteja pronto até Novembro e que abriria portas para mais trabalhos publicados em línguas indígenas e dialectos angolanos.

O Bloguista Gociante Patissa concorda que a falta de trabalhos publicados em línguas africanas, a par de passagens bíblicas traduzidas por missionários, dificulta a aprendizagem ou preservação de dialectos. Dicionários e gramáticas, segundo ele, são difíceis de encontrar, e o que exclui muita gente interessada em aprender. Mas é encorajado pelo crescente número de músicos que agora estão usando Umbundu e Kimbundu em suas letras.

"Estamos vendo mais música com letras africanas, particularmente artistas do Huambo, Benguela e Lobito, o que é uma boa promoção da língua", disse. "É um indicador de que o interesse em nossas línguas nacionais está crescendo e acho que vai ajudar a protegê-las nos próximos anos."

O Professor Prah concorda. "Os africanos estão lentamente começando a despertar para a cultura nacional e línguas, e percebendo que precisam para preservar esta parte da sua identidade de ser capaz de desenvolver", disse.

Apesar de muitos angolanos urbanos já não falarem as línguas africanas, se você viaja fora das principais cidades e vilas, encontrará lugares onde apenas estes dialectos são falados. A fim de fornecer um serviço a essas pessoas, cujas estatísticas não são claras, as emissoras estatais Televisão Pública de Angola e Rádio Nacional de Angola têm notícias diferentes e mostram  informações. Folhetos do governo em muitas questões de saúde e cívico, como eleições, também são traduzidos para as principais línguas para garantir que todos no país sejam informados. E na sequência das recentes chuvas fortes e inundações, existem agora os planos para o Serviço Nacional de Meteorologia INAMET (Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica ') para dar alerta nos idiomas locais.

(Artigo publicado pela revista Universo, Setembro 2011, propriedade da Sonangol produzida em língua Inglesa e distribuída no Reino Unido; tradução de Gociante Patissa).


Quem cantar desafinado cantou também. (máxima Umbundu)

sábado, 22 de outubro de 2011

A boca é uma ponte (sabedoria popular Umbundu)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Descarta-se o que estiver não mão, não o do coração (adágio Umbundu)
 Adágio cimba po Gociante Patissa Blog Ombembwa by Gociante Patissa 

domingo, 16 de outubro de 2011

Se o outro pula, arrasta-te tu; não há joelhos iguais (provérbio Umbundu)


 Ombembwa-Proverbio Gociante Patssa Blog AngodebatesBenguela2011 by Gociante Patissa 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011


Parte o presente exercício de dois relatos partilhados recentemente por um casal que revelava semelhanças num gesto das respectivas mães, atitudes que, vistas além de simples coincidência, fornecem matéria antropológica. Trataremos a mãe do marido por “Njali-A” e a mãe da esposa por “Njali-B”, sendo “onjali ou njali”correspondente a pai/mãe, tutor/a.

Njali-A e njali-B têm em comum o papel de “ndona yukulu ou ukãi watete”,estatuto social dado às primeiras esposas, em contextos de poligamia, onde, independentemente da idade, as demais (“sepakãi”) se assumem “irmãs mais novas”. O que as separam são uma década e cerca de 600km de estrada. Njali-A vivia em Kutenda, município da Chicomba, província da Huila, e o gesto deu-se na década de 70; por sua vez, njali-B vivia no Monte-Belo, município do Bocoio, província de Benguela, e sua acção deu-se na década de 80.

Os Ovimbundu, há quem os chame “os Umbundus” por conta da sua língua, são grupo etnolinguístico de origem Bantu que habita o centro e sul de Angola, em seis das 18 províncias: Kwanza-Sul, Benguela e Namibe (costa), Bié, Huambo e Huila (planalto centro e sul) Representam 1/3 da população,num país com 17 milhões de habitantes, e cerca de oito grupos de matriz Bantu, sem esquecer os Khoisan, pré Bantu, e os de origem ocidental.

Nem sempre o número de falantes é indicador de etnia, um fenómeno que podemos atribuir a dois factores: (a) a motricidade das comunidades de trabalhadores do CFB (Caminho de Ferro de Benguela), do Lobito (Benguela, litoral centro) ao Luau (Moxico, extremo leste e de predominância Lunda Cokwe); (b) o êxodo para as cidades e/ou zonas mais seguras durante as três décadas de guerra civil, onde poderá contar o facto de a UNITA (rebelião armada) ter imposto o Umbundu como símbolo de afirmação patriótica nas zonas sob seu domínio.

No contexto das comunidades rurais que abordamos, a maioria das mulheres dedicava-se ao cultivo e lida doméstica, salvo poucas com formação básica para o professorado ou enfermagem. O mesmo se aplica aos homens, no cultivo e caça, excepto uns poucos na função pública, com ofício, ou então para-militares. Njali-A era esposa de motorista hospitalar e Njali-B de funcionário administrativo. Seus maridos eram de concentrar as várias esposas num mesmo espaço, chamemos-lhe de quintal, e com isso uma convivência intensa entre as “irmãs” rivais. Até aos dias de hoje, há quem o pratique nos centros urbanos, o que é culturalmente normal, mas nem por isso fácil de gerir.

Em sociedades de pendor “machista”, a participação da mulher na tomada de decisões é aparentemente nula, pois, como se sabe, este ser secundário tem subtilezas para vincar posição. Falaríamos por exemplo da influência que as mulheres vêm tendo sobre os mais diversos carrascos. Njali-A adoptou um cão, a quem atribuiu o nome de “Notole”. Njali-B intitulou o seu cão “Cohinla”.A palavra é ícone para um provérbio, o que seria pleonasmo referir, já que é sobre o adágio que assentam os nomes dos Bantu.

“Notole, ndikasi vesaila; nate ciwa, ndikasi lo kimbo lyetu” – choca-me bem, sou pinto dentro do ovo; trata-me bem, que faço falta à terra de onde venho.“Cohinla mange calwa” – é muito o que se esconde no silêncio de mulher madura. Na força do provérbio, as mulheres apresentam um protesto passivo-agressivo aos maridos e demais elementos da poligamia, e ao mesmo tempo uma denúncia à comunidade sobre o que as intriga, ao longo dos 10 anos de vida de um cão, o guarda de casa. Ainda da comuna do Monte-Belo vem outro exemplo: “Kanjila” foi a alcunha que certo homem chamou para si.“Kanjila komange kakwete apa katekula, kasumbiwa”. Por mais insignificante que possa parecer, o passarinho-mãe tem um ninho a sustentar e exercer autoridade.

Podemos considerar que a atribuição de nomes proverbiais a animais como forma de protesto é prática antiga entre os Ovimbundu e provavelmente de outros povos Bantu, dada a semelhança entre Njali-A e Njali-B, que vivem em épocas e lugares distantes. Não parece, por outro lado, que seja ao acaso também que um homem adoptou a alcunha para reclamar respeito.

Gociante Patissa, Benguela, Outubro 2011

Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa 2015

Vídeo | Lançamento do livro A Última Ouvinte by Gociante Patissa, 2010

Akombe vatunyula tunde 26-01-2009, twapandula calwa!

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