sábado, 26 de dezembro de 2015
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Você já ouviu e expressão «no tempo do Caprandanda?»
É provável que sim, apesar do seu erro crónico. O correcto seria grafar
Kapalandanda, pois não temos «R» na língua Umbundu, ao passo que o «C» é
pronunciado [t∫i], e como tal diferente de «K».
Como veremos mais adiante, a história de
Angola pode estar a cometer uma injustiça por omissão, relativamente ao papel heróico
da figura do sul que atende pelo nome de Kapalandanda. A dúvida académica que
fica é: que critérios foram usados para enaltecer Mandume, Lueji, Njinga,
Ekwikwi e entretanto nada se dizer oficialmente de Kapalandanda? É que para além
de ser personagem de um tema de evocação no cancioneiro Umbundu, de si muito
explorado até 1991 enquanto trilha sonora pela Vorgan [Voz da Resistência do
Galo Negro], rádio da Unita [então forças rebeldes na guerrilha], pouco ou nada
da figura de Kapalandanda se passava de geração em geração.
A minha adolescência foi marcada por um
quadro complexo no Lobito, onde a residência se confundia com dependências das
administrações comunais da Equimina e Kalahanga (não ao mesmo tempo). Como a
circulação de pessoas e bens era mediante guias de marcha, “trabalhei” como
dactilógrafo do meu pai, na sua condição de Comissário e/ou Administrador Comunal,
mas sobretudo como pombo-correio da correspondência familiar entre Lobito,
Catumbela e Benguela, na maioria destes casos até… a pé.
A exposição à propaganda despertou cedo o
meu interesse de observador da política (talvez se deva a isso o facto de me
ser hoje inócua). Evidentemente, havia parentes que (às escondidas) não
alinhavam com o Mpla. Estamos a falar entre 1988 e 1991. Calhava encontrar este
ou aquele a ouvir a Vorgan, com o volume baixinho. A trilha
sonora dizia: «Kapalandanda walila / walilila ofeka yaye/ kapalandanda
walila /eh/ walilila ofeka yaye» (Kapalandanda chorou / chorou pela
sua Terra/ Kapalandanda chorou / oh/ chorou pela sua Terra). Mas quem foi ele e
chorou porquê? GP
2.
AGORA O PERFIL DE KAPALANDANDA
E SUAS FAÇANHAS:
Reproduzimos a seguir, com pequena
adaptação do blog www.ombembwa.blogspot.com,
o valioso contributo de Carlos Duarte, publicado no «Jornal o Chá», da Chá de
Caxinde, Nº 10 - 2ª série, Luanda, Abril/Maio 2014:
«Kapalandanda era sobrinho do Soba
Kulembe, da Catumbela. Ia ser Soba. Agiu de 1874-1886. Adolescente, ganhou
fama por ter morto sozinho um leopardo que andava a comer as cabras (…) Ainda
jovem, inconformado com a passagem e estadia de caravanas de (…) comércio,
levando panos e sal para o Huambo – Bailundos – e trazendo borracha, cera, mel
e marfim – sem pagamento, pediu uma audiência ao Soba, seu tio, e aos sekulus,
onde tentou convencê-los a que fosse cobrada uma taxa – «Onepa» - a essas
caravanas. O Soba, acomodado e com medo da reação dos colonos, não concordou. Kapalandanda então
reuniu um grupo de guerreiros e foi para o mato, armar emboscadas e assaltar as
caravanas, cujo produto, confiscado, era em parte distribuído pelos kimbos do
sobado.
Quando os colonizadores tomaram
conhecimento, foram falar com o Soba para que tomasse providências e acabasse
com essa resistência. O Soba reuniu os melhores guerreiros e ordenou-lhes que
fossem pegar Kapalandanda. Mas o resultado foi o contrário do previsto. O grupo
de Kapalandanda dominou e derrotou fácil os guerreiros de Kulembe. Os
colonizadores resolveram então fornecer armas de fogo o Kulembe, acreditando
que, com essa vantagem, acabariam com o grupo guerrilheiro.
Mas Kapalandanda, agindo como um
Robin Hood angolano, tinha já granjeado a simpatia de grande parte dos kimbos
do sobado; então, emissários dos kimbos saíam para avisá-lo da movimentação das
forças de Kulembe, o que lhe deu condições de espera-las para o confronto, em
local que lhe era propício, anulando assim a vantagem das armas de fogo.
Uma vez mais a tropa de Kulembe foi derrotada, e Kapalandanda ficou
melhor armado. Os colonizadores resolveram então enviar uma companhia de tropa
portuguesa, comandada por um capitão de nome Almeida, para submeter Kapalandanda. O encontro deu-se no Sopé do Passe. O
grupo de Kapalandanda saiu derrotado
e ele levado preso, primeiro para o Forte da Catumbela, e depois para S. Tomé.»
Ao ler este relato de
Duarte, evidente se torna que a história de Kapalandanda merecia ser mais divulgada,
o que representaria um importante precedente pelo levantamento de mais bravos
filhos que deram a vida para chegarmos a Angola independente.
Gociante Patissa, Benguela,
24.12.15
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
domingo, 20 de dezembro de 2015
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
Durante três meses, fizemos o trajecto Lobito-Benguela de autocarros públicos, o colega Antonio Firmino Antonio e eu, frequentando o curso básico de jornalismo (Rádio, TV, Imprensa) ali na Biblioteca do Instituto Camões em Benguela, ao lado do IMNE, na Kambanda, no ano de 2005. No dia do encerramento, entrevistaste-me logo a seguir à entrega de certificados. Estávamos felizes, tu mais ainda, pois tinhas o encaminhamento melhor definido, ou não acabasses de receber o convite para ingressar como colaborador na Rádio Lobito, editoria de Língua Umbundu, equipa que tinha, entre outros, nomes célebres como os mais-velhos Joaquim Viola, Evaristo Kakulete, Emiliana Nasoma. Os demais colegas (entre os quais eu e outros com afinidade à inoperante Rádio Ecclesia) ficaram com a esperança de concorrer a eventual vaga na Direcção Provincial da Comunicação Social, talvez fruto de alguma má interpretação no calor do discurso do seu titular. Era só isso. Obrigado.
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
1. Apanhando boleia de uma publicação no mural de Reginaldo Silva, que citava de memória uma passagem captada de uma rádio, considerando que "o crioulo das Antilhas é um francês mal falado, tal como o de Cabo-Verde será um português todo à toa.", o que ele vê como deselegância...
2. Não deixa de representar mais um ponto de reflexão para os desleixos crónicos que temos enquanto sociedade angolana a lidar com o dossier das identidades (olhando mais atentamente para as idiossincrasias dos grupos étnicos que compõem a grande identidade do projecto de nação), pelo seguinte: Cabo-Verde, Guiné Bissau, entre outros, dão valor ao seu crioulo, pejorativamente visto como corrupção com base na língua portuguesa,
3. Já nós, que até temos línguas só mesmo nossas, como o Kimbundu e Umbundu, sem falar das línguas fronteiriças, assobiamos para o lado, perpetuando a secundarização daquilo que é nosso património. Não admiraria, pois, que num futuro breve tenhamos de priorizar o Mandarim, a língua dos nossos "irmãos" chineses, com cursos de licenciatura em Linguística deste idioma oriental.
GP, Benguela, 15.12.15
domingo, 13 de dezembro de 2015
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
I -
UMBUNDU
"Sesa,
kocitali!"
"Oco! Vaiñinle."
"Oco! Vaiñinle."
"Nangau, a sekulu."
"Kuku!"
"Tweya, a sekulu, ame lukwetu. Uhayele
wusupoka. Cakwavo ovopange lika. Ovipala vyetu tusima tuti vilinga ndayu ka
vyasyatele. Tuvakwaseketa yolusu. Tupita njo la njo okutala ndamupi ovina
vyenda."
"Cayevala. Etu vo, handi mba, tuñwãlãñwãlã.
Lokepya ka twaindele, owesi waco wetimba lyositu."
"A sekulu, 'olofactura vyovyo?"
"Olofactura? Vya nye?"
"Vyokufeta mwenle olusu..."
"Mba ka pali."
"Tê okufeta owola yilo mwenle..."
"Oyeveti nye?! Ame ame ndifeta olusu vofeka
yange? Etu twayaka, twapunyolohã, okulupuka la cikolonya kaputu, hã... toke opo
cikolonya watusumba... kaliye, okuti twakuka, ove oyeveti 'tê tufeta
olusu'?!"
"Oco pwãi tuyiteta. Oñoma eyi, etu ha tu ko
tutukula; tukwãi mo ño vokupiluka."
"Oco pwãi eci twayakela cipi?"
II
- PORTUGUÊS
"Dá
licença no quintal!"
"Sim!"
"Sim!"
"Bom dia, mais-velho."
"Obrigado!"
"Estamos cá, mais-velho, o meu colega e eu. Saúde temos em abundância. O
resto é mesmo só o tal trabalho. Creio que os nossos rostos não vos soam
familiares. Somos do sector da Energia. Estamos a passar de casa em casa a ver
como vão as coisas."
"Entendi. Por cá também, por acaso, há saúde para dar e vender. Se não
fomos à lavra, na verdade não passa de preguiça própria de um corpo
humano."
"Mais-velho, tem aí as facturas?"
"Facturas? De quê?"
"Do consumo de energia mesmo..."
"Por acaso, não."
"Terá de pagar neste momento."
"Disseste o quê?! Eu é que vou pagar pela energia no meu país? Nós que
lutamos, o corpo cheio de mazelas, para correr com o colono, hã... até aqui o
colono não esquece o peso da nossa força... hoje, que estamos velhos, tu me
vens falar em pagar pela luz?!"
"Neste caso, vamos fazer o corte. É um tipo de farra em que não colocamos
nós mesmos a música; só dançamos conforme nos orientam."
"Neste caso, por que causas lutamos?"
GP,
Katombela, 07.12.15
segunda-feira, 7 de dezembro de 2015
domingo, 6 de dezembro de 2015
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