Há pouco
mais de um ano as redacções dos órgãos de comunicação social receberam um
documento do Ministério da Administração do Território (MAT) a orientar a forma
como se deveria grafar a toponímia angolana, ou seja, como escrever os nomes
das localidades. O documento eliminava a letra k dos nomes de muitas
localidades, entre as quais o Kuando Kubango, que o Ministério entendeu que se
deveria escrever Cuando Cubango. O mesmo se passou com o ‘Cuanza Sul’ e ´Cuanza
Norte’, apesar do Kwanza da moeda naconal, sabendo que o nosso Kwanza deve o
seu nome ao maior rio de Angola e aquelas duas províncias também. Uma está a
Norte do rio a e outra a Sul do rio. Havia outras alterações.
As
alterações do MAT, em alguns casos ou nos levavam ao Acordo Ortográfico dos
outros, ou nos colocavam numa situação que nos remetia à época colonial, ao
transformar o Kunje (no Bié) outra vez em Stº António Gare e o Waku Kungu em
Cela, apenas.
Os
recentes dias de FENACULT um encontro de técnicos do Instituto de Línguas
Nacionais veio recomendar que os nomes de origem bantu sejam escritos segundo o
alfabeto bantu internacional, ou seja, o regresso ao k, por exemplo e às
palavras nasaladas como Ndongo ou Ndalatando. Parece- me ter ficado claro que a
orientação do MAT, que não era decreto nem resultava de alguma concertação do
Conselho de Ministros, tinha sido dada sem prévia consulta ao Instituto de
Línguas Nacionais. Suponho que nem ao Ministério da Cultura. Resultado: uma
grande confusão, com documentos oficiais ora com K, ora com C. e os manuais
escolares também com o k.
É hora
de o MAT (des)orientar o Jornal de Angola e a TPA para que voltem a escrever
Kuito, Kuando Kubango, porque nos jornais do fimde- semana passado, por
exemplo, toda a gente escreveu com o K. ou então, o MAT que publique uma nota
mais oficial, resultante de um decreto, para o qual, obviamente terão sido
escutados os especialistas e instituições oficiais.
José Kaliengue, director do Jornal o País, Luanda, 29/09/14
Nota do editor do Blog: Não houve ontem - (refiro-me à era do jugo colonial e respectiva visão etnocentrista) -, como não há hoje - (que somos um país soberano, o que pressupunha não só de território mas sobretudo de fomento de estudos para recompor o tecido identitário) - , diálogo intercultural. É a nossa sina!
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