Fiquei
na dúvida sobre a moral de uma fábula, ou ao menos do essencial que me foi
contado, se a atitude do personagem é para ser vista pela positiva ou pela negativa.
A
narrativa é atribuída ao escritor Uanhenga Xitu (cujo pseudónimo seria a
conversão para a língua Kimbundu de um adágio Umbundu, qualquer coisa como “wayenga ositu olonyi vyukwãyi”, ou seja, aquele que prepara a carne é
seguido por moscas).
Havia
uma assembleia de animais, com representatividade de todas as espécies. Devia ser
grande a despesa, estou mesmo a imaginar, tendo em conta a logística que geralmente
caracteriza grandes encontros, muitas vezes, como cantou certa vez um amigo,
gastando nos comes e bebes muito mais do que o necessário para resolver o
problema analisado. Bom, eu já é que estou a aumentar. O outro contou apenas
que o encontro levava umas boas horas de conversa (nunca faltando uns que
ressonam, já cientes de que só por milagre lhes seria concedida a palavra). Aí,
discussão maus discussão, começa a chover. Chuva mesmo de gotas de um litro, o
quase, impondo dispersão.
Cada
animal saiu dali a correr para o conforto do seu pequeno mundo, aquilo a que os
biólogos chamam de habitat, quase sempre acolhidos por generosas árvores ou
arbustos, não esquecendo os das tocas e cavernas. Tudo isso, para escapar da
chuva, não molhar. O jacaré também, aliás no mesmo instante que os demais, foi
a correr para o rio.
Voltando
à dúvida. O jacaré teria sido movido por solidariedade, ou seria a negação si
mesmo, para assumir identidade alheia, nessa busca de status? Vamos
ao debate.
2 ondaka twatambula- comentários:
O provérbio em kimbundu ao qual Agostinho Mendes de Carvalho foi buscar o seu pseudónimo literário deve ser Uanhenga xitu, nguma ia jimbua, quem leva carne é inimigo dos cães, de acordo com a Grammatica Elementar do Kimbundu ou Lingua de Angola, de Héli Chatelain, Genebra 1888-89, pág. 140.
Como não acredito em verdades absolutas, meu caro amigo, mantenho válidas tanto a versão que traz como a que recolhi. Assim, sai o saber a ganhar.
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