"A cunhada ouviu o mesmo que eu ouvi?"
"Até estou a tremer de medo!"
"Isso não pode ficar em branco, cunhada, só se eu não me chamo eu."
"A mim já não faltavam desconfianças. Mas hoje, finalmente, o malandro confessou..."
"Mas ele não tinha mais outro caminho para passar?"
"Eu só me questiono: cumprimentou só porquê?!"
"Aquilo lá um dia foi cumprimentar?!"
"Nesse ano [1984] de tanto acontecimento, o pai Bernardo com a perna partida, a minha filha com pássaro [convulsões], eu com tala [gangrena de origem não identificada], a unita [então movimento de guerrilha] a prometer novo ataque, vem logo ele..."
"Dizer 'mbwatale, nãwã yange, etali ndasanjuka' [boa tarde, minha cunhada, hoje estou contente]?"
"Esse homem é feiticeiro! Antes que aconteça outro azar, o soba tem que julgar. Uma pessoa de bem, com tudo o que estamos a ver na comuna, com a lua inclusive a surgir envolta em nuvens de sangue, o frio a queimar as plantas, o homem vai dizer que tem tempo de estar contente?"
GP, Benguela, 19.11.15
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