segunda-feira, 29 de agosto de 2011


Ocisungo cimwe cutundasonde kUmbundu, cateliwa okuyevalisiwa vo la njimbi Filipe Mukenga


Humbi-humbi

Humbi-humbi yange
Yelela, twende
Kakele ka Cimbamba
Osala posi

Vakuene vayelela
Yelela, twende
Kakele ka Cimbamba
Osala posi
Elombolwilo: o humbi-humbi (olonoño viokutanga vayitukula vati Cicornia Abdimi) onjila yasiata vovisitu vyofeka yoNgola. Kesapulo lyutunda sonde, onjila eyi yakulihiwa longavelo yokuyevalisa ondaka yiwa, kwenda vo oyo yikwete ocimaho cokupalanla kupanla vilu, kumosi lokukonga olonjila vyalwavo oco vipalalenle kumwe. Esapulo lyo Taag.


Sekulu yumwe wasapela vulandu wetu, Ombembwa Angola (Umbundu), wacitiwa ko Cikomba, vo civanja co Huila, walombolola hati Kacimbamba onjila yimwe yasoka nda ndonende. Haimolumwe, nda ño kayipalanla cenda oko loko, kacalelukile okuyiyeva, omo akuti yanyanga.

O humbi-humbi  
TRADUÇÃO: Uma canção do folclore Umbundu, também internacionalizada pelo músico Filipe Mukenga

Humbi-humbi

Humbi-humbi meu
Voa, vamos embora
Coitado do Kacimbamba
Que não sai do chão

Os outros estão a voar
Voa tu também
Coitado do Kacimbamba

O HUMBI-HUMBI (Cicornia Abdimi) é um pássaro muito comum na fauna angolana que segundo a história tradicional anuncia as boas novas, que aspira voar mais alto e que chama os outros pássaros para voarem consigo, segundo a Taag.

Segundo fonte oral do Blog Ombembwa, oriunda de Cikomba, Huíla, Kacimbamba é ave, de tamanho menor que uma perdiz, com quem tem semelhanças. Entretanto, o facto de não ir além de esvoaçar não torna aquela ave vulnerável à caça de tão hábil que é.

Gociante Patissa, Benguela 29/08/2011
Ociluvyaluvya casangiwa - fotografia de http://ibc.lynxeds.com/photo/abdim039s-stork-ciconia-abdimii/bird-walking-ground

domingo, 21 de agosto de 2011


Contracapa

Avelino Sayango nasceu em 1951, em Kaikela-Kaimbambo. Depois da escola primária, tirou o 5º Ano do Curso Geral dos Liceus. Mais tarde, estudou na Suiça onde frequentou um Curso Comercial e obteve o respectivo diploma. Durante alguns anos, foi administrador do Hospital de Kaluquembe, e depois da IESA (Igreja Evangélica -antes do Sudoeste – Sinodal de Angola). É casado e pai de dois filhos. Através das suas recordações de infância, o autor descreve a forte personalidade do seu pai, que tão profundamente o marcou. É uma história sincera e bela, contada em primeiro lugar a Angolanos por um Angolano. Fiel à verdade dos acontecimentos que refere, mas sem ódio, esta narrativa não deixará de atrair todo o leitor que tenha gosto em ver, através dos olhos do autor, aspectos pouco conhecidos do ambiente angolano.

Nota do Blog Ombembwa: Avelino Sayango veio mais tarde a ser transferido para Luanda, onde faleceu por acidente rodoviário há coisa de cinco anos. Deixou um livro no prelo, entretanto em parte incerta, segundo revelou Salomão Ngandu, irmão mais novo. Gociante Patissa, Benguela 21/08/11


Tive acesso ao livro autobiográfico «O Meu Pai» de Avelino Sayango, de quase 200 páginas, editado pela Barquinho – Livraria Evangélica, Luanda, Julho 1997, impresso na capital da Namíbia.

O telegrama: Paulo Viana – Benguela – comunica seu primo Avelino Sayango Administrador do Hospital de Kaluquembe e demais familiares falecimento seu pai António Ventura – ocorrido dia 15/2/84 pelas 17h40 e pede por isso sua comparência (pág. 8).

O acontecimento acima é o mote do livro, dentro do qual o autor dá a conhecer, a partir da sua vivência familiar, a vivência da sua comunidade e das demais por onde passou, bem como a caminhada para sua maturidade e afirmação profissional. Há também uma preocupação pedagógica com enfoque para a vertente cristã. Para aqui, interessa realçar o contributo que faz na recolha e divulgação da tradição do grupo etnolinguístico Ovimbundu, de origem Bantu, como nos fragmentos que se seguem (pág. 28-36):

«(…) Como acontece com os grandes grupos etnolinguísticos, os Ovimbundu são um conjunto composto de vários elementos, dele fazendo parte os Hanya, Cilenge, Humbi, Cisanji [o C é pronunciado “Tch”], além dos que se chamam simplesmente Ovimbundu. Todos falam a língua Umbundu, mas cada grupo com as suas próprias características regionais que o distinguem dos outros (…)

(…)Há de facto diferenças. Menciono duas para ilustrar. Nas áreas do Huambo, Bié e Kaluquembe, o termo ombelela é usado para designar qualquer tipo de conduto que acompanha o pirão. Assim tanto serve para designar carne de vaca ou de porco, de ave, como feijão, ervilha, ovos preparados de várias maneiras, folhas de mandioqueira, de abóbora, cogumelos etc. Nas mesmas áreas, o número oito diz-se ecelãlã e o número nove ecea. Pelo contrário, nas áreas Hanya, Cisanji e Cilenge, o termoombelela tem um sentido restrito. Designa a carne servida com pirão. Não se estende aos legumes ou verduras. Carne que se não come, não se desgina por ombelela.

Assim pode-se imaginar a decepção dum convidado cisanji, em casa de um bieno, a quem se anunciou um almoço suculento de ombelela ao encontrar na mesa um prato de pirão com simples folhas de mandioca!

Quanto aos números oito e nove, há troca! Ecea aí significa oito, e ecelãlãnove. Imaginam-se os mal-entendidos advindos desta diferença de designação!

São diferenças importantes, mas por outro lado bem pequenas, em comparação com os inúmeros aspectos comuns que cimentam a unidade e cultura Umbundu.

A riqueza cultural dum povo manifesta-se em todos os aspectos da sua vida tanto a nível social e religioso, como a nível da educação: festas, danças, música, artes e desporto; cultos ligados às fases da vida: como nascimento, a puberdade, casamento, fertilidade, morte; estrutura da família, comportamentos, língua, parábolas e provérbios.

Há tanto de comum nestes aspectos culturais, que ouso afirmar que os Ovimbundu são em toda a sua diversidade, efectivamente, um só corpo(…)

(…) O nome: Escolhe-se o nome do bebé depois do parto, nunca antes. O casal pede conselhos aos pais, tias ou tios ou outros parentes sobre o familiar, vivo ou morto, que poderá ser sando [xará] do recém-nascido, dando-lhe o seu nome para assim manter a perpetuidade desse nome.

É o pai, e não a mãe, que tem a prioridade na escolha de um membro da sua família para ser o sando do primeiro bebé, quer se trate dum menino ou duma menina. Este pormenor é curioso, visto que a herança não se faz de pai para filhos mas sim de tios maternos para sobrinhos.

Para o segundo filho, o nome do bebé será geralmente escolhido pelos membros da família da mãe. Claro que seria errado afirmar que haja, nestes casos, uma regra bem definida na cultura Umbundu. Nós somos 10 irmãos, apenas o quinto e o oitavo têm sando da parte materna. Para um observador menos atento, isto pode parecer injustiça. Mas não é.

Inúmeras vezes, são até os próprios familiares da mulher que protestam quando o marido renuncia o seu direito de prioridade. Há acordo mútuo.

À medida que a influência da “grande família” diminui, o casal tenta ajustar-se, de tal maneira que seja alternadamente um ou outro a dar o nome desando.

Quanto à oposição de outros nomes, assinalo dois tipos, a saber:

O nome que se recebe primeiro, alguns dias depois do nascimento. A este chamamos em Umbundu onduko yovomola ou yokucitiwa, no me do nascimento, ou de infância. É um nome que fica, não muda, mas pode ser, mais tarde, relegado para segundo plano.

O nome que se acrescenta, por iniciativa própria ou em relação a circunstâncias particulares, em Umbundu okulisapa. O indivíduo pode, ele mesmo, dar-se mais um nome. Muitas vezes tal iniciativa liga-se a algum acontecimento que marcou uma viragem na sua vida, como, por exemplo, um culto. É também o caso de Cikambi de okukamba que significa “faltar”, nome sugerido a alguém que tenha tido um acidente, que lhe deixa um membro defeituoso ou mutilado (…)

Os nomes de okulisapa podem acabar por ser nomes normais por via dosando. Quer dizer, o bebé sando de Kamakangua chamar-se-á sem dúvida [como tal] por toda a vida, embora não sofrido as duras experiências [de queimadura da pele] do seu sando.

Os nomes autóctones constituem um aspecto muito importante da cultura. Não é pois de admirar que, sobre tal tradição, a colonização portuguesa, e não só ela, se tenha abatido furiosa e violentamente, proibindo, de maneira velada ou coerciva, o uso da língua e de nomes indígenas. O facto levou muitos angolanos, por seu lado, a desprezarem inconscientemente os nomes ancestrais, recusando-se a serem conhecidos por tais nomes». 
Avelino Sayango e esposa, Sra. Ludia

quinta-feira, 18 de agosto de 2011


Ukanda kelivala lyonanya
 
Twakala vonjo kakuãla ketu. Okucitala ciwa, nda ndilinga siti katatu kavo, omo akuti ame sukuanjo ko, daindelele mo ño ocinyangu, ndokulinga omesene. Ocikuata cavo cokutalalisa vonjo cakala lovitangi, cainda lokutosa ene calua ovava.

Vamuenle yonjo vakala lokusapela. Ndona oku osapela, oku otuta etoka lyoñanã. Umalehe Petulu, puãi nda ekavo nda nye, eye yu walikala o televisãu, eye yu kavanjiliya mo… Ame ndalyuhinla pevindi locimbele cange. Eci ndaimbuka onjala yoyo yivala, ndaivaluka okuti puãi kwaca osimbu, onanya yavo yacilua. Mbi kelivala ale muenle lya mosi, kuakukutu epandu vali.

Okasimbu po naito, kepito vatutula. Ñala Luhaku wavotoka, vakuavo valaulula lutate.

–Ukombe weya! – vayevalisa kumosi ondaka, ndomo casesamenla okutata akombe.
– Omangu yeyi. – Nãla Luhaku eye wapopia, ndokulinga sungu yonjo.
– Pandu, pandu. – Ukombe watambulula, osimbu a tambula omangu.
– Ndati, wa usala?
– Nda usala, andi twapitamo, vyakwavo twalisoka lavyo. Twatambula ukanda, apa tuyeti tuwupitilinsa kuvamuenle. Andi oco lika twimbwisa. Ene kulo ndati?
– Mumosi haimo. Oyo yukanda watambuli, noke uwupitilinsa, tuyipandwila.
– Vakueh, situmanla, ndikuete vo akombe konjo.
– Enda ale? Onanya yetu yipepi…
– Ndapandula, puãi evelo lyalinga litito. Cinene okuti kulimonla kapui.
– Oco. Puãi kavalame po.
– Vyakapitinla. Ndapita!

Ukombe eci akainda, papita ño kamwe, onanya yeyi komesa.
– Oveh, omesa yayaliwa. Osimbu vyatokota, enju, ukanda owutanga noke. – Ndona Telesa wavilikiya.
– Keveleli po ño kamwe. – ñala Luhaku watambulula. – Ndikasi lokwiya.

Papita mbi akui avali kuakukutu, ulume alopo keya. Eye kayulula apa ukanda waco. Omo akuti ocituwa covonjo, Ndona la Petulu kavasimile okutumanla ulika komesa, osimbu akuti isia yonjo katundile ovongende.
– Oveh enju, okulya kukasi lokupola.
– Salingile ale ati keveleli po ño kamwe?!

Vakevelela po vali okacinanla. Okuiya sekulu Luhaku, pana akuti wamanla okutanga ukanda, oyevala heti:
– Ondaka ndatambula… lombili yokulia yainda! Apa li ño, tulila kumosi kondalelo.
Umalehe Petulu, lesumuo kutima, puãi lesumbilo kumosi, wakumbulula losapi yondaka:
– A tate, siti watulongisile okuti hinse okutanga ovikanda cina okuti tulianga okulia?
– Oco, a mola wange. Kacatavele okulikandangiya. Vangecele!

Gociante Patissa, kocila Colombalãu ko Katombela, Vombaka 10/08/2011 (yatayelwa okuamisako kelilongiso lyo okusoneha Umbundu)

terça-feira, 16 de agosto de 2011


Quando me foi solicitada a apresentação formal do livro de Martinho Bangula, despertei para a ingrata missão que me esperava, sobretudo pela proximidade que tenho com o autor. Toda a opinião é uma qualificação; nem mesmo o silêncio pode ser tomado como absolutamente neutro. Se tecer elogios, fica suspeito. Se criticar, fica igualmente suspeito. De qualquer jeito, resolvi aceitar. Para tudo há uma primeira vez, e viver é outro risco.

O nome Bangula deve ser corruptela (por imposição do colonialismo português) de “[ame] mbangula”, em Umbubndu, conjugação do verbo falar/conversar na primeira pessoa do presente do indicativo – qualquer coisa como “[eu] falo/converso”. Não estranhemos, pois, que o rapaz nascido em Benguela, no ano de1985, tenha o bicho da comunicabilidade.

Depois de “SEXORCISMO – poesia para a purificação”, lançado em 2008, Bangula surge agora com “SEXONÂNCIA – o momento pós-catarse”. Dada a aparente insistência, em termos de eixo temático, o que quererá o autor dizer-nos, andando tão perto da raiz “sexo”? O leitor ou a leitora pode legitimamente levantar essa pergunta, já que ambos os títulos são aglutinação do conceito sexo com exorcismo e ressonância. O passo a seguir, de tão imediato que é o juízo humano, levará a deduzir que se trata de poesia de forte pendor erótico. Por exemplo, com isso de “SEXONÂNCIA – o momento pós-catarse” concluiríamos que o autor nos quer reforçar aquela ideia segundo a qual “o amor só se mede depois do prazer”. Mas lá vem a regra de ouro que diz que “não devemos julgar o livro pela capa”.

Quanto à forma, temos outra vez o poeta a desafiar o comum, ao apresentar-nos capa sem ilustração, apenas uma cor homogénea e letras, à excepção da própria foto na contra-capa. Os poemas têm números no lugar do título. Pretende-se, diz ele, dar lugar à criatividade do leitor. Só que como escrever não é apenas criar, mas também trabalhar a palavra, as coisas acabam por se encaixar, às vezes até fora do controlo do criador. No livro“SEXONÂNCIA”, a primeira linha de cada poema pode muito bem funcionar como título. Para mim, palavras são recados, os números uma repetição apenas.

Mais adentro, vemos que sexo é apenas pretexto para o sujeito poético partilhar com o mundo as incongruências do cosmos. “Viver é um luxo, existir basta”, diz na página 39. Com o inconformismo do seu tempo, temos o poeta em ciclos de “cruzar mares, desafiar ventos”. O sujeito social logo se junta à magnanimidade da sua gente, na página 59, como que a dar ao homem oportunidade de recomeço: “Já libertamos tudo/ o opressor/ o oprimido”.

Certos erros ortográficos no livro afectam o sentido uma vez ou outra. As gralhas podem ser indicadores das debilidades que o mercado editorial angolano enfrenta, onde a oferta de serviços é limitada, sobretudo em realidades fora de Luanda. Está-se sempre a correr contra o tempo, o que afecta tudo, inclusive a revisão. E eu sei bem o que é isso!

Queria terminar apresentando dois poemas que estão no livro… sem estarem como tal. Leiamos somente as primeiras linhas de cada poema, e teremos um poema feito. Seguidamente, leiamos apenas as últimas linhas de cada texto, e sairá outro. Como disse, uma vez que escrever não é só criar, mas também trabalhar a palavra, as coisas acabam por se encaixar, às vezes até fora do controlo do criador. Afinal temos mais dois poemas! O leitor que descubra outras surpresas. Muitos êxitos para o escritor Martinho Bangula!

Gociante Patissa, Benguela 10 Agosto 2011.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

"Ame silialia califila, ndinyale okuyeya": calomboloka okuti ocina watambula ño, l'esalamiho lakamue, kucikuetele omoko yokuvanjiliya nda caposoka ale sio. (Eu não como o que morrer por si, detesto a baba. Quer dizer, àquilo que nos chega sem o conquistarmos, não estamos em vantagem de exigir que seja do melhor que há).

"Umbanda w'omenla okuhã": calomboloka okuti lomwe otikitiya vomela wove ondaka kayatundilemo. Nda kuapopele [cinvi] lomue okukapa eko. (Remédio para a boca é estar calada. Ninguém te enfia palavras na boca, se dela não tiverem vindo. Ninguém te julga mal por algo que não disseres).

"Ombwa yilungaila ekukutu, omunu olungaila eci amuinle". (O cão aprende pela corrida que levou, a pessoa pelo que viu).

"U kuendi laye kakukutila ko epunda; (Não te prepara a mala quem contigo não viaja).

"Ocitungu walikutila kacilemi"; (O molho que amarraste para ti mesmo não é pesado. Não te podes queixar das consequências dos teus actos).

"Epute liukuene kaliukuvala"; (Cada ferida dói a quem a tem).

"Cimboto t'ulemela okuyuela, puãi oku sonama kuaye muenle"nda tulongisa olondunge omunu, tunoli mo tete, cipi citava ale sio okucimba po. (Ao sapo pedimos apenas que não faça barulho. É nulo pedir que deixe de andar cócoras; por acaso, ele sabe andar de outro modo?)

Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa 2015

Vídeo | Lançamento do livro A Última Ouvinte by Gociante Patissa, 2010

Akombe vatunyula tunde 26-01-2009, twapandula calwa!

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