(...) Certa vez, abriu a cabeça a uma pioneira, o que a fez passar à vítima. E como Ndulu era todo azares, as queixas caíram nas mãos do Camarada-professor-kambuta-comunal. Severino Paulino, de seu nome completo, chegava a ser severo a dar com pauzinho.
— Quero aqui a tua mãe amanhã, Ndulu!
— Não vai dar, camá-prussó.
— Não o quiêêê?
— Não vai dar. A mamã está incomodada. — mentiu, com cara de meter pena, esperando ser perdoado. Inventou a doença da mãe. Tinha vergonha de ser vista pelos colegas, por causa daquele problema do lixo nos dentes e só falar Umbundu. Mas o resultado lhe saiu pior que a emenda. O Camarada-professor-kambuta-comunal era mesmo duro.
— Então traz o papá, como é você então?!
— Não tenho, camá-prussó, a minha mãe é hortelã…
Uma rajada de gargalhadas ensurdeceu a turma. Ndulu quis dizer que a mãe era viúva, substantivo que, à semelhança de hortelã, em Umbundu se diz "ocimbumba". Mas viúva era palavra rara nos livros da primária, vai daí ser por ele desconhecida. A gargalhada prolongou-se com a cumplicidade do professor, deixando Ndulu acabrunhado. Depois, silêncio. Outra vez risadas. Ouviu-se do fundo da sala uma voz indisciplinada (...)
Gociante Patissa, trecho do conto MINHA MÃE É HORTELÃ, um dos 13 que compõem o livro de contos FÁTUSSENGÓLA, O HOMEM DO RÁDIO QUE ESPALHAVA DÚVIDAS, já no prelo, com publicação provável em 2014
PS: a da foto é uma tia minha, nada tendo a ver com o texto, que é ficção pura.
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