Voltei ao bairro em que cresci e me deu as
dificuldades (para amadurecer) e as alegrias (para o necessário equilíbrio). É
uma sanzalita chamada Santa Cruz. Querem agora que a achemos no município da
Catumbela, mas o bom mesmo é que as ordens administrativas não comandam
memórias - logo, aquilo Lobito é. Morei lá entre 1987 e 2008. Mãe de um é tia
de todos, pai também, o mesmo com os irmãos. Também é colectiva a dor, a perda
ou, quando for o caso, a vergonha. Gosto de interagir com jovens, mas gosto
muito mais é de ouvir os mais-velhos, mergulhar em seus suspiros, diálogos, sem
deixar de estar atento às pragas rogadas, sejam abertas ou veladas. Em Umbundu,
quase tudo é por atalhos, servido na bandeja da metáfora, do fragmentado, da
inferência. Na saudação, um breve tema de conversa com uma vizinha (a
propósito, nós não temos isso em Umbundu, não dizemos o seu equivalente literal
"una tulisungwe", mas sim "ukwetu umwe tukasi laye kumwe",
ou seja, uma pessoa companheira). A mais-velha lamentava-se de vários óbitos em
dias seguidos, ao que se seguiu um profundo... "OSONGO YASENGA". No
contexto do diálogo, queria dizer que o bairro está sem graça. Mas
"osongo" pela mesma grafia e fonia pode também significar semente, ao
passo que com uma ligeira alteração na entoação pode significar espinho.
Gociante Patissa
Gociante Patissa
2 ondaka twatambula- comentários:
gosto dos textos publicados neste blogue. Gostaria de ser autorizada a traduzir alguns em Umbundu.
É que eles retratam bem a nossa cultura e podem ser úteis como documentos a servir de base quer para praticar, quer para introduzir lições sobre as nossas Línguas Nacionais.
Judite chimuma
Cara Judite, é bem-vinda a colaboração. Vamos então juntar vontades para divulgação da nossa identidade.
Cumprimentos de Benguela
Gociante Patissa
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