a) Enunciado (o mais fiel possível conforme observado):
“Já sabes? A minha vizinha virou maluca”.
“Ouvi que tem mais uma de Benguela”.
“Isso até
“Estão a pisar grandes máquinas”.
“Tipo nada, os kotas estão a largar”.
Sendo a existência do feitiço indiscutível, vale acrescentar que a sua essência é o status: acumular bens, chegar ao poder, manter-se no trono, proteger-se. Em algumas comunidades, a tendência é masculinizar o feitiço (“umbanda”), sendo “oganga” o homem (que pode chegar a matar, porstatus ou por inveja) e “ocilyangu” a mulher (que supostamente anda fora de hora a dançar nua à porta de quem quer na desgraça). Quem recebe "samba" recebe “umbanda”, embora seja uma categoria mais leve.
Voltando ao diálogo, na percepção de beleza enquanto moeda, só as mulheres que completam os estereótipos (a tal beleza aparente) merecem ostentar bens, já que, “tipo nada, os kotas estão a largar”. Logo, para uma miúda que “não é bonita nem nada” ter um carro, só pode ser porque recorreu ao feitiço para iludir clientes com um charme que não possui. E, algo cíclico, começam a espalhar-se informações sobre raparigas que alegadamente enlouqueceram porque o feitiço expirou, ou porque não teriam cumprido os preceitos do kimbanda.
c) Impressão final:
Ao mesmo tempo que me revi parcialmente no diálogo, por este representar repúdio à ascendente degeneração das relações humanas, onde adultos endinheirados corrompem raparigas com idade para suas filhas (ou mesmo netas), não deixei de sentir uma ponta de tristeza; aqueles lavadores de carros demonstraram estagnação quanto à visão de mobilidade social. Em nenhum momento se referiram a alguém (“feia” ou “bonita”) que tenha carro porque conseguiu formar-se, arranjou emprego e pediu crédito.
“Já sabes? A minha vizinha virou maluca”.
“Ouvi que tem mais uma de Benguela”.
“Isso até
‘tá a dar medo”.
“Conheço uma miúda, não é bonita nem nada, tem um [Hyundai] i10. É samba”.“Estão a pisar grandes máquinas”.
“Tipo nada, os kotas estão a largar”.
b) Enquadramento:
A ideia principal resume-se aqui: “Conheço uma miúda, não é bonita nem nada, tem um i10. É samba”. Há uma crença entre os Ovimbundu na existência de força sobrenatural para atrair homens, num estilo de vida intensamente promíscua com fins materialistas. Esse poder chama-se “samba”.Sendo a existência do feitiço indiscutível, vale acrescentar que a sua essência é o status: acumular bens, chegar ao poder, manter-se no trono, proteger-se. Em algumas comunidades, a tendência é masculinizar o feitiço (“umbanda”), sendo “oganga” o homem (que pode chegar a matar, porstatus ou por inveja) e “ocilyangu” a mulher (que supostamente anda fora de hora a dançar nua à porta de quem quer na desgraça). Quem recebe "samba" recebe “umbanda”, embora seja uma categoria mais leve.
Voltando ao diálogo, na percepção de beleza enquanto moeda, só as mulheres que completam os estereótipos (a tal beleza aparente) merecem ostentar bens, já que, “tipo nada, os kotas estão a largar”. Logo, para uma miúda que “não é bonita nem nada” ter um carro, só pode ser porque recorreu ao feitiço para iludir clientes com um charme que não possui. E, algo cíclico, começam a espalhar-se informações sobre raparigas que alegadamente enlouqueceram porque o feitiço expirou, ou porque não teriam cumprido os preceitos do kimbanda.
c) Impressão final:
Ao mesmo tempo que me revi parcialmente no diálogo, por este representar repúdio à ascendente degeneração das relações humanas, onde adultos endinheirados corrompem raparigas com idade para suas filhas (ou mesmo netas), não deixei de sentir uma ponta de tristeza; aqueles lavadores de carros demonstraram estagnação quanto à visão de mobilidade social. Em nenhum momento se referiram a alguém (“feia” ou “bonita”) que tenha carro porque conseguiu formar-se, arranjou emprego e pediu crédito.
www.ombembwa.blogspot.com |
Gociante Patissa, Aeroporto Internacional da Catumbela 13 Maio 2013