Recebi de oferta o disco de estreia de Antonio Firmino Antonio "Tula",
conhecido sobretudo pela sua faceta de locutor de língua Umbundu na Rádio
Lobito. O homem completa neste dia 4 de Março mais um ano de vida,
contagem que começou em 1977.
A nossa amizade remonta ao ano de 2005,
quando nos sentamos na carteira para aprender jornalismo e técnicas de
comunicação, no Instituto Camões em Benguela, que albergava o curso
básico de quatro meses, promovido pela APHA e respaldado pela Direcção
Provincial da Comunicação Social. Na sua terceira temporada, era até então o
que de melhor havia (se não mesmo o único) em termos de formação de
profissionais do ramo. Residíamos ambos no Lobito e o trajecto era feito na
maior parte das vezes em pé de autocarro, destes transportes colectivos e
democráticos, que juntam o operário, o funcionário público e a candongueira e
respectivos cestos com peixe e hortaliças numa mesma corrida.
Na primeira impressão ao ouvir as músicas
do Tula, é impossível dissociar o locutor do cantor, ou não habitassem ambos na
mente de um ser comprometido com a valorização da sua cultura através da
tradição oral, comprometido com a missão de inverter a tendência decadente da
conduta social, enfim, um mensageiro. É nas faixas 08 e 12 que me parece termos
o ponto mais alto da criação, onde ritmo, harmonia, colocação de vozes e
relevância do conteúdo batem no mesmo compasso.
Como quem parte em viagem para explorar
novos sonhos e caminhos, olhemos para este primeiro CD como se fosse um
percurso de ida, vai faltar o regresso, que é a parte mais confortável da
viagem. Sim, o amigo Firmino Tula, com essa estreia, acaba de franquear as
portas para um desafio ingente. A persistência, a capacidade de ouvir e
permitir-se à auto-crítica, entre outros valores do fazer artístico, é que vão
determinar se vinga no ramo da música ou se se vai dar por satisfeito com uma
única experiência.
Para terminar, se me permite a
brincadeira, gostaria de discordar do título, segundo o qual - cito - «a minha
vida mudou». Não, a tua vida está intrinsecamente ligada à vida do teu povo,
das suas aspirações e da luta pela preservação e divulgação cultural. Logo, se
neste campo ainda não há mudanças encorajadoras, a tua vida também não pode, ó
activista social, ter mudado. O caminho é para frente, e vamos a isso. Estou
contigo.
Gociante Patissa, Benguela, 2 Março 2015
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