sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

"Vakembakemba kasevi; uvindi eteke limwe wiya usukila vali." - Se for para enganar, então engana o fazedor de circuncisão; é que de quem trança os cabelos você voltará a precisar)

   1.      NOTA PRÉVIA

Você já ouviu e expressão «no tempo do Caprandanda?» É provável que sim, apesar do seu erro crónico. O correcto seria grafar Kapalandanda, pois não temos «R» na língua Umbundu, ao passo que o «C» é pronunciado [t∫i], e como tal diferente de «K».

Como veremos mais adiante, a história de Angola pode estar a cometer uma injustiça por omissão, relativamente ao papel heróico da figura do sul que atende pelo nome de Kapalandanda. A dúvida académica que fica é: que critérios foram usados para enaltecer Mandume, Lueji, Njinga, Ekwikwi e entretanto nada se dizer oficialmente de Kapalandanda? É que para além de ser personagem de um tema de evocação no cancioneiro Umbundu, de si muito explorado até 1991 enquanto trilha sonora pela Vorgan [Voz da Resistência do Galo Negro], rádio da Unita [então forças rebeldes na guerrilha], pouco ou nada da figura de Kapalandanda se passava de geração em geração.

A minha adolescência foi marcada por um quadro complexo no Lobito, onde a residência se confundia com dependências das administrações comunais da Equimina e Kalahanga (não ao mesmo tempo). Como a circulação de pessoas e bens era mediante guias de marcha, “trabalhei” como dactilógrafo do meu pai, na sua condição de Comissário e/ou Administrador Comunal, mas sobretudo como pombo-correio da correspondência familiar entre Lobito, Catumbela e Benguela, na maioria destes casos até… a pé.

A exposição à propaganda despertou cedo o meu interesse de observador da política (talvez se deva a isso o facto de me ser hoje inócua). Evidentemente, havia parentes que (às escondidas) não alinhavam com o Mpla. Estamos a falar entre 1988 e 1991. Calhava encontrar este ou aquele a ouvir a Vorgan, com o volume baixinho. A trilha sonora dizia: «Kapalandanda walila / walilila ofeka yaye/ kapalandanda walila /eh/ walilila ofeka yaye»  (Kapalandanda chorou / chorou pela sua Terra/ Kapalandanda chorou / oh/ chorou pela sua Terra). Mas quem foi ele e chorou porquê? GP

2.      AGORA O PERFIL DE KAPALANDANDA E SUAS FAÇANHAS:

Reproduzimos a seguir, com pequena adaptação do blog www.ombembwa.blogspot.com, o valioso contributo de Carlos Duarte, publicado no «Jornal o Chá», da Chá de Caxinde, Nº 10 - 2ª série, Luanda, Abril/Maio 2014:

«Kapalandanda era sobrinho do Soba Kulembe, da Catumbela. Ia ser Soba. Agiu de 1874-1886. Adolescente, ganhou fama por ter morto sozinho um leopardo que andava a comer as cabras (…) Ainda jovem, inconformado com a passagem e estadia de caravanas de (…) comércio, levando panos e sal para o Huambo – Bailundos – e trazendo borracha, cera, mel e marfim – sem pagamento, pediu uma audiência ao Soba, seu tio, e aos sekulus, onde tentou convencê-los a que fosse cobrada uma taxa – «Onepa» - a essas caravanas. O Soba, acomodado e com medo da reação dos colonos, não concordou. Kapalandanda então reuniu um grupo de guerreiros e foi para o mato, armar emboscadas e assaltar as caravanas, cujo produto, confiscado, era em parte distribuído pelos kimbos do sobado.

Quando os colonizadores tomaram conhecimento, foram falar com o Soba para que tomasse providências e acabasse com essa resistência. O Soba reuniu os melhores guerreiros e ordenou-lhes que fossem pegar Kapalandanda. Mas o resultado foi o contrário do previsto. O grupo de Kapalandanda dominou e derrotou fácil os guerreiros de Kulembe. Os colonizadores resolveram então fornecer armas de fogo o Kulembe, acreditando que, com essa vantagem, acabariam com o grupo guerrilheiro.

Mas Kapalandanda, agindo como um Robin Hood angolano, tinha já granjeado a simpatia de grande parte dos kimbos do sobado; então, emissários dos kimbos saíam para avisá-lo da movimentação das forças de Kulembe, o que lhe deu condições de espera-las para o confronto, em local que lhe era propício, anulando assim a vantagem das armas de fogo.

Uma vez mais a tropa de Kulembe foi derrotada, e Kapalandanda ficou melhor armado. Os colonizadores resolveram então enviar uma companhia de tropa portuguesa, comandada por um capitão de nome Almeida, para submeter Kapalandanda. O encontro deu-se no Sopé do Passe. O grupo de Kapalandanda saiu derrotado e ele levado preso, primeiro para o Forte da Catumbela, e depois para S. Tomé.»

Ao ler este relato de Duarte, evidente se torna que a história de Kapalandanda merecia ser mais divulgada, o que representaria um importante precedente pelo levantamento de mais bravos filhos que deram a vida para chegarmos a Angola independente.
Gociante Patissa, Benguela, 24.12.15

terça-feira, 22 de dezembro de 2015


domingo, 20 de dezembro de 2015


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Durante três meses, fizemos o trajecto Lobito-Benguela de autocarros públicos, o colega Antonio Firmino Antonio e eu, frequentando o curso básico de jornalismo (Rádio, TV, Imprensa) ali na Biblioteca do Instituto Camões em Benguela, ao lado do IMNE, na Kambanda, no ano de 2005. No dia do encerramento, entrevistaste-me logo a seguir à entrega de certificados. Estávamos felizes, tu mais ainda, pois tinhas o encaminhamento melhor definido, ou não acabasses de receber o convite para ingressar como colaborador na Rádio Lobito, editoria de Língua Umbundu, equipa que tinha, entre outros, nomes célebres como os mais-velhos Joaquim Viola, Evaristo Kakulete, Emiliana Nasoma. Os demais colegas (entre os quais eu e outros com afinidade à inoperante Rádio Ecclesia) ficaram com a esperança de concorrer a eventual vaga na Direcção Provincial da Comunicação Social, talvez fruto de alguma má interpretação no calor do discurso do seu titular. Era só isso. Obrigado.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

1. Apanhando boleia de uma publicação no mural de Reginaldo Silva, que citava de memória uma passagem captada de uma rádio, considerando que "o crioulo das Antilhas é um francês mal falado, tal como o de Cabo-Verde será um português todo à toa.", o que ele vê como deselegância...
2. Não deixa de representar mais um ponto de reflexão para os desleixos crónicos que temos enquanto sociedade angolana a lidar com o dossier das identidades (olhando mais atentamente para as idiossincrasias dos grupos étnicos que compõem a grande identidade do projecto de nação), pelo seguinte: Cabo-Verde, Guiné Bissau, entre outros, dão valor ao seu crioulo, pejorativamente visto como corrupção com base na língua portuguesa,
3. Já nós, que até temos línguas só mesmo nossas, como o Kimbundu e Umbundu, sem falar das línguas fronteiriças, assobiamos para o lado, perpetuando a secundarização daquilo que é nosso património. Não admiraria, pois, que num futuro breve tenhamos de priorizar o Mandarim, a língua dos nossos "irmãos" chineses, com cursos de licenciatura em Linguística deste idioma oriental.
GP, Benguela, 15.12.15

domingo, 13 de dezembro de 2015


terça-feira, 8 de dezembro de 2015


I - UMBUNDU
"Sesa, kocitali!"
"Oco! Vaiñinle."
"Nangau, a sekulu."
"Kuku!"
"Tweya, a sekulu, ame lukwetu. Uhayele wusupoka. Cakwavo ovopange lika. Ovipala vyetu tusima tuti vilinga ndayu ka vyasyatele. Tuvakwaseketa yolusu. Tupita njo la njo okutala ndamupi ovina vyenda."
"Cayevala. Etu vo, handi mba, tuñwãlãñwãlã. Lokepya ka twaindele, owesi waco wetimba lyositu."
"A sekulu, 'olofactura vyovyo?"
"Olofactura? Vya nye?"
"Vyokufeta mwenle olusu..."
"Mba ka pali."
"Tê okufeta owola yilo mwenle..."
"Oyeveti nye?! Ame ame ndifeta olusu vofeka yange? Etu twayaka, twapunyolohã, okulupuka la cikolonya kaputu, hã... toke opo cikolonya watusumba... kaliye, okuti twakuka, ove oyeveti 'tê tufeta olusu'?!"
"Oco pwãi tuyiteta. Oñoma eyi, etu ha tu ko tutukula; tukwãi mo ño vokupiluka."
"Oco pwãi eci twayakela cipi?"


II - PORTUGUÊS
"Dá licença no quintal!"
"Sim!"
"Bom dia, mais-velho."
"Obrigado!"
"Estamos cá, mais-velho, o meu colega e eu. Saúde temos em abundância. O resto é mesmo só o tal trabalho. Creio que os nossos rostos não vos soam familiares. Somos do sector da Energia. Estamos a passar de casa em casa a ver como vão as coisas."
"Entendi. Por cá também, por acaso, há saúde para dar e vender. Se não fomos à lavra, na verdade não passa de preguiça própria de um corpo humano."
"Mais-velho, tem aí as facturas?"
"Facturas? De quê?"
"Do consumo de energia mesmo..."
"Por acaso, não."
"Terá de pagar neste momento."
"Disseste o quê?! Eu é que vou pagar pela energia no meu país? Nós que lutamos, o corpo cheio de mazelas, para correr com o colono, hã... até aqui o colono não esquece o peso da nossa força... hoje, que estamos velhos, tu me vens falar em pagar pela luz?!"
"Neste caso, vamos fazer o corte. É um tipo de farra em que não colocamos nós mesmos a música; só dançamos conforme nos orientam."
"Neste caso, por que causas lutamos?"
GP, Katombela, 07.12.15

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015


domingo, 6 de dezembro de 2015


segunda-feira, 30 de novembro de 2015


sábado, 28 de novembro de 2015



Umb: Usandambembwa wokaliye

Port: Nova Pedagogia da Paz 

Eng: New Peacekeeping Approach 

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

"Dá licença, comadre?"
"Entra, compadre."
"Esse almoço sai ou não sai?"
"Falta pouco. Pode sentar, compadre, vou só passar uma toalha no rosto. Esta cozinha aquece como!" (risos)
"Estou em casa, querida comadre, não se preocupe. O outro está?" 
"O compadre tem pouca sorte. Ele esta semana não vem almoçar, está apertado no serviço."
"É verdade. O trabalho quando aperta, é mesmo a pão e gasosa..."
"Vai um copo de 'cisangwa', compadre?"
"A comadre sabe que não sei negar a vossa 'cisangwa' caseira."
"O teu compadre é que não gosta muito, prefere o vinho dele..." 
"É um pecado, comadre, ter tudo e não ver."
"Mba falaste mesmo. Haka! Veio falar com ele?"
"Sim. Quer dizer... não. Até não sei como começar..."
"É assim tão difícil falar comigo, compadre?"
"... Eu às vezes penso muito. A comadre tem essa forma de me tratar bem que, lá em casa, com a outra, a pessoa... quer dizer, não encontra. A maneira como a comadre faz as coisas. Como está sempre perfumada, o sorriso. Comadre, vai-me desculpar, mas sinto que há uma linda história de amor entre nós que nos falta viver..."
"Eu com o compadre, o compadre comigo, não é?"
"A comadre sabe como é, essas coisas do destino..."
"Oh, meu compadre, não te preocupes. Assim que o teu compadre chegar do serviço, vou-lhe pedir autorização. Se ele aceitar..."
"Comadre! Não me estraga a longa amizade! O que é que ele vai pensar?! Já vi que a comadre me entendeu muito mal..."
"Ah, já vai? Não disse que tinha pressa. E o almoço, compadre, fica como? A resposta é na minha boca ou na do outro?"
GP, Benguela, 25.11.2015 (adaptação)

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

"Okulinga eti 'wapondela esunga', momo ka kupondelile wove" - dizer que teve razão em matar é porque não matou um ente querido de quem o diz.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

"O senhor prefere fazer o pagamento em multicaixa ou cash?"
"Hã?"
"Se o pagamento é em cash ou multicaixa..."
"Não entendi."
"Vai usar cartão ou vai pagar em dinheiro à mão?"
"Dinheiro à mão. Ai, cash, assim, é inglês?"
"Sim."
"Mas, então, porque é que estás a falar comigo inglês, se somos todos angolanos?"
"É o termo próprio."
"É o termo que vocês usam aqui?"
"Não só aqui, mas em todo o lado. Cash mesmo é dinheiro à mão."
"Mas, espera aí, isso tens que usar com quem estudou contabilidade, porque é linguagem técnica. Eu não estudei isso."
"Ai, é? (risos)"
"Não ri".

GP, Lobito, Nov. 2014

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Conduzida por Kénia Sandão e gravada na quarta-feira, 06 de Agosto, a entrevista foi ao ar no domingo, 10 de Agosto de 2014. A conversa gravitou em torno da vivência e produção literária do escritor angolano Gociante Patissa, residente em Benguela. Perdeu-se alguma qualidade na imagem, mas o som compensa

PS: Utilidade pública
Recebido o alerta quanto a ter sido removido o vídeo oficial da entrevista biográfica que o escritor Gociante Patissa concedeu em 2014 ao programa Fair Play, da TV Zimbo, conduzido por Kenia Sandão, e porque a nossa equipa entende que o conteúdo se mantém actual, estamos a cuidar de usar os meios ao nosso alcance para obter uma cópia do referido vídeo e consequentemente carregá-lo no Youtube, tão breve quanto possível, desta vez por nossa conta e risco. Gratos pela compreensão.

"Meu kota! Kota Kupatisa! O kota não está a me reconhecer, né?"
"Desculpa. Tu és..."
"O fulano! Meu kota, deixa só parar bem a mota para dar um abraço no kota Kupatisa... Grande kota..."
"Pois, és o fulano, sim. Mas já vai muito tempo que não nos vemos."
"Eu estava a cumprir. Recebi soltura só há dois meses e tal. Mas sempre que via o kota Kupatisa na televisão, lá mesmo na pení [penitenciária], os meus colegas não acreditavam. Eu lhes falava mesmo 'éste é meu kota lá da banda!'.
"Obrigado pela consideração."
"Nós estamos a acompanhar a carreira do kota. Primeiro mesmo foi naquele teu livro, A ÚLTIMA PESSOA A FALAR!"
"A Última Ouvinte?"
"É mesmo esse. Eu até lhes falava que o kota também já bumbou assim na rádio."
"Quer dizer, indirectamente, fiz programa de uma outra entidade através da Rádio Morena..."
"Vi na televisão o lançamento, aquilo é um grande livro, kota Kupatisa, A ÚLTIMA A FALAR!!! Continua mesmo assim, meu kota. E onde é que estão a vender?"
"Ah, ainda não tiveste contacto com o livro?"

"A cunhada ouviu o mesmo que eu ouvi?"
"Até estou a tremer de medo!"
"Isso não pode ficar em branco, cunhada, só se eu não me chamo eu."
"A mim já não faltavam desconfianças. Mas hoje, finalmente, o malandro confessou..."
"Mas ele não tinha mais outro caminho para passar?"
"Eu só me questiono: cumprimentou só porquê?!"
"Aquilo lá um dia foi cumprimentar?!"
"Nesse ano [1984] de tanto acontecimento, o pai Bernardo com a perna partida, a minha filha com pássaro [convulsões], eu com tala [gangrena de origem não identificada], a unita [então movimento de guerrilha] a prometer novo ataque, vem logo ele..."
"Dizer 'mbwatale, nãwã yange, etali ndasanjuka' [boa tarde, minha cunhada, hoje estou contente]?"
"Esse homem é feiticeiro! Antes que aconteça outro azar, o soba tem que julgar. Uma pessoa de bem, com tudo o que estamos a ver na comuna, com a lua inclusive a surgir envolta em nuvens de sangue, o frio a queimar as plantas, o homem vai dizer que tem tempo de estar contente?"

GP, Benguela, 19.11.15

domingo, 22 de novembro de 2015

“Mas vocês não ouvem?! Anda, vão ver quem está a bater ao portão, pá!”
“Ó papá, é um tio quem tem lata de leite na mão.”
“Lata de leite?”
“Parece que é mestre, a lata está um pouco suja, tem tinta.”
“Dá licença, mano. Até já entrei. Não tem cão?”
“Sim, faz favor. Eu tenho azar, cão dos outros é guarda; o meu mais é que recebe visitas.” 
“Assim as bruxas já lhe partiram a voz. Haka! Boa tarde, ainda.”
“Boa tarde. Está aqui o assento.”
“Obrigado. Ainda um copo de água?"
"Copo de água aqui para a visita!"
"Ah! A garganta quase a encravar! Mas estamos bem, é mesmo só a tal vida. Ainda pensamos andar pelos bairros, ver se encontramos trabalho. Somente.”
“Nós, também, é mesmo assim: dia bom, dia mau. O resto dos problemas… pronto… têm a nossa altura, podemos com eles.”
“Vimos que o mano tem uma casa, – sim, senhor! – até que uma pintura mesmo caía bem.”
“Pois. O problema costuma mesmo ser a escolha do caminho, se vamos para a tinta ou para a barriga. E é precisamente quanto?”
“Não te falo mentira. O mano costuma de vez em quando passear na cidade, não é?”
“Sim.”
“O mano, por exemplo, da Kaponte à zona comercial, não costuma ver que há lá umas casas bem pintadas, de frente e qualidade? Aquilo fui eu…”
“Espera aí! Você pensa que sou burro, não? Caramba! Então, um gajo que me aparece aqui com uma lata de leite vazia, dois pincéis no bolso, meio quilo de cal, vai mentir que pintou as casas de uma cidade toda, pá?”

GP, Katombela, 18.11.2015

sábado, 21 de novembro de 2015

É pensamento de quê então, a pessoa cumprimenta trinta vezes sem resposta?”
“Vai-me desculpar, minha prima. É nessa vida mesmo...”
“É preciso calma. Pensar só normal. Pensar muito é perigoso.”
“É perigoso, não é?”
“Eu tenho um cunhado que, nisso mesmo de pensar muito, chegou um dia, caiu. Coração lhe matou com pensar muito.”
“Estou a ver. Mas essa crise, prima, isso está duro!”
“Crise mais de como?”
“Dinheiro não aparece, tudo que é preço subiu, obra não anda…”
“Nós mba no kanegócio, como já nunca esperamos ganhar lá muito, não tem quase nada que mudou. Um bocado de lucro mesmo assim, no prato, as crianças e o tal pai dormem sono.”
“Um gajo até já não está a ver mais qual ideia para chegar no dinheiro.”
“Não? Ó primo, investe num cabrito!”
“Investir num cabrito? E depois?”
“Depois, você lhe amarra ao lado do banco. Cabrito come onde for amarrado. O primo afinal não sabia?…”

GP, Benguela, 15.11.15

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

“Bom dia, vizinho Notícia.”
“Bom dia, vizinho. Como é lá em casa?”
“Bem, mas, ainda, passamos. Somente.”
“Aqui, também, de queixar não temos. Saúde ainda há.”
“Queria só um remendo aqui entre as pernas.”
“É da bicicleta, não é?”
“Trabalho-casa-trabalho. Pedalar, pedalar. As nossas calças só rasgam só no meio das pernas.”
“É só deixar. Passa daqui a duas horas.”
“Duas horas tudo, para remendo pequeno?”
“Mas o mano quer como afinal?”
“Está bem. É quanto é?”
“Só depois do trabalho. O mano é de casa.”
“Mas esse valor dá para uma calça nova!”
“Como?”
“Não tenho tudo isso, acho que vou pagar em prestações.”
“Ah, mas o problema é que tenho uma viagem. Vou resolver um assunto ao Dombe-Grande, não sei se conhece…”
“Ah, olha só…! Desculpa, mestre Notícia, afinal tinha aqui no bolso o dinheiro. Mba o esquecimento…”

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

"Eu admiro aquele doutor, meu. É barra! E tem coragem científica também."
"Coragem científica?"
"Ya, o homem está sempre um passo à frente com qualquer ideia, mesmo a dele próprio. Mesmo até tem sempre um choque novo com alguém."
"Como assim?"
"Por exemplo: numa aula dupla, aquilo que ele te ensinou nos primeiros 45 minutos já não vale na segunda metade; assim já tem uma ideia diferente. se é na prova, te espeta negativa. Tudo pela ciência!"

"Hã...?!"

"Esse madiê será que agora dorme na geleira ou quê? Possas, pá, um gajo alegre, brincalhão, ficou assim?! Nem parece ele! Quer dizer, chega no meio dos outros, tão distante assim, todo frio, tipo que está doente?"
"Desde que foi nomeado. Ele agora é chefe."
"Se só ele já é assim, o que está acima se comporta mais como?"
"É lixado. Cargos matam pessoa mesmo, ya?!"

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Foto: Nana Almeida
Acabam de chegar a Luanda, vindos do Brasil onde foi feita a impressão, os mil exemplares que conformam a primeira edição de «O Apito Que Não Se Ouviu», sexto livro da safra de Gociante Patissa e o primeiro no género crónica. Como de costume, a província de Benguela, onde o autor reside, acolherá a primeira cerimónia de lançamento, cuja data será anunciada brevemente pela União dos Escritores Angolanos, na condição de editora.

Com 100 páginas, a obra reúne, na óptica de Gociante Patissa, os melhores textos do seu blogue www.angodebates.blogspot.com, visando desta forma assinalar o oitavo aniversário de uma produção apaixonada nesta plataforma alternativa, no período compreendido entre 2006-2014, onde o literário, o jornalístico e o activismo cidadão se entrelaçam constantemente. No plano temático, as crónicas estão repartidas em três capítulos, nomeadamente VIAGENS (oito textos), POR DENTRO DA NOSSA GENTE (20 textos) e NA VIA (nove textos).

A crónica que dá título ao livro, «O Apito Que Não Se Ouviu», é uma homenagem a um amigo de adolescência e vizinho, no bairro Santa Cruz, Lobito, o Kalú, que perdeu a vida no exercício da sua actividade policial.
| FRAGMENTOS DO HISTORIAL |
Surgiu com o endereço www.angodebates.blogspot.com o blog «Angola Debates & ideias», em Agosto de 2006, denominação influenciada por um programa radiofónico semanal de mesa-redonda e debates sobre o exercício da cidadania e a saúde pública, que o autor realizava e conduzia através da Rádio Morena Comercial sob iniciativa da AJS, organização da sociedade civil angolana com sede no Lobito.

Inicialmente dedicado ao resumo e pinceladas aos assuntos debatidos, o blog, sem deixar de ser generalista, não tardou a encontrar a sua linha de marca. Tinha falado mais alto o bicho de «cronicar». Os textos acabavam publicados também na secção de escrita criativa do «Boletim A Voz do Olho», de produção quase artesanal e distribuição incipiente, igualmente projecto informativo, educativo e cultural mensal da AJS, do qual foi o Coordenador Editorial (...)

Na imprensa convencional, algumas crónicas foram retomadas pelo Semanário Angolense, Jornal Cultura, bem como pela Revista Tranquilidade, do Comando Geral da Polícia Nacional, com a qual o autor teve uma curta colaboração.

| Outros livros de Patissa |

— CONSULADO DO VAZIO (poesia), KAT - Consultoria e empreendimentos. Benguela, Angola, 2008.
— A ÚLTIMA OUVINTE (contos), União dos Escritores Angolanos. Luanda, Angola, 2010.
— NÃO TEM PERNAS O TEMPO (novela), União dos Escritores angolanos. Luanda, Angola, 2013.
— GUARDANAPO DE PAPEL (poesia), NósSomos. Luanda, Angola / VN Cerveira, Portugal, 2014.
— FÁTUSSENGÓLA, O HOMEM DO RÁDIO QUE ESPALHAVA DÚVIDAS (contos). GRECIMA. Programa Ler Angola. Luanda, Angola, 2014.

| Inclusão em antologias |

— III ANTOLOGIA DE POETAS LUSÓFONOS. Folheto Edições, Leiria, Portugal, 2010.
— CONVERSAS DE HOMENS NO CONTO ANGOLANO – Breve Antologia (1980-2010). União dos Escritores Angolanos, Luanda, Angola, 2011.
— BALADA DOS HOMENS QUE SONHAM – Breve Antologia do Conto Angolano (1980-2010). Clube do Autor, Lisboa, Portugal, 2012.
maior resolução
— DI VERSOS – POESIA E TRADUÇÃO, N.º 18. Edições Sempre-em-pé. Maia, Portugal, Fevereiro, 2013.
— A ARQUEOLOGIA DA PALAVRA E A ANATOMIA DA LÍNGUA – ANTOLOGIA POÉTICA. Movimento Literário Kuphaluxa. Maputo, Moçambique, 2013.
— DI VERSOS – Poesia e Tradução, N.º 22. Edições Sempre-em-pé. Maia, Portugal, Fevereiro, 2015.
— 800 ANOS/O FUTURO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Bela e o Monstro, parceria entre o jornal PÚBLICO e o «Movimento-2014». Lisboa, Junho de 2014.

| Distinções |

— Membro Efectivo da União dos Escritores Angolanos.
— Laureado do Prémio Provincial de Cultura e Artes 2012, categoria de Investigação em Ciências Sociais e Humanas, outorgado pela Direcção de Benguela da Cultura, pelo contributo na divulgação da língua e cultura Umbundu através do conto e novas Tecnologias de Informação e Comunicação.

— Vencedor do “FESTIVAL DE ARTES” da Sonangol EP 2014, categoria de poema.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Oratura: "WAPYA KA MWINÃ-MWINÃ NDEKAPA" (adágio Umbundu)

TRADUÇÃO LITERAL: Quem está errado não precisa de estar mole como uma batata-doce.

ENQUADRAMENTO: A compreensão deste provérbio passa primeiro por esclarecer a polissemia do verbo "okupya", que em Umbundu pode significar (a) amadurecer; (b) queimar; (c) cozer) e (d) estar errado. Neste caso, para fazer sentido, teremos que usar as imagens em (d) - para a condição de erro humano - e (c) - para a condição de batata-doce fervida, onde a mensagem reside nesta metáfora: Nem sempre precisamos de espremer para aferir que alguém está errado. Ou seja, no caso de uma batata é mais fácil notar quando está bem cozida, porque fica mole, ao passo que o ser humano tem dificuldade em expressar em por palavras o reconhecimento do seu erro, pelo que às vezes é preciso ficar-se pela inferência.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

"Pali owangu, ka pali olongombe" (provérbio Umbundu) - Onde há erva, não há bois

Enquadramento: Geralmente as coisas calham nas mãos de quem menos as valoriza. O adágio é frequentemente utilizado para descrever a título de exemplo casos de pessoas com elevando sentido maternal/paternal mas que, infelizmente, não conseguem procriar, quando vários outros bons exemplos de maus mães/pais até têm o forno de fazer filhos afinado no modo rajada.

"Vepya ndaño mwafa ndati, ka musuki pakisi" (provérbio Umbundu)Em uma lavra, por mais desgraçada que tenha sido a safra, não falta um último recurso para o sustento.

Onjila kimbo/ Caminhos rurais / Countryside roads

quinta-feira, 3 de setembro de 2015


POR: «Olondindi» é um tipo de sandálias comum no sul de Angola, manufacturadas a partir da borracha do pneu de carros.


ENG: «Olondindi» is a southern Angola popular type of sandals, manufactured out of car tire rubber.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

UMBUNDU:
"Kuli evihõ limwe lyañilã volonembele / a manjange tê okulomba / okuti ohwasi / ndaño oco yalweya / lomwe oyipopisa / masi ohukwim / nda oyo yalweya/ aco yitumãlã posi. / wasumuluhã yu ekandu lyaye lyayevala / voluka ati kahonga / wasumuluhã yu ekandu lyaye lyayevala / voluka ati ocilyangu / olinga usumba yu olinga upange/ masi kahonga/ olinga usumba yu olinga upange/ masi ocilyangu"

PORTUGUÊS (tentativa de tradução minha)
"Há um mal que invadiu as igrejas / há que orar, ó meu irmão / é que o rico / por mais que viole mandamentos/ ninguém lhe diz nada / mas se quem viola for pobre / é logo suspenso / Bem-aventurado aquele cujo pecado for revelado / ainda que o rotulem de promíscuo/ Bem-aventurado é aquele cujo pecado for revelado/ ainda que o rotulem de bruxo / perigoso é quem faz o trabalho da igreja mas é promíscuo/ perigoso é quem faz o trabalho da igreja mas é bruxo".


Gociante Patissa, 31.08.15

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Foi com enorme ovação que o público reagiu à novidade na noite de sábado (21/08), durante um desfile de moda na cidade do Huambo, testemunhado pelo Blog Angodebates. Edna Mateia animou a noite com dois temas promocionais, o “para ti, mulher”, cantado na língua portuguesa, e "kafeko" (que significa mocinha na língua Umbundu)

Por seu lado, o mestre de cerimónia, Otenásio Matias, como quem tem acesso privilegiado aos bastidores, sublinhou que o disco de estreia da Edna está para breve, muito breve, sem no entanto adiantar datas nem títulos.

Vencedora do Festival de Música Popular “Variante 2014”, concurso anual realizado pelo Ministério da Cultura, Edna Mateia é uma cantora residente na cidade do Huambo, província com o mesmo nome, onde é já uma referência obrigatória desde que em 2005 venceu o concurso provincial de "Melhor voz feminina" da região do planalto central. No seu repertório bilingue predominam os estilos semba, kilapanga e kizomba.

Na sua passagem pelo programa Janela Aberta, da Televisão Pública de Angola, emitido de Luanda a 15 de Janeiro de 2015, a jovem cantora disse: "Eu costumo dizer os cantores de outras províncias, porque, às vezes, parece que só geograficamente é que somos 18 províncias, mas não. É preciso lembrar que culturalmente também somos 18 províncias. Então, por vezes corremos o risco de termos vários anos de carreira e, quando chegamos a Luanda, sermos considerados ainda "novos talentos"

Edna Mateia despontou no coral infantil da Igreja Evangélica Congregacional em Angola (IECA) do Bailundo, município situado a norte da capital provincial do Huambo, aproximadamente 75 quilómetros.

Gociante Patissa, Huambo, 23/08/15

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segunda-feira, 24 de agosto de 2015


quinta-feira, 20 de agosto de 2015


O verbo vem do tão simples Lingala - língua falada na RDC. Forçar a coisa é passar por parvos, mais do que os usuários dos mesmos produtos. Como bom falante da Língua - no caso Lingala - irei pôr aqui os pontos nos iis.

Primeiro: A origem etimológica dessa expressão vem dos bairros que aos inícios dos anos 90 vinham populando Luanda. Bairros como Mabor, Petrangol e Palanca(o reino). Verdade seja dita, muitos dos falantes de Lingala eram angolanos regressados depois do aparente calar das armas e o período das eleições de 92.



Tornando a nós, o verbo em Lingala é Ko Pakola/Pakula (com base na origem do falante, que venha este de Kinshasa ou de outras províncias diferentes da capital) que significar PINTAR, detergir - ou um forçoso ungir. Exemplo: pode-se dizer "Ko Pakola ndaku" que está a significar "Pintar a casa"; "Ko pakola mafuta" que significa "Ungir-se de Oléo"/"Deterger-se de creme".

Este verbo tem um diminutivo que o leva, ao invés do correcto Ko Pakola, a ser simplesmente "Pakola". Onde vimos gente dizer: "Pakola/Pakula Mafuta" querendo dizer "Deterge-te de creme".

Com o passar do tempo o verbo tomou o significado comum com a qual nos debatemos hoje, isto è, "Clarear-se a Pele". Então ao longo dos anos vimos uma flota de gerações de mamãs - ditas Soeur ya Pùa - e jovens fazerem o uso da mesma.

Segundo: O sabão MEKAKO|| Este último tem um nome que superou muitos níveis de marketing com que estamos habituados. Com um nome convidativo que estaria ao nosso: "Experimenta Sò!" ou "Experimenta p'ra ver!" ou "Prova só!" ou "E' só provar!" e por ultimo "Prova aì!"(ok, confesso este é brasileiro. Eles colocam o "aí" em todo lado). Tornando a nós. O MEKAKO era praticamente um desafio para quem duvidava. Você duvida? Experimenta para ver! Esta é o significado e a origem.


Só para dar mais uma informação inútil, mas que talvez ajudará em qualquer modo. O MEKAKO - actualmente - é uma marca Italiana. É produzida pela AquimpexSPA na cidade de Monza, vizinho a famosa província de Milão.
Tornemos, portanto, ao nosso problema.

Ocorre sublinhar aqui, por último, que quem pretende dizer - com um grau forçoso digno de um alpinista ou trepador de espelhos- que a origem da palavra é Ovimbundu talvez queira entrar na prática fácil de atacar estes últimos e atribuir-lhes a origem de todos "os nossos males".

No entanto, do que sabemos, Pakular foi simplesmente o modo como os detractores da prática chamavam a coisa. De um lado, por falta de um termo próprio para traduzir a mesma e por outro lado por mera ignorância.

E mais, Mekako vém do verbo KO MEKA que significa Experimentar, provar e tentar. MEKA significa Experimenta. Que com o sufixo KO(este com diversos significados que nos negamos de dar) o torna MEKA KO - sim, separado - e que por razòes de Marketing achou-se bem unir.

Chegou ao meu conhecimento que determinado compatriota nosso, em Luanda, ofereceu aos seus leitores uma origem etimológica de "pakulamento", termo usado para descrever a prática deliberada de clarear a pele, a "mulatização" para muitos, que volta à baila na sequência da adesão e publicitação que está a ganhar entre artistas (intelectuamente ocos e na sua maioria do piorio que o nosso mercado musical viu nascer), mas também entre líderes religiosos e políticos. Segundo a "notificação", o citado compatriota (de cuja competência/desempenho na língua Umbundu em princípio não fazemos ideia) defende que o calão "pakulamento" vem do Umbundu, do verbo "okupakula", que no seu dicionário mental significa "clarear". É possível que seja mas... até onde vai o nosso conhecimento, o verbo "okupakula", também ele polissémico e com presença na bíblia, tem dois sentidos, sendo um deles pestanejar e o outro delatar/trair. A sua aplicação mais universal tem que ver com a parábola de Judas que traiu Jesus, que em Umbundu é "Yuda wapakula Yesu". Eu, que por acaso tenho andando pelas mais recôditas aldeolas da então "nação ovimbundu" (Benguela, Huambo, Bié), não vi tais práticas de clarear a pele, o que implicaria a relevância de os falantes do Umbundu arranjarem um termo para tal. Já pela fronteira com os Congos é que se nota frequente o uso do que é vulgarmente conhecido como "mekako", cujo significado desconheço. Por exemplo, para quem passou a infância a assistir aos treinos da Académica do Lobito e com isso conviver com os atletas de futebol, os que "se pintavam" eram "langas" (termo depreciativo para os da RDC). A não ser que no tempo de Judas e Jesus já houvesse necessidade de clarear a pele para "cantar melhor", parece-nos a nós que uma afirmação no sentido de "okupakula" ser significado de "clarear", só pode ser um enquadramento etimológico algo forçado. No mínimo, a estabelecer uma analogia, esta seria no sentido moral, onde clarear a pele para adoptar padrões estéticos de beleza (biologicamente impossíveis) representa trair a origem e a identidade de que se é parte, tese que aliás é a base da repulsa do grande povo. Resumindo, até provas em contrário, os ovimbundu não usam o verbo "okupakula" para o "pakulamento", ou se calhar até usam, mas só no Facebook mesmo.
Gociante Patissa, Katombela 20.08.15

Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa 2015

Vídeo | Lançamento do livro A Última Ouvinte by Gociante Patissa, 2010

Akombe vatunyula tunde 26-01-2009, twapandula calwa!

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