sexta-feira, 16 de agosto de 2019

O alarme acusativo do pórtico de rastreio era-
lhe mais do que familiar. Não olhou o mínimo que fosse atrás como seria em jeito de mea culpa perante os seguranças.

 A entrada, sua e da respectiva caixa de ferramentas, não só era autorizada, como também necessária para dar vida aos vários andares da unidade produtiva. Daí que a birra do alarme ilustrava bem a quantas o aparelho andava assim com modos de Luanda, onde cumprir ou não a palavra... dá no mesmo. 

Caminhou em direcção à porta que a automação do elevador indicara. Exprimiu com clareza a saudação ao senhor que já ali se encontrava e contentou-se com o último lugar na ordem de prioridade. É chato ser o último, é verdade, mas não se podia queixar, afinal não faltará neste país gente em pior posição. Ser o último de dois não pode ser de todo desesperador.

E lá chega, sem pressa nenhuma, o elevador. O técnico, quase a trintar de velas bafejadas, embarca sem no entanto deixar de reclamar. O nosso elevador é aquele de monta-cargas. Não é isso?... - cortou logo, na dúvida se trataria o interlocutor por doutor ou engenheiro. Tinha noção do quão ofensivo era tratar certas personalidades pelo diminutivo título de senhor. Sim - anuiu para retribuir a cortesia.

É verdade, meu chefe, desde manhã até à hora presente, não conseguem só pelo menos consertar o elevador de serviço? Ah está avariado? Sim, doutor. Quando nos vê aqui a se misturar com os clientes, nós e os da limpeza, é porque o nosso não está bom. Ok, não tinha pensado até ali.

E lá parte o elevador em ascensão. Qual é a actividade da vossa empresa? Nós é manutenção. Isso de substituir lâmpadas, reparação eléctrica, aplicar pladur. Tudo é co... - ia dizer connosco mas aí o elevador parou, entraram outros inquilinos, homens e mulheres trajados a preceito de executivos. Fez-se silêncio. Depois fechou-se a porta. Foi o último som.

Do terceiro andar, a estação seguinte viria a ser o nono onde as portas laminadas se abriram para a saída dos executivos. Fez-se de novo silêncio. A comitiva de fatos e gravatas de fino corte desapareceu dos olhares pelos labirintos. Nenhum deles olhou para trás. Fechou-se a porta.

 Viste só, meu chefe, o comportamento dos doutores? Pois vi. Nada, eh!!!, é mesmo já assim?! - exclamou o operário. Do jeito como entraram é do jeito como saíram, indignou-se. Nem já um boa tarde. Enfim... Parece que se tornou ilegível a mecânica do elevador como metáfora da vida, onde podemos hoje subir mas descer amanhã. Ainda era só isso. Obrigado.

Gociante Patissa | 16 Agosto 2019 | www.angodebates.blogspot.com (escrito com teclado de telemóvel ao terceiro dia sem luz em cada 🤣🤣🤣)

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Akombe vatunyula tunde 26-01-2009, twapandula calwa!

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