sábado, 7 de agosto de 2021

Na noite de ontem para hoje, no perímetro do PDIC (Pólo de Desenvolvimento Industrial da Catumbela), bairro da Santa Cruz, fronteira com o município do Lobito, foi morto em serviço por indivíduos ainda desconhecidos um cidadão que se encontrava a guarnecer uma unidade de fabrico de blocos. O corpo de Victor Isaac Paulino "Paizinho" (na foto), 39 anos, que deixa viúva e filhos, foi encontrado amarrado (e escondido dentro do escritório da empresa) e com sinais de extrema barbárie, sobretudo na parte superior, tendo sido encontrado também no local, conforme constatação da familia, objectos contundentes como alavanca e tesoura de corte de metais. O corpo encontra-se na morgue do Hospital Municipal do Lobito. O caso está entregue à polícia.

Alegadamente os assaltantes levaram  o computador da empresa e o servidor do sistema de videosegurança.

Natural do Monte Belo, município do Bocoio, província de Benguela, Victor Isaac Paulino, membro da IESA, era xará do primo materno do seu pai, Victor Manuel Patissa (meu pai).

A sua morte surge uma semana após a também trágica morte do filho de uma conterra nossa, a tia Deolinda Valiangula, assassinado no bairro Luongo, município da Catumbela😪😪

 Daniel Gociante Patissa, Lobito, 07 Agosto 2021

sexta-feira, 6 de agosto de 2021


E chegamos ao novo ciclo das calorias: campanhas e conferências a quente; coberturas abertas e encapotadas a quente; militâncias abertas e encapotadas a quente; acusações abertas e veladas a quente; contra-ataques a quente; patriotismo pró ou a favor a quente; juízes em causa própria ou alheia a quente; neutralidades a quente; opinião pública a quente. O que sobra? O mesmo de sempre, um monte de animosidades e a erosão dos laços. Depois chegam as urnas. Pela quarta vez Angola em clima pré-eleitoral, a polarização é a nossa velha casca de banana🙆‍♂️ Por uma disputa saudável, por uma democracia que ergue!


quarta-feira, 28 de julho de 2021

 Quando ao cabo de dois anos de varredura em livrarias sua excelência eu se dá encontro com a segunda oportunidade de "caular" um book. Já canta desde ontem no acervo, não obstante o furo ao bolso

😂😂😂O primeiro ofereci-o a um kamba



segunda-feira, 31 de maio de 2021


 1. NO PLANO DA GRAFIA OU SÍMBOLO
Em termos de grafia, inclino-me para a forma convencional das línguas bantu, isto é, LUSATI [lu-sa-ti], pois o S entre vogais nunca ganha valor de Z, ao contrário do que ocorre nas línguas europeias. Neste caso, LUSSATI seria uma corruptela derivada da confusão que subsiste com a dupla norma para uma mesma língua, coabitando a convenvional bantu (adoptada pelos evangélicos/protestantes) Vs a católica (apadrinhada pelo regime de então durante a dominação colonial portuguesa).

Também não é correcto grafar LUSSATY, colocando Y para representar o fonema /i/ se tivermos em conta que as semi-vogais Y e W servem para fazer hiato, ou seja, quando a letra U é sucedida de uma vogal, ganha a forma de W, o mesmo se dando com o I sucedido de vogal, que se metamorfoseia em Y. (Ex: "owanda wayuka cokuti!" ou seja, a rede veio tão carregada! Repare-se que no adjectivo "cokuti", precisamente porque o i é final, não usamos Y, pois nesta posição estará mal empregue.) 

2. NO PLANO METAFÓRICO

Socorremo-nos do levantamento do académico Francisco Xavier Yambo. 2003, pág 67, in “Dicionário Antroponímico Umbundu”, selo da Editorial Nzila, segundo o qual nome LUSATI:

"deriva de OLUSATI, resto de um milheiro cortado em crescimento e sem possibilidade nem de crescer nem de morrer. Dá-se à criança que nasce sem ter encontrado o seu pai. A morte do pai foi prematura ao ponto de não conseguir ver o fruto da sua existência. Pode ser também para aquele que além de não encontrar o seu genitor , venha a perder a mãe logo após o parto."

3. NO PLANO DAS VARIAÇÕES REGIONAIS

A língua umbundu, que caracteriza como a própria radical diz o grupo etnolinguístico Umbundu, oriundo do planalto central e em parte no litoral (seis das 18 províncias), o que representa demografiamente 1/3 da população angolana, pode ter beneficiado em termos de expansão com os anos de guerra civil, quer pelo êxodo rural em busca de melhores condições de vida, quer pela adopção da língua como senha identitária por um dos movimentos com poder de ocupação de territórios ao longo de décadas no sul, leste e no norte, falo da UNITA. 

Não surpreendeu, pois, que 2002, por exemplo, as imgens do programa Nação Coragem, da Televisão Pública de Angola, exibisse a partir do considerado enclave de Cabinda, extremo norte e sem ligação terrestre interna, um exército animadíssimo a entoar com dicção a um nível nativa cantares populares umbundu.

Sendo já factual que não existe Umbundu padrão, como não existe padrão de língua nenhuma senão uma falácia com apatênmcias de imposição etnocêntrica, podemos acrescentar que o singular de milheiro cortado ou da palha, dependendo da variante, à medida que se deixa o planalto central (Huambo e Bié), pode adoptar outras grafias e pronúncias. No interior de Benguela, por exemplo, o singular pode tanto ser OLUSATI ou OCISYATI [otshi-shati] e consequentemente o plural OVISATI ou OVISYATI. E se ouvir dizer que alguma menina se chama Shatinha, de nome próprio, não porque lhe os pais lhe augurassem mau feitio, chatice ou coisa parecida; tratar-se-á do diminutivo de Olusati ou Ocisyati.

4. NO PLANO DOS HÁBITOS ALIMENTARES

Sendo o pirão de milho a principal refeição (entenda-se mesmo diária ao almoço, jantar e até ao matabicho) entre os Oviumbundu, será de imaginar o simbolismo de vitalidade imanente em tudo o que envolva o processo de produção, colheita e transformação do milho. 

O milho dá o pirão (ou funji, aqui para introduzir um termo da região etnolinguística ambundu, do norte) que é degustado com molho de verduras, feijão, peixe ou carne. Mas o milho deriva também na ocisangwa (ou kisângwa, outra vez para usar a terminologia do norte, onde o prefixo CI [tsi] passa a ser ki). 

Ocisângwa, cujo valor falamos em tempos enquanto cartão de hospitalidade com que uma dona de casa se revela proveniente de bom berço, é também a bebida sempre presente na execução de empreitadas, pelo seu poder de saciedade, para além do efeito diurético. Não entrarei para o mérito da chegada e introdução do milho na vida dos africanos mais remotos e da motivação, segundo vários pesquisadores, de encher de energias a força de trabalho mal pago.

Daí que quando no outro dia ouvi falar em "mingau", iguaria da gastronomia da Bahia, no Brasil, o Estado mais africano naquele país por conta do secular tráfico de escravos, procurei logo saber se entrava o milho nos ingredientes, ao que me foi respondido que sim. Porquê? Porque ONGAU é como se designa a primeira refeição em Umbundu, de maneira que a saudação equivalente a Bom dia é precisamente NANGAU! No meio rural, muitas vezes este ongau consiste em assar sobras de pirão da noite anterior.

Gociante Patissa, Luada 31 Maio 2021

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021


Há qualquer coisa de artificial na “torcida” contra a responsabilização criminal do cidadão investido há uns anos no poleiro de Rei do Bailundo, província do Huambo, de sua graça Armindo Kalupeteka ou Ekwikwi V. Segundo se ficou a saber, o Rei-juiz foi condenado por co-autoria na morte de um outro compatriota, alegadamente condenado no tribunal costumeiro sob acusação de ter enfeitiçado uma neta, sendo que a pena aplicada pela “corte”, cuja letra não foi publicada, fomentou o desfecho trágico numa república que aboliu a pena de morte. Seria ou não o Rei-juiz imputável pelas sentenças?
Aí é que a meu ver está o artificial da coisa. Teríamos de partir do perfil das autoridades tradicionais na sociedade moderna, sua legitimidade, coerência e o âmbito do seu poder. É evidente que o poder real/tradicional não andará muito longe do decorativo, residual e vinculativo em comunidades rurais pouco escolarizadas, fruto do curso de uma ex-colónia antropologicamente corrompida, da guerra civil e dos interesses políticos dos movimentos de libertação. Paixões à parte, se quisermos considerar alguma coerência republicana estaremos de acordo a esse respeito.
Qual é o papel dos sobas, sobetas, sekulus, reis e regedores do ponto de vista de voz junto do poder político nessa república que se assume democrática de direito? É facto que o poder real implica território, identidade etnolinguística, linhagem e discernimento. Hoje por hoje, praticamente a obediência a tais autoridades é facultativa, nalguns casos só sobrevivendo por conta do medo que as sociedades tradicionais têm do feitiço. Diz-se que poder é feitiço. Consoante se teme ou não, podemos ter um pai que obedece e um filho que manda lixar.
Não entrarei para os elementos técnicos da coabitação entre a lei positiva e a lei costumeira, porque em meu entender é injusta a dupla subordinação jurídica só para alguns, se tivermos em conta que todos somos iguais e merecemos igual tratamento. Serão a filosofia oral, a idiossincrasia e o dogma da autoridade critérios bastantes para se fazer justiça? No Monte Belo, a título de exemplo, interior da província de Benguela, abundam casos de pessoas que morreriam sem nunca saldar a dívida que contraíram para pagar as multas pesadas que lhes foram na Ombala aplicadas pelo crime, imaginem!, de terem aparecido no sonho de alguém, o que serve de confissão de bruxos ou feiticeiros.
O que me indigna é o activismo selectivo pela “soberania da cultura ovimbundu”, na tese de que o direito positivo se equipara ao costumeiro, carecendo de peso de hierarquia para responsabilizar uma autoridade tradicional. Como alguém alertou, o cidadão angolano morto, suposto bruxo denunciado pela própria família, não tem nome e direito à protecção pelo Estado angolano? Se foi condenado por crime de feitiçaria, não haveria de ser punido pela mesma via sobrenatural?
Enfim, as nossas rádios quase não tocam a música cantada em umbundu, mas isso não incomoda. O direito positivo ou civil não reconhece o casamento costumeiro, mas OK. O cidadão chega à licenciatura estudando a língua portuguesa desde a iniciação mas nunca as línguas nacionais bantu e pré-bantu, e isso não incomoda. Em visita diplomática aos órgãos de soberania, o soba ou rei ou sekulu, defendeu o Ismael certa vez, não tem direito a tradutor como têm as autoridades estrangeiras.
O Estado desenterra decretos da era colonial e impõe a castração das consoantes e semi-vogais W, Y, K da toponímia e perpetua deturpação secular neste campo, mas isso não incomoda. A grafia das línguas bantu anda obsoleta, situação agravada pela existência de dois códigos, o convencional versus o católico, o que compromete a familiarização com as línguas e fomento da produção literária. Isso também não incomoda. A língua portuguesa, factor de unidade nacional, ainda não dialoga e o preconceito faz com que nas instituições oficiais tacitamente se proíba o uso das línguas (em rigor) locais e regionais, mas OK. Ora, se anuímos docemente que as línguas tenham estatuto secundário e se cada língua veicula uma cultura, custa aceitar que as práticas e costumes do mosaico que enriquece o território chamado Angola sejam secundários? Temos modelos que só recorrem às línguas africanas em contexto eleitoral, mas o que incomoda mesmo é que o Rei do Bailundo seja condenado caso apadrinhe sentenças que levem à morte de alguém. A soberania cultural mora só ali. E é fácil juntar-se a esse coro até que o “feiticeiro” da vez linchado seja alguém que amamos. KWENDA CIKAPALAMA!
Gociante Patissa | Benguela, 11 Fevereiro 2021 | www.ombembwa.blogspot.com
Foto: DocPlayer

 


Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa 2015

Vídeo | Lançamento do livro A Última Ouvinte by Gociante Patissa, 2010

Akombe vatunyula tunde 26-01-2009, twapandula calwa!

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