segunda-feira, 26 de janeiro de 2015


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Olhando para a morfologia do termo, temos "O" (artigo) mais "luvale" (poligamia), parecendo o fonema estar mais próximo de bigamia, tendo em conta a raiz "val". Na língua Umbundu, o número dois é "vivali". O que se pode reter é que, ao contrário da estrutura na língua portuguesa, em Umbundu não há duas categorias, oluvale é genérico. 

Assim, quando ouvimos dizer que "ngandi okwele oluvale", a única certeza que temos na interpretação é que determinada pessoa tem mais de uma mulher. Caso a curiosidade se desperte, a pergunta seria: "oluvale wakãi vañami" (é poligamia de quantas esposas)? Não nos interessa a perspectiva moral da poligamia, que nos levaria ao velho conflito entre o direito costumeiro (bantu) e o direito positivo (ocidental). 

Por falar nisso, parece que os nossos juristas têm o grande desafio de acabar com a hipocrisia formal, não poucas vezes mediatizada em notas fúnebres: "o malogrado deixa uma viúva e X filhos", quando aos olhos de todo o mundo estão prostradas duas ou mais senhoras enlutadas e com lares devidamente legitimados pelo falecido, família e sociedade. 

A poligamia, independentemente das suas implicações sociais, sobretudo para a vertente de sobrevivência do agregado e/ou herdeiros, é culturalmente direito consagrado ao homem africano Bantu e até pré-Bantu, a exemplo dos Vatwa. No centro Urbano, a sua prática enfrenta também um travão de cariz moral religioso. 

Terminamos com a frase de um ancião, que reage ao pedido de um familiar no sentido de organizar a praxe de ir "legalizar" a sua segunda relação. 
"Etu oluvale ka tuwunyãle; pwãi ka tulombalomba luvali" (nós não somos contra a poligamia; mas não costumamos fazer alambamento por mais de uma vez).
Neste caso, como interpretar a posição do ancião? 

Ovilamo (cumprimentos), Gociante Patissa, kOmbaka, 22.01.15

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015


Os escritores Gociante Patissa e M’Bangula Katúmua partilham, ao menos, três coisas: são naturais de Benguela, nasceram no período pós-colonial e a existência de ambos decorreu em grande parte nos dias e anos tumultuosos da guerra de má memória. Os livros “Fátussengóla, o homem do rádio que espalhava dúvidas”, do primeiro, e “Humanus”, do segundo, aparecem juntos na colecção Novos Autores, editada pelo Grecima, a par de nove de outros tantos autores.

“Fátussengóla, o homem do rádio que espalhava dúvidas” é uma colectânea de 14 contos ambientados em localidades diversas da província de Benguela, do interior ao litoral, que resgatam da memória da infância e adolescência do autor toda uma galeria de personagens e situações marcantes, seja pelo lado do insólito ou dos afectos.

Gociante Patissa na verdade não é um autor de primeira viagem. Publicou em 2008 “Consulado do vazio”, poesia, em 2010 “A última ouvinte”, contos, em 2013 “Não tem pernas o tempo”, novela, e em 2014 “Guardanapo de papel”, poesia.

Trata-se de um autor empenhado em apurar a sua própria voz, notando-se na sua escrita a fuga à facilidade e o evitar dos trilhos há muito batidos. Atente-se ao modo de construção deste parágrafo do conto “Minha mãe é hortelã”, em que além das imagens profundamente originais o leitor pode à vontade inverter a ordem com que as frases se apresentam sem afectar, contudo, a coerência do discurso narrativo: “Ele, que não era de andar por aí a distribuir socos e pontapés, abraçou tal via. Era homem já quase feito, de caroço no mamilo e uma barba que não se lhe podia confundir com simples pêlos de calor do funji. Mesmo a catinga do sovaco dele anunciava os ingredientes prontos para dar bebés. Quem lhe provasse o sabor da surra já não voltava a gozar.”

Retenha-se esta outra preciosidade, a abertura do conto “No reino dos rascunhos”: “O velho estava velho, muito velho, logo doente. Para ser confirmado inerte, só lhe faltava parar o fôlego. Vendo bem, aquilo até podia ter outro nome, respirar é que não era.” Como não há bela sem senão, a escrita de Patissa às vezes denota um excessivo “cuidado” em conformar-se às normas, às regras estabelecidas do “bem falar português”, sacrificando a emergência daquilo que podia ser considerada a sua própria linguagem, escorada nos interstícios mais íntimos do seu substracto cultural benguelense. “Havia um cão no quintal em que em tempos fui morar…” in “A estrela que não voltei a ter”. “… só não tendo o dono do alheio sucedido graças ao gradeamento interior aplicado poucas semanas antes da investida”, in “Gestão de vazios”.

Patissa, note-se, neste mesmo livro demonstra um grande domínio da sócio-culturalidade umbundo, fazendo recurso a palavras e provérbios da região. Autor de imenso potencial criativo, Patissa tem o dom do olhar, da captação das singularidades aparentemente invisíveis e insuspeitas das situações e das personalidades.

O seu conto mais significativo é o que dá título ao livro: “Fátussengóla, o homem do rádio que espalhava dúvidas”. É uma narrativa digna de figurar na mais selecta das antologias de literatura angolana. É a biografia de uma personagem tão singular na ficção como na vida. (Aliás, “… a profissão de biografista independente faliu, como hoje vemos”). Fátussengóla, de nome verdadeiro Virgulino Kaendangongo, “que na língua umbundo significa eterno sofredor”, é um personagem da estirpe de um Mestre Tamoda de Uanhenga Xitu, com o qual partilha o estatuto de orador, as poses e o gosto pela mais gratuita verborreia. Fátussengóla ganha imediatamente a simpatia e a compaixão do leitor pela forma soberba como o autor o apresenta, seja descritivamente, seja pelo desdobrar dos diálogos. E o final da estória encerra tanta preciosidade como o tesouro que nele é revelado.

FOGO& RITMO - Agostinho Neto, 
MEU AMOR DA RUA ONZE - Aires de Almeida Santos,
DESEJOS DE AMINATA - Lopito Feijoo,
A CIGARRA DESCONTENTE - António Cardoso,
8:2= 23 - David Capelenguela,
GUARDANAPO DE PAPEL - Gociante Patissa,
CONTRAFÉ - Carlos Ferreira.
Pedidos para os emails etutanu@gmail.com ou monteiroferreira@hotmail.com

Também podem ser feitos para Rua Queiroz Ribeiro nºs 11/15 - 4920-289 Vila Nova de Cerveira ou pelo telefone 251795115.
Divulguem, por favor.

Miguel Gomes (Texto), José Alves(Fotos)Daniel Gociante Patissa nasceu na comuna do Monte-Belo, município do Bocoio, província de Benguela, em Dezembro de 1978. Tem licenciatura em Linguística, especialidade de Inglês, pelo Instituto Superior de Ciências da Educação da Universidade Katyavala Bwila (ex-Agostinho Neto).

É membro efectivo da União dos Escritores Angolanos. Foi o laureado do Prémio Provincial de Benguela de Cultura e Artes 2012, na categoria de Investigação em Ciências Sociais e Humanas, “pelo seu contributo na divulgação da língua local umbundu, na perspectiva das tradições orais, através do conto e novas tecnologias de informação e comunicação”.

Já editou cinco livros: Consulado do Vazio (poesia), A Última Ouvinte (contos), Não Tem Pernas o Tempo (novela),Guardanapo de Papel (poesia), e Fátussengóla, O Homem do Rádio que Espalhava Dúvidas (contos). Para além da actividade como escritor, Patissa é autor de dois blogues: Ombembwa Angola (http://ombembwa.blogspot.com/) e Angola, Debates e Ideias (http://angodebates.blogspot.com/).

Durante a conversa, Gociante Patissa analisou o estado da comunicação social em Benguela, falou sobre a importância das línguas angolanas e das dificuldades de afirmação num contexto dominado pelo português. E revoltou-se com a recente perda do k, y e w.

O Gociante Patissa tem um blogue, foi radialista, tem um percurso na comunicação social e também fora desse meio. Gosta de escrever. De que forma analisa a história do debate de ideias na sociedade angolana?
Não sei se a maturidade é isso, mas sinto que vai havendo um decréscimo em termos de espaço para discussão de ideias. No tempo de guerra havia mais. Falo isso com algum conhecimento porque tive dois programas de rádio, que promoviam debates. No tempo de guerra discutia-se um bocadinho mais, mesmo reconhecendo que por vezes se chegava ao excesso. Agora há a preocupação em ter um discurso comedido. Por aquilo que se vai ouvindo, porque também oiço a opinião dos outros, no sentido da pluralidade, os debates promovidos pela Tv Zimbo vão se destacando pela positiva. Mas o nível de discussão de ideias ainda não é o ideal. A minha grande preocupação é que caminhamos para um processo de exclusão na comunicação social.

Falta uma perspectiva abrangente do país e das pessoas?
Sim, e mesmo quando há debates na rádio só vai ligar para participar quem tem Kz 900 para comprar saldo. Não sei qual é a alternativa que devemos criar. Sou auto-didacta em termos de comunicação social. Há muitos autores que defendem que a rádio deve reflectir a vivência da comunidade. Não é que se defenda a banalidade. Não. Mas em termos de método deve ser assim.

Um pouco à imagem de um velho jargão: o jornalismo também serve para dar voz a quem não tem voz.
Naturalmente. Acho até que os canais de telenovelas só têm o impacto que têm porque uma boa camada da população não se sente representada nos programas oficiais.

Na sua opinião, revêem-se melhor nas historietas ficcionadas?
Não só, também precisam de se ocupar de alguma forma. As pessoas têm de alimentar o seu imaginário. E a novela faz isso. Tem de se fazer um trabalho mais profundo, respeitando o princípio de que a própria comunicação é uma arte.

Os bons escritores contam histórias ricas, falam sobre as pessoas, são humanos. Jornalismo não é só isso mas também precisa dessa perspectiva. Estamos a falhar nalguma coisa?
É possível. Depois há também a questão de não haver estudos de audiência. Os que existem são pequenos e mal divulgados. Também não há concorrência no sector da comunicação social, as linhas editoriais são fracas, às vezes dá a ideia que não faz diferença ter bons programas. Não sei bem o que podemos fazer mas é preciso chegar um bocadinho mais perto das pessoas. Não no sentido de apenas trazer, mas de colher também. Costumo sempre dizer que (e agora já temos números oficiais) vivem em Luanda 6,5 milhões de pessoas e, se calhar, num fim-de-semana não se vendem mais de 50 mil jornais nas bancas e nas ruas da cidade. São números mesmo muito baixos.

Que conclusão podemos tirar daqui? As pessoas não compram porque não se revêem no que é publicado?
É preciso recuar e entender a vertente antropológica. A população angolana é maioritariamente Bantu, com uma forte tradição oral. Os hábitos de leitura são ainda um desafio. Se já temos um povo que por essência tende a ler pouco, e se depois a história que se retrata é do outro, parece haver pouca proximidade afectiva. A comunicação social tanto é carrasco, como é a vítima também. É um círculo vicioso. Os jornais acabarão por ser os mais prejudicados em termos comerciais. Uma vez estava a falar com um livreiro, o senhor Grilo, que tem um espaço no Mercado de Benguela. Havia lá um livro, uma compilação de anedotas, e perguntei: “Então os nosso livros?”. “As vendas estão um bocadinho fracas”, respondeu. Voltei à carga: “E o livro de anedotas?” “Também está a apanhar poeira”. Julgo que a rádio é, actualmente, o meio mais potente, acessível e barato. Há várias razões que concorrem para essa importância. Devemos pensar melhor nas vantagens das emissões de rádio em línguas nacionais. No fundo isto está ligado à nossa história: a consolidação da caminhada, da independência e de nós próprios enquanto nação contou muito com a comunicação social, especialmente a rádio.

Como analisa a circulação e acesso à informação fora de Luanda?
O cenário parece ser mesmo muito pobre. As províncias estão praticamente excluídas deste processo porque apenas têm a internet e a voz oficial do Estado (TPAJornal de Angola eRádio Nacional e afins). Os cidadãos que vivem fora de Luanda não têm acesso à diversidade. É um quadro preocupante, tanto do ponto de vista do consumo da informação, como da sustentabilidade da profissão de jornalista. A história das profissões ligadas à intelectualidade tem de ser vista de dois galhos: os que existem e os que têm de existir. Ao nível da imprensa escrita, que é onde temos mais debilidades, a situação é complicada. Olhando para a realidade de Benguela, tivemos o Kessongo, do jornalista Ramiro Aleixo (actual director do semanário Agora), ou o Cruzeiro do Sul, do Ismael Mateus. Agora há apenas o intermitente Chela Press. Se olharmos para Benguela como segunda capital, é preocupante que, tirando as rádios, não se produza mais nenhuma informação local.

Voltamos ao velho problema: como se vai investir em algo que não tem retorno económico?
Pois, realmente não é fácil. Se calhar o Estado deveria pensar em subvencionar a comunicação social e reactivar o parque industrial ligado ao sector. Todo o papel é importado. Eu colaboro com o Jornal Cultura e, sem grande justificação, por vezes o número de páginas é reduzido. Será que é falta de papel? É preocupante. Houve agora um apoio ao sector da literatura mas se calhar também temos de pensar em medidas concretas para fomentar a produção de informação. A rádio e televisão têm outra dinâmica e enchem o coração das pessoas mas são sectores fechados à concorrência. A visão que existe é sempre a mesma. Isso cria uma sobrecarga noutros sectores do sociedade. Quando há concursos públicos de emprego apenas a educação e a saúde têm vagas massivas. E aquelas pessoas formadas em outras especialidades vão todas para o professorado tendo, ou não, vocação. Fazem falta mais rádios e eu sei que, pelo menos, duas pessoas de Benguela têm projectos de investimento nesse sentido. É preciso abrir o espaço público aos cidadãos. A rádio, em muitos países africanos, é quase uma instituição. É possível. No meio está a virtude. É sempre preciso encontrar este elemento de equilíbrio. Às vezes eu penso que há um pouco de receio dos excessos.

É um receio que ainda se mantém nas altas esferas políticas e militares do país?
Certezas não tenho, mas às vezes acho que quem vem de um quadro de guerra, como nós viemos, tendo um país como temos, com esta diversidade étnica, linguística, e ainda algumas mágoas por resolver, provavelmente esse receio pode passar pela cabeça de algumas pessoas – e eu penso até que é legítimo. Mas está visto que o quadro actual também não ajuda em nada. Mesmo até na perspectiva do exercício da cidadania. É preciso que surjam novos operadores e diversificar a programação das rádios e televisões. Não é saudável que o espectro continue como está. É mesmo importante trazer diferença para o debate público. É importante estarmos sempre preparados para o lugar do contraditório.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

"Eu costumo dizer os cantores de outras províncias, porque, às vezes, parece que só geograficamente é que somos 18 províncias, mas não, é preciso lembrar que culturalmente também somos 18 províncias. Então, por vezes corremos o risco de termos vários anos de carreira e, quando chegamos a Luanda, sermos considerados ainda "novos talentos" - (Edna Mateia, cantora residente no Huambo, em etrevista ao programa «Janela berta», TPA, Luanda, 15.01.15)

terça-feira, 13 de janeiro de 2015


“Otembo yaviluka, Soma Ndumba vowambatisa ewe; otala tala oloneke okuviluka”, olondaka evi onepa yocisungo cimwe cutunda syahunlu, ndo kukalela umwe soma londuko ya Ndumba, omo lyo kusilula kotembo ofeka yetu yakala peka lya cikolonya kaputu. Mbi kulima wa 1920, ko lonungaimbo volonyitiwe vyelimi lyumbundu.

Eci soma Ndumba a kala, pana okuti okanyunla ovaimbo vamwe, osyata ño lokulala ovokombe, enda po ño kamwe. Ndaño pamwe okuyi upãla wa 40 km, olala mwele lutanlo ovokombe.omo lya nye? Wakala hen ocilema? Sicitenla oku citambulula, ava vasapula ulandu owu ndeti vo ka vacitenla. Nda hacoko, mekonda lyo losanji votelekela vokulala ovokombe, ndomo casesamenla okutambulula asongwi (lo pokwenda, lo pokutyuka). Olosanji kavitendiwa vyapita komesa yeye (ucilete ale okuti osoma kayendaida ulika).

Haimolumwe, konepa yolosanji, ka tukaveli ño calwa soma Ndumba, omo okuti lolosipayo vo vitelekelwa olosanji nda vyukulalele. Ku vana vacitiwa votembo okuti oNgola yayovoka ale, kacalelukile okutava ndomo osimbu omanu vetu vainda lokutuminliwa. Ko kwange, o sipayo ha “policia” ko, omo okuti cakala ongusu yimwe yava katekanva, vatumilinwa la cikolonya, oco vatalise ohali vamwenle yimbo. Kucindele ka vapitinla.  

Okutyukila ku soma Ndumba, usoma waye vasumbilwe calwa, ndomo casesamenla asongwi vutundasonde. Otembo yaco yina, omwenyo uwa vowikolonya utekwiwa lotokwa yavakatekanva, kupange wakahandangalala pwãi ofeto yititotito. Pwãi cenda asapulo, okukala kwovindele vyotembo yina munlo kwafetikilile pukamba, nda ño há wocili ko, lasongwi.

Eteke limwe, osipayo votuma ondaka yokuti soma Ndumba a katute ovawe. “Ame situminliwa lomanu ndituminla”, sekulu wakumbulula. Una usongwi wo posito, eci ayeva etambululo lya soma, watuma oco vokwate. Soma Ndumba eci akeya, cindele wapitulula eci a tuma. Soma ka popele calwa, wapinga elisensa, okwiya wainda oku votuma. Nda ndopo dipopya ale eci ceya okwiya ko veteke olyo, pwãi, linga andi ndipule: nda umbanda haiko uli, nda osapi yusoma, oco pwãi Ndumba yo kalohele andi cikolonya wolavisa ndoto?

Papita ño alivala vatito, somba Ndumba otumbuluka lewe, tulingi tuti okawe, mbi ndo nuku yoñaña. Cikolonya utwe wotokota. Soma Ndumba, lelyanjo lyovokulu wosilula hati: “Siti wa ndituma ewe? Eci walipapata, limwina? Hewe ko?”. Eci cindele otambulula katuci vali, tusima tuti wasokolola okulweya kwaye, omo okuti katukwile nda ewe wayongwile linene. Ewe ewe.

Ulandu wakawiwa la Gociante Patissa, ko songo yo Bela-Vista, vo Lupito, 26/11/ 2011

(PORTUGUÊS)Oratura: A lenda do soma [soberano] Ndumba

“Otembo yaviluka, Soma Ndumba vowambatisa ewe; otala tala oloneke okuviluka”, em português, “mudaram-se os tempos, até o Soberano Ndumba foi forçado a carregar pedra". É essa a essência da canção que satiriza e lendária figura do soberano Ndumba, uma lenda de resistência africana durante a colonização portuguesa, no princípio do século vinte. Para ser mais preciso, como se isso lá fosse possível em lendas, reportamo-nos à década de 1920, na região centro e sul, da “nação Ovimbundu”.

Nas longas caminhadas, Ndumba revelava um inusitado sentido de exigência. Imagine-se, como contam, que num perímetro de pelo menos 40 quilómetros pernoitava umas cinco vezes. Mas para quê? Seria coxo? A isso não sei responder, nem o sabem as fontes. Podia ser apenas pelas mordomias que exigia aos anfitriões em cada aldeia (na ida e no caminho de volta). Perdia-se a conta das galinhas que chegavam à sua mesa (porque, como não devia deixar de ser, caminhava acompanhado).

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

FOGO& RITMO - Agostinho Neto, 
MEU AMOR DA RUA ONZE - Aires de Almeida Santos,
DESEJOS DE AMINATA - Lopito Feijoo,
A CIGARRA DESCONTENTE - António Cardoso,
8:2= 23 - David Capelenguela,
GUARDANAPO DE PAPEL - Gociante Patissa,
CONTRAFÉ - Carlos Ferreira.
Pedidos para os emails etutanu@gmail.com ou monteiroferreira@hotmail.com

Também podem ser feitos para Rua Queiroz Ribeiro nºs 11/15 - 4920-289 Vila Nova de Cerveira ou pelo telefone 251795115.
Divulguem, por favor.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Tem muita piada, muita mesmo, o argumento "refinado" na classe intelectual para defender esse erro administrativo de nos continuarmos a negar a nós mesmos em nome da "união". Em duas ocasiões diferentes, uma num programa radiofónico emitido de Luanda para o país todo, outra noutro programa também radiofónico por Benguela, passou-se a ideia de que "quando escrevemos cota com a letra C [querendo dizer irmão, irmã, pessoa mais velha de nós, e em alguns casos pai/mãe], estamos a usar o português do Brasil e de Portugal. No português de Angola é que é com K." Mas, oh caramba!, não seria mais inteligente explicar como a palavra surge, ao invés de andarmos a branquear as coisas? Os portugueses e os brasileiros têm COTA, sim, com a letra C, que é indicador estatístico (como por exemplo a cota de 30% de representação feminina no parlamento). Agora, quando se trata de grau parentesco - e não há cá esses avanços para trás - estamos em presença da palavra de origem BANTU, que é KOTA. É assim em Kimbundu, é assim em Umbundu, pá! Se ao longo do processo histórico a "cultura superior" dominante foi cega às nossas raízes, cabe-nos, hoje que já somos (ou devíamos ser) soberanos, ensinar aspectos linguísticos na interdisciplinaridade com a história e antropologia. Como se já não bastasse a tendência de pronunciar o R carregado como se andássemos a expulsar uma espinha de peixe entalada na garganta, numa incompreensível vaidade de negar a nossa pronúncia palatina; como se já não bastasse andarmos aos sotaques mecânicos, mesmo quando até nunca botamos o pé na Europa (e não são poucos os casos); vem agora essa coisa de confundir influências regionais com erros de concepção ou normatização ortográfica. Não me venham com essas leviandades de "ah, no português do Brasil e de Portugal é com C, no nosso é que é com K", num subtil aconselhamento do tipo "tanto faz". Quer dizer, quando convém (como acontece com o ku-duro, as misses e o semba) evocamos orgulho ao que é nosso. Já quando tem que ver com aspectos da nossa identidade como africanos, reeditamos a bitola com que durante séculos fomos subjugados. Como dizemos no bom Umbundu, "Wakambi osõi!" (Tenham mais é vergonha!)

Gociante Patissa, 4 Janeiro 2015

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

"Ukãi wa Sambayu / okwete ocali/ omunu opita vonjila/ ocisangwa ceci/ a Sambayu/ tambula ocisangwa combundi/ a Sambayu/ tambula ocisangwa/ ceci" 

(cântico popular Umbundu que ouvia dos vizinhos quando entendessem improvisar momentos de diversão com alguma dança e convívio)

MINHA TRADUÇÃO: A esposa do Sampaio é hospitaleira/ quando vê alguém passar/ regala logo com um copo de quissangua/ ó Sampaio/ aceita a nossa quissangua adoçada com raízes/ ó Sampaio/ aqui tens a nossa quissangua

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa 2015

Vídeo | Lançamento do livro A Última Ouvinte by Gociante Patissa, 2010

Akombe vatunyula tunde 26-01-2009, twapandula calwa!

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