segunda-feira, 14 de julho de 2014

É frequente ouvir-se a referência ao “tempo de caprandanda” (grafia errada, pois não temos “R” em Umbundu e o “C” tem pronúncia diferente de “K”). Quando foi e o que houve?

A minha adolescência foi marcada por um quadro complexo no Lobito, onde a residência se confundia com dependências das administrações comunais da Equimina e Kalahanga, uma alguns anos depois da outra. Como as deslocações de pessoas e bens eram mediante as guias de marcha, “trabalhei” também como dactilógrafo do meu pai, na sua condição de Comissário Comunal, mas sobretudo como pombo-correio da correspondência familiar entre Lobito, Catumbela e Benguela, na maioria destes casos até… a pé.

A exposição à propaganda despertou cedo o meu interesse de observador da política. Evidentemente, havia familiares que (às escondidas) não alinhavam com o Mpla. Estamos a falar entre 1988 e 1991. Calhava encontrar este ou aquele a ouvir a Vorgan, rádio da Unita, com o volume baixinho. Foi assim que certo dia retive um trecho dolente do cancioneiro Umbundu num gingle: “Kapalandanda walila / walilila ofeka yaye/ kapalandanda walila/ walilila ofeka yaye” (Kapalandanda chorou / chorou pela sua Terra/ Kapalandanda chorou / oh/ chorou pela sua Terra). Mas quem foi e chorou porquê? GP

NOTA DO BLOGUE OMBEMBWA: Segue-se, com pequena adaptação, o contributo de Carlos Duarte, in «Jornal o Chá», da Chá de Caxinde, Nº 10 - 2ª série, Abril/Maio 2014:

“Kapalandanda era sobrinho do Soba Kulembe, da Catumbela. Ia ser Soba. Agiu de 1874-1886. Adolescente, ganhou fama por ter morto sozinho um leopardo que andava a comer as cabras (…) Ainda jovem, inconformado com a passagem e estadia de caravanas de (…) comércio, levando panos e sal para o Huambo – Bailundos – e trazendo borracha, cera, mel e marfim – sem pagamento, pediu uma audiência ao Soba, seu tio, e aos sekulus, onde tentou convencê-los a que fosse cobrada uma taxa – «Onepa» - a essas caravanas. O Soba, acomodado e com medo da reação dos colonos, não concordou. Kapalandanda então reuniu um grupo de guerreiros e foi para o mato, armar emboscadas e assaltar as caravanas, cujo produto, confiscado, era em parte distribuído pelos kimbos do sobado.

Quando os colonizadores tomaram conhecimento, foram falar com o Soba para que tomasse providências e acabasse com essa resistência. O Soba reuniu os melhores guerreiros e ordenou-lhes que fossem pegar Kapalandanda. Mas o resultado foi o contrário do previsto. O grupo de Kapalandanda dominou e derrotou fácil os guerreiros de Kulembe. Os colonizadores resolveram então fornecer armas de fogo o Kulembe, acreditando que, com essa vantagem, acabariam com o grupo guerrilheiro.

Mas Kapalandanda, agindo como um Robin Hood angolano, tinha já granjeado a simpatia de grande parte dos kimbos do sobado; então, emissários dos kimbos saíam para avisá-lo da movimentação das forças de Kulembe, o que lhe deu condições de espera-las para o confronto, em local que lhe era propício, anulando assim a vantagem das armas de fogo.

Uma vez mais a tropa de Kulembe foi derrotada, e Kapalandanda ficou melhor armado. Os colonizadores resolveram então enviar uma companhia de tropa portuguesa, comandada por um capitão de nome Almeida, para submeter Kapalandanda. O encontro deu-se no Sopé do Passe. O grupo de Kapalandanda saiu derrotado e ele levado preso, primeiro para o Forte da Catumbela, e depois para S. Tomé.” 

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