O regime colonial, que tanto mal às nossas línguas e à estrutura familiar dos nossos avós fez, manteve o "K" de Katombela, talvez por reconhecer que se trata de palavra com origem em outro idioma de matriz Bantu (não forçosamente latina). Quando somos já soberanos, em pleno século 21, ouvimos falar de um projecto de lei do Ministério da Administração do Território em "dizimar" o "K", "Y" (e porque não o "W") na toponímia. Assim, o KK de Kwandu-Kuvangu passa para o museu, que o que manda mesmo é o "C", tal como em Kanjala. Como digo, de tão iguais que nos esforçamos enquanto herdeiros da assimilada civilização, perdemo-nos. Para que serve o esforço no ensino das línguas nacionais no sistema formal, se aos poucos se legitima oficialmente a aniquilação da memória destas? Segue-se uma matéria sobre o assunto
Nova toponímia do MAT é ilegal
23-09-2013 | Fonte: Jornal OPAÍS
A nova toponímia da divisão político-administrativa de Angola, lançada recentemente pelo Ministério da Administração do Território (MAT), ainda não tem qualquer suporte legal para a sua implementação, segundo declarações prestadas a O PAÍS pelo director do Centro de Documentação e Informação (CDI), deste órgão, Antunes Guanje.
O documento, elaborado pela Direcção Nacional de Organização do Território (DNOT), que pretende devolver a toponímia antiga a várias localidades (municípios e comunas), só será aplicado depois de ser aprovado pelas autoridades competentes, mormente o Conselho de Ministros, segundo Antunes Guanje. “Ainda nada está oficializado, se calhar o documento carecerá de mais contribuições”, resumiu.
Segundou apurou O PAÍS, os estudos feitos sobre a toponímia, basearam-se na uniformização da grafia sobre a divisão política e administrativa do país, segundo um documento enviado a este jornal em Julho do ano em curso pelo Centro de Documentação e Informação. De um total de 161 municípios que constituem a carta geográfica do país, à excepção da província de Luanda, a maior parte alterará a sua grafia actual.
Como publicou O PAÍS, na sua edição de 23 de Agosto, a nova grafia do MAT extinguirá letras como o “K”, que é usado na escrita do nome de vários municípios e comunas. Haverá também a aglutinação de vários nomes, que na actual grafia não se faz sentir. A maior parte destes nomes deriva de línguas nacionais.
Aliás, após à conquista da Independência Nacional, em 1975, muitas localidades que tinham nomes aportuguesados voltaram a ter os seus nomes originais um pouco por quase todo o país. A devolução de uns e a aplicação de novos nomes basearam-se em factores histórico-culturais e políticos de cada região do país. Como é o caso da legendária cidade de Mbanza Congo, que com a chegada dos portugueses passou a designar-se de São Salvador, o Soyo, como sendo Santo António do Zaire. Menongue (Venongue), Serpa Pinto, Nankova, ex-Vila Nova de Armada.
Depois da Independência voltaram a ganhar os seus próprios nomes expressos nas línguas locais.
O aportuguesamento alterou o nome de muitas localidades. De entre os vários cita-se o caso do actual município de Pango-Aluquém, cujo nome original em língua nacional kikongo é Mpangui a Lukengue (irmão do Lukengue). Outro caso é o da Tchikala Tcholoanga, que é Cikala Colohanga, que significa (ninho de codorniz), município do Huambo, antiga Vila-Nova.
Estes são apenas exemplos das muitas alterações que foram feitas ao longo dos tempos. Existem localidades cujos nomes não sofreram quaisquer modificações ou influências do aportuguesamento. Banga, Lucala, Ngonguembo, sede do município do Quilombo dos Dembos, são algumas destas circunscrições que mantêm os seus nomes no Kuanza Norte.
Quase todos os municípios e comunas possuem nomes em línguas nacionais, havendo pouquíssimos com nomes portugueses na sua originalidade. Casos de Serra da Canda, Negage, Alfândega (comuna do Sanza Pombo), Béu (Maquela do Zombo) e Bela Vista (comuna do Ambriz), na província do Bengo, a mais nova do país, surgida em 1980.
O que vai mudar
A notícia avançada já por este semanário em Agosto último sobre a nova grafia, ressalta a alteração das letras K e Y, ou seja, os nomes de localidades como Kangala, Kuando Kubango, Kuito, passando a escrever-se inicialmente com o caracter “C”, caso esta iniciativa do MAT passe pelo crivo do Conselho de Ministros.
O K continuará em pouquíssimas localidades tais como Kikolo, Kilamba Kiaxi e Kunda-dia-Base, em Malanje. A letra Y continuará nos nomes como Soyo, Hojy ya Henda e Tala-Hady. Estes dois últimos são em Kimbundu e pode-se encontrar em várias circunscrições e/ou bairros das províncias de Malanje e Kuanza Norte, onde se fala esta língua, a segunda mais falada no país, depois do umbundu.
Outras alterações poderão verificar-se também na nasalação de alguns nomes, sobretudo os que se expressam em umbundu, que, por natureza, é uma das línguas muito nasaladas. Dos muitos, segundo publicou já este jornal ficam poucos: Mbave, Nhârea, Lumbala Nguimbo, Nsosso, nas províncias do Huambo, Moxico e Uige, respectivamente.
Instituto de Línguas Nacionais reage
Sobre o assunto, um funcionário desta instituição contactado por O País mostrou-se surpreendido com o documento produzido pelo MAT, alegando que a sua instituição não foi notificada para dar o seu parecer, embora diga ser uma parceira privilegiada do Ministério da Administração do Território. “Estou surpreendido com esta notícia, porque não fomos contactados”, desabafou a fonte.
Depois de observar o documento, a fonte que não quis identificar-se por falta da autorização para falar sobre o assunto, acrescentou que o mesmo necessita de mais contribuições no que concerne à grafia, apontando haver erros na escrita dos nomes de muitas localidades.
“O documento precisa de um apoio pedagógico, ser corrigido, porque há nomes que estão mal escritos”, declarou. Por isso, alertou a fonte, quem de direito deve rever a situação, contactando entendidos na matéria para se clarificar a grafia antroponímica, antes de o documento ser remetido aos órgãos competentes para a sua aprovação. Concluiu dizendo que caso não for corrigido correrá o risco de ser aprovado tal como está.
O documento, elaborado pela Direcção Nacional de Organização do Território (DNOT), que pretende devolver a toponímia antiga a várias localidades (municípios e comunas), só será aplicado depois de ser aprovado pelas autoridades competentes, mormente o Conselho de Ministros, segundo Antunes Guanje. “Ainda nada está oficializado, se calhar o documento carecerá de mais contribuições”, resumiu.
Segundou apurou O PAÍS, os estudos feitos sobre a toponímia, basearam-se na uniformização da grafia sobre a divisão política e administrativa do país, segundo um documento enviado a este jornal em Julho do ano em curso pelo Centro de Documentação e Informação. De um total de 161 municípios que constituem a carta geográfica do país, à excepção da província de Luanda, a maior parte alterará a sua grafia actual.
Como publicou O PAÍS, na sua edição de 23 de Agosto, a nova grafia do MAT extinguirá letras como o “K”, que é usado na escrita do nome de vários municípios e comunas. Haverá também a aglutinação de vários nomes, que na actual grafia não se faz sentir. A maior parte destes nomes deriva de línguas nacionais.
Aliás, após à conquista da Independência Nacional, em 1975, muitas localidades que tinham nomes aportuguesados voltaram a ter os seus nomes originais um pouco por quase todo o país. A devolução de uns e a aplicação de novos nomes basearam-se em factores histórico-culturais e políticos de cada região do país. Como é o caso da legendária cidade de Mbanza Congo, que com a chegada dos portugueses passou a designar-se de São Salvador, o Soyo, como sendo Santo António do Zaire. Menongue (Venongue), Serpa Pinto, Nankova, ex-Vila Nova de Armada.
Depois da Independência voltaram a ganhar os seus próprios nomes expressos nas línguas locais.
O aportuguesamento alterou o nome de muitas localidades. De entre os vários cita-se o caso do actual município de Pango-Aluquém, cujo nome original em língua nacional kikongo é Mpangui a Lukengue (irmão do Lukengue). Outro caso é o da Tchikala Tcholoanga, que é Cikala Colohanga, que significa (ninho de codorniz), município do Huambo, antiga Vila-Nova.
Estes são apenas exemplos das muitas alterações que foram feitas ao longo dos tempos. Existem localidades cujos nomes não sofreram quaisquer modificações ou influências do aportuguesamento. Banga, Lucala, Ngonguembo, sede do município do Quilombo dos Dembos, são algumas destas circunscrições que mantêm os seus nomes no Kuanza Norte.
Quase todos os municípios e comunas possuem nomes em línguas nacionais, havendo pouquíssimos com nomes portugueses na sua originalidade. Casos de Serra da Canda, Negage, Alfândega (comuna do Sanza Pombo), Béu (Maquela do Zombo) e Bela Vista (comuna do Ambriz), na província do Bengo, a mais nova do país, surgida em 1980.
O que vai mudar
A notícia avançada já por este semanário em Agosto último sobre a nova grafia, ressalta a alteração das letras K e Y, ou seja, os nomes de localidades como Kangala, Kuando Kubango, Kuito, passando a escrever-se inicialmente com o caracter “C”, caso esta iniciativa do MAT passe pelo crivo do Conselho de Ministros.
O K continuará em pouquíssimas localidades tais como Kikolo, Kilamba Kiaxi e Kunda-dia-Base, em Malanje. A letra Y continuará nos nomes como Soyo, Hojy ya Henda e Tala-Hady. Estes dois últimos são em Kimbundu e pode-se encontrar em várias circunscrições e/ou bairros das províncias de Malanje e Kuanza Norte, onde se fala esta língua, a segunda mais falada no país, depois do umbundu.
Outras alterações poderão verificar-se também na nasalação de alguns nomes, sobretudo os que se expressam em umbundu, que, por natureza, é uma das línguas muito nasaladas. Dos muitos, segundo publicou já este jornal ficam poucos: Mbave, Nhârea, Lumbala Nguimbo, Nsosso, nas províncias do Huambo, Moxico e Uige, respectivamente.
Instituto de Línguas Nacionais reage
Sobre o assunto, um funcionário desta instituição contactado por O País mostrou-se surpreendido com o documento produzido pelo MAT, alegando que a sua instituição não foi notificada para dar o seu parecer, embora diga ser uma parceira privilegiada do Ministério da Administração do Território. “Estou surpreendido com esta notícia, porque não fomos contactados”, desabafou a fonte.
Depois de observar o documento, a fonte que não quis identificar-se por falta da autorização para falar sobre o assunto, acrescentou que o mesmo necessita de mais contribuições no que concerne à grafia, apontando haver erros na escrita dos nomes de muitas localidades.
“O documento precisa de um apoio pedagógico, ser corrigido, porque há nomes que estão mal escritos”, declarou. Por isso, alertou a fonte, quem de direito deve rever a situação, contactando entendidos na matéria para se clarificar a grafia antroponímica, antes de o documento ser remetido aos órgãos competentes para a sua aprovação. Concluiu dizendo que caso não for corrigido correrá o risco de ser aprovado tal como está.
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