segunda-feira, 30 de novembro de 2015
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
"Dá licença, comadre?"
"Entra, compadre."
"Esse almoço sai ou não sai?"
"Falta pouco. Pode sentar, compadre, vou só passar uma toalha no rosto. Esta cozinha aquece como!" (risos)
"Estou em casa, querida comadre, não se preocupe. O outro está?"
"Esse almoço sai ou não sai?"
"Falta pouco. Pode sentar, compadre, vou só passar uma toalha no rosto. Esta cozinha aquece como!" (risos)
"Estou em casa, querida comadre, não se preocupe. O outro está?"
"O compadre tem pouca sorte. Ele esta semana não vem almoçar, está apertado no serviço."
"É verdade. O trabalho quando aperta, é mesmo a pão e gasosa..."
"Vai um copo de 'cisangwa', compadre?"
"A comadre sabe que não sei negar a vossa 'cisangwa' caseira."
"O teu compadre é que não gosta muito, prefere o vinho dele..."
"É um pecado, comadre, ter tudo e não ver."
"Mba falaste mesmo. Haka! Veio falar com ele?"
"Sim. Quer dizer... não. Até não sei como começar..."
"É assim tão difícil falar comigo, compadre?"
"... Eu às vezes penso muito. A comadre tem essa forma de me tratar bem que, lá em casa, com a outra, a pessoa... quer dizer, não encontra. A maneira como a comadre faz as coisas. Como está sempre perfumada, o sorriso. Comadre, vai-me desculpar, mas sinto que há uma linda história de amor entre nós que nos falta viver..."
"Eu com o compadre, o compadre comigo, não é?"
"A comadre sabe como é, essas coisas do destino..."
"Oh, meu compadre, não te preocupes. Assim que o teu compadre chegar do serviço, vou-lhe pedir autorização. Se ele aceitar..."
"Comadre! Não me estraga a longa amizade! O que é que ele vai pensar?! Já vi que a comadre me entendeu muito mal..."
"Ah, já vai? Não disse que tinha pressa. E o almoço, compadre, fica como? A resposta é na minha boca ou na do outro?"
"Ah, já vai? Não disse que tinha pressa. E o almoço, compadre, fica como? A resposta é na minha boca ou na do outro?"
GP, Benguela, 25.11.2015 (adaptação)
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
terça-feira, 24 de novembro de 2015
"O senhor prefere fazer o pagamento em multicaixa ou cash?"
"Hã?"
"Se o pagamento é em cash ou multicaixa..."
"Não entendi."
"Vai usar cartão ou vai pagar em dinheiro à mão?"
"Dinheiro à mão. Ai, cash, assim, é inglês?"
"Sim."
"Mas, então, porque é que estás a falar comigo inglês, se somos todos angolanos?"
"É o termo próprio."
"É o termo que vocês usam aqui?"
"Não só aqui, mas em todo o lado. Cash mesmo é dinheiro à mão."
"Mas, espera aí, isso tens que usar com quem estudou contabilidade, porque é linguagem técnica. Eu não estudei isso."
"Ai, é? (risos)"
"Não ri".
GP, Lobito, Nov. 2014
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
Conduzida por Kénia Sandão e gravada na quarta-feira, 06 de Agosto, a entrevista foi ao ar no domingo, 10 de Agosto de 2014. A conversa gravitou em torno da vivência e produção literária do escritor angolano Gociante Patissa, residente em Benguela. Perdeu-se alguma qualidade na imagem, mas o som compensa
PS: Utilidade pública
PS: Utilidade pública
Recebido o alerta quanto a ter sido removido o vídeo oficial da entrevista biográfica que o escritor Gociante Patissa concedeu em 2014 ao programa Fair Play, da TV Zimbo, conduzido por Kenia Sandão, e porque a nossa equipa entende que o conteúdo se mantém actual, estamos a cuidar de usar os meios ao nosso alcance para obter uma cópia do referido vídeo e consequentemente carregá-lo no Youtube, tão breve quanto possível, desta vez por nossa conta e risco. Gratos pela compreensão.
"Meu kota! Kota Kupatisa! O kota não está a me reconhecer, né?"
"Desculpa. Tu és..."
"O fulano! Meu kota, deixa só parar bem a mota para dar um abraço no kota Kupatisa... Grande kota..."
"Pois, és o fulano, sim. Mas já vai muito tempo que não nos vemos."
"Eu estava a cumprir. Recebi soltura só há dois meses e tal. Mas sempre que via o kota Kupatisa na televisão, lá mesmo na pení [penitenciária], os meus colegas não acreditavam. Eu lhes falava mesmo 'éste é meu kota lá da banda!'.
"Obrigado pela consideração."
"Nós estamos a acompanhar a carreira do kota. Primeiro mesmo foi naquele teu livro, A ÚLTIMA PESSOA A FALAR!"
"A Última Ouvinte?"
"É mesmo esse. Eu até lhes falava que o kota também já bumbou assim na rádio."
"Quer dizer, indirectamente, fiz programa de uma outra entidade através da Rádio Morena..."
"Vi na televisão o lançamento, aquilo é um grande livro, kota Kupatisa, A ÚLTIMA A FALAR!!! Continua mesmo assim, meu kota. E onde é que estão a vender?"
"Ah, ainda não tiveste contacto com o livro?"
"Ah, ainda não tiveste contacto com o livro?"
"A cunhada ouviu o mesmo que eu ouvi?"
"Até estou a tremer de medo!"
"Isso não pode ficar em branco, cunhada, só se eu não me chamo eu."
"A mim já não faltavam desconfianças. Mas hoje, finalmente, o malandro confessou..."
"Mas ele não tinha mais outro caminho para passar?"
"Eu só me questiono: cumprimentou só porquê?!"
"Aquilo lá um dia foi cumprimentar?!"
"Nesse ano [1984] de tanto acontecimento, o pai Bernardo com a perna partida, a minha filha com pássaro [convulsões], eu com tala [gangrena de origem não identificada], a unita [então movimento de guerrilha] a prometer novo ataque, vem logo ele..."
"Dizer 'mbwatale, nãwã yange, etali ndasanjuka' [boa tarde, minha cunhada, hoje estou contente]?"
"Esse homem é feiticeiro! Antes que aconteça outro azar, o soba tem que julgar. Uma pessoa de bem, com tudo o que estamos a ver na comuna, com a lua inclusive a surgir envolta em nuvens de sangue, o frio a queimar as plantas, o homem vai dizer que tem tempo de estar contente?"
GP, Benguela, 19.11.15
domingo, 22 de novembro de 2015
“Mas vocês não ouvem?! Anda, vão ver quem está a bater ao portão, pá!”
“Ó papá, é um tio quem tem lata de leite na mão.”
“Lata de leite?”
“Parece que é mestre, a lata está um pouco suja, tem tinta.”
“Dá licença, mano. Até já entrei. Não tem cão?”
“Sim, faz favor. Eu tenho azar, cão dos outros é guarda; o meu mais é que recebe visitas.”
“Assim as bruxas já lhe partiram a voz. Haka! Boa tarde, ainda.”
“Boa tarde. Está aqui o assento.”
“Obrigado. Ainda um copo de água?"
"Copo de água aqui para a visita!"
"Ah! A garganta quase a encravar! Mas estamos bem, é mesmo só a tal vida. Ainda pensamos andar pelos bairros, ver se encontramos trabalho. Somente.”
“Nós, também, é mesmo assim: dia bom, dia mau. O resto dos problemas… pronto… têm a nossa altura, podemos com eles.”
“Vimos que o mano tem uma casa, – sim, senhor! – até que uma pintura mesmo caía bem.”
“Pois. O problema costuma mesmo ser a escolha do caminho, se vamos para a tinta ou para a barriga. E é precisamente quanto?”
“Não te falo mentira. O mano costuma de vez em quando passear na cidade, não é?”
“Sim.”
“O mano, por exemplo, da Kaponte à zona comercial, não costuma ver que há lá umas casas bem pintadas, de frente e qualidade? Aquilo fui eu…”
“Espera aí! Você pensa que sou burro, não? Caramba! Então, um gajo que me aparece aqui com uma lata de leite vazia, dois pincéis no bolso, meio quilo de cal, vai mentir que pintou as casas de uma cidade toda, pá?”
GP, Katombela, 18.11.2015
sábado, 21 de novembro de 2015
É pensamento de quê então, a pessoa cumprimenta trinta vezes sem resposta?”
“Vai-me desculpar, minha prima. É nessa vida mesmo...”
“É preciso calma. Pensar só normal. Pensar muito é perigoso.”
“É perigoso, não é?”
“Eu tenho um cunhado que, nisso mesmo de pensar muito, chegou um dia, caiu. Coração lhe matou com pensar muito.”
“Estou a ver. Mas essa crise, prima, isso está duro!”
“Crise mais de como?”
“Dinheiro não aparece, tudo que é preço subiu, obra não anda…”
“Nós mba no kanegócio, como já nunca esperamos ganhar lá muito, não tem quase nada que mudou. Um bocado de lucro mesmo assim, no prato, as crianças e o tal pai dormem sono.”
“Um gajo até já não está a ver mais qual ideia para chegar no dinheiro.”
“Não? Ó primo, investe num cabrito!”
“Investir num cabrito? E depois?”
“Depois, você lhe amarra ao lado do banco. Cabrito come onde for amarrado. O primo afinal não sabia?…”
GP, Benguela, 15.11.15
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
“Bom dia, vizinho Notícia.”
“Bom dia, vizinho. Como é lá em casa?”
“Bem, mas, ainda, passamos. Somente.”
“Aqui, também, de queixar não temos. Saúde ainda há.”
“Queria só um remendo aqui entre as pernas.”
“É da bicicleta, não é?”
“Trabalho-casa-trabalho. Pedalar, pedalar. As nossas calças só rasgam só no meio das pernas.”
“É só deixar. Passa daqui a duas horas.”
“Duas horas tudo, para remendo pequeno?”
“Mas o mano quer como afinal?”
“Está bem. É quanto é?”
“Só depois do trabalho. O mano é de casa.”
“Mas esse valor dá para uma calça nova!”
“Como?”
“Não tenho tudo isso, acho que vou pagar em prestações.”
“Ah, mas o problema é que tenho uma viagem. Vou resolver um assunto ao Dombe-Grande, não sei se conhece…”
“Ah, olha só…! Desculpa, mestre Notícia, afinal tinha aqui no bolso o dinheiro. Mba o esquecimento…”
“Ah, olha só…! Desculpa, mestre Notícia, afinal tinha aqui no bolso o dinheiro. Mba o esquecimento…”
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
"Eu admiro aquele doutor, meu. É barra! E tem coragem científica também."
"Coragem científica?"
"Ya, o homem está sempre um passo à frente com qualquer ideia, mesmo a dele próprio. Mesmo até tem sempre um choque novo com alguém."
"Como assim?"
"Por exemplo: numa aula dupla, aquilo que ele te ensinou nos primeiros 45 minutos já não vale na segunda metade; assim já tem uma ideia diferente. se é na prova, te espeta negativa. Tudo pela ciência!"
"Hã...?!"
"Esse madiê será que agora dorme na geleira ou quê? Possas, pá, um gajo alegre, brincalhão, ficou assim?! Nem parece ele! Quer dizer, chega no meio dos outros, tão distante assim, todo frio, tipo que está doente?"
"Desde que foi nomeado. Ele agora é chefe.""Se só ele já é assim, o que está acima se comporta mais como?"
"É lixado. Cargos matam pessoa mesmo, ya?!"
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