domingo, 21 de agosto de 2011


Contracapa

Avelino Sayango nasceu em 1951, em Kaikela-Kaimbambo. Depois da escola primária, tirou o 5º Ano do Curso Geral dos Liceus. Mais tarde, estudou na Suiça onde frequentou um Curso Comercial e obteve o respectivo diploma. Durante alguns anos, foi administrador do Hospital de Kaluquembe, e depois da IESA (Igreja Evangélica -antes do Sudoeste – Sinodal de Angola). É casado e pai de dois filhos. Através das suas recordações de infância, o autor descreve a forte personalidade do seu pai, que tão profundamente o marcou. É uma história sincera e bela, contada em primeiro lugar a Angolanos por um Angolano. Fiel à verdade dos acontecimentos que refere, mas sem ódio, esta narrativa não deixará de atrair todo o leitor que tenha gosto em ver, através dos olhos do autor, aspectos pouco conhecidos do ambiente angolano.

Nota do Blog Ombembwa: Avelino Sayango veio mais tarde a ser transferido para Luanda, onde faleceu por acidente rodoviário há coisa de cinco anos. Deixou um livro no prelo, entretanto em parte incerta, segundo revelou Salomão Ngandu, irmão mais novo. Gociante Patissa, Benguela 21/08/11


Tive acesso ao livro autobiográfico «O Meu Pai» de Avelino Sayango, de quase 200 páginas, editado pela Barquinho – Livraria Evangélica, Luanda, Julho 1997, impresso na capital da Namíbia.

O telegrama: Paulo Viana – Benguela – comunica seu primo Avelino Sayango Administrador do Hospital de Kaluquembe e demais familiares falecimento seu pai António Ventura – ocorrido dia 15/2/84 pelas 17h40 e pede por isso sua comparência (pág. 8).

O acontecimento acima é o mote do livro, dentro do qual o autor dá a conhecer, a partir da sua vivência familiar, a vivência da sua comunidade e das demais por onde passou, bem como a caminhada para sua maturidade e afirmação profissional. Há também uma preocupação pedagógica com enfoque para a vertente cristã. Para aqui, interessa realçar o contributo que faz na recolha e divulgação da tradição do grupo etnolinguístico Ovimbundu, de origem Bantu, como nos fragmentos que se seguem (pág. 28-36):

«(…) Como acontece com os grandes grupos etnolinguísticos, os Ovimbundu são um conjunto composto de vários elementos, dele fazendo parte os Hanya, Cilenge, Humbi, Cisanji [o C é pronunciado “Tch”], além dos que se chamam simplesmente Ovimbundu. Todos falam a língua Umbundu, mas cada grupo com as suas próprias características regionais que o distinguem dos outros (…)

(…)Há de facto diferenças. Menciono duas para ilustrar. Nas áreas do Huambo, Bié e Kaluquembe, o termo ombelela é usado para designar qualquer tipo de conduto que acompanha o pirão. Assim tanto serve para designar carne de vaca ou de porco, de ave, como feijão, ervilha, ovos preparados de várias maneiras, folhas de mandioqueira, de abóbora, cogumelos etc. Nas mesmas áreas, o número oito diz-se ecelãlã e o número nove ecea. Pelo contrário, nas áreas Hanya, Cisanji e Cilenge, o termoombelela tem um sentido restrito. Designa a carne servida com pirão. Não se estende aos legumes ou verduras. Carne que se não come, não se desgina por ombelela.

Assim pode-se imaginar a decepção dum convidado cisanji, em casa de um bieno, a quem se anunciou um almoço suculento de ombelela ao encontrar na mesa um prato de pirão com simples folhas de mandioca!

Quanto aos números oito e nove, há troca! Ecea aí significa oito, e ecelãlãnove. Imaginam-se os mal-entendidos advindos desta diferença de designação!

São diferenças importantes, mas por outro lado bem pequenas, em comparação com os inúmeros aspectos comuns que cimentam a unidade e cultura Umbundu.

A riqueza cultural dum povo manifesta-se em todos os aspectos da sua vida tanto a nível social e religioso, como a nível da educação: festas, danças, música, artes e desporto; cultos ligados às fases da vida: como nascimento, a puberdade, casamento, fertilidade, morte; estrutura da família, comportamentos, língua, parábolas e provérbios.

Há tanto de comum nestes aspectos culturais, que ouso afirmar que os Ovimbundu são em toda a sua diversidade, efectivamente, um só corpo(…)

(…) O nome: Escolhe-se o nome do bebé depois do parto, nunca antes. O casal pede conselhos aos pais, tias ou tios ou outros parentes sobre o familiar, vivo ou morto, que poderá ser sando [xará] do recém-nascido, dando-lhe o seu nome para assim manter a perpetuidade desse nome.

É o pai, e não a mãe, que tem a prioridade na escolha de um membro da sua família para ser o sando do primeiro bebé, quer se trate dum menino ou duma menina. Este pormenor é curioso, visto que a herança não se faz de pai para filhos mas sim de tios maternos para sobrinhos.

Para o segundo filho, o nome do bebé será geralmente escolhido pelos membros da família da mãe. Claro que seria errado afirmar que haja, nestes casos, uma regra bem definida na cultura Umbundu. Nós somos 10 irmãos, apenas o quinto e o oitavo têm sando da parte materna. Para um observador menos atento, isto pode parecer injustiça. Mas não é.

Inúmeras vezes, são até os próprios familiares da mulher que protestam quando o marido renuncia o seu direito de prioridade. Há acordo mútuo.

À medida que a influência da “grande família” diminui, o casal tenta ajustar-se, de tal maneira que seja alternadamente um ou outro a dar o nome desando.

Quanto à oposição de outros nomes, assinalo dois tipos, a saber:

O nome que se recebe primeiro, alguns dias depois do nascimento. A este chamamos em Umbundu onduko yovomola ou yokucitiwa, no me do nascimento, ou de infância. É um nome que fica, não muda, mas pode ser, mais tarde, relegado para segundo plano.

O nome que se acrescenta, por iniciativa própria ou em relação a circunstâncias particulares, em Umbundu okulisapa. O indivíduo pode, ele mesmo, dar-se mais um nome. Muitas vezes tal iniciativa liga-se a algum acontecimento que marcou uma viragem na sua vida, como, por exemplo, um culto. É também o caso de Cikambi de okukamba que significa “faltar”, nome sugerido a alguém que tenha tido um acidente, que lhe deixa um membro defeituoso ou mutilado (…)

Os nomes de okulisapa podem acabar por ser nomes normais por via dosando. Quer dizer, o bebé sando de Kamakangua chamar-se-á sem dúvida [como tal] por toda a vida, embora não sofrido as duras experiências [de queimadura da pele] do seu sando.

Os nomes autóctones constituem um aspecto muito importante da cultura. Não é pois de admirar que, sobre tal tradição, a colonização portuguesa, e não só ela, se tenha abatido furiosa e violentamente, proibindo, de maneira velada ou coerciva, o uso da língua e de nomes indígenas. O facto levou muitos angolanos, por seu lado, a desprezarem inconscientemente os nomes ancestrais, recusando-se a serem conhecidos por tais nomes». 
Avelino Sayango e esposa, Sra. Ludia

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