O Natal dos filhos e netos de Victor Manuel Patissa e Emiliana Chitumba Gociante, bem como de alguns parentes por afinidade, vivido na casa nossa de férias na cidade de Benguela, foi cheio de improvisos e recreação inter-geracional. Cantamos, dançamos, transmitimos valores de cultura e identidade às crianças, saiu um coral de hinos cristãos (sem ensaios), valorizamos a língua Umbundu. VALEU MUITO, QUERIDA FAMÍLIA!
quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
"Cimboto ka lumana, pwãi layumwe
wotikitiyile omwine vomenlã waye"
(adágio legado pela senhora nossa mãe Emiliana Citumba
Gociante. Grafia propositadamente rebelde face desactualizada norma)
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Alguém arrisca? Obrigado | www.ombembwa.blogspot.com
domingo, 17 de dezembro de 2017
Foto: Angop |
Tomei conhecimento do anúncio feito por vossa excelência quanto à instituição de um prémio para a literatura feita em línguas nacionais em Angola, aquelas que heroicamente resistem há séculos à hegemonia institucional e institucionalizada do "monstro" e pouco dialogante no campo-intercultural de nome língua portuguesa.
É realmente louvável este gesto sob o ponto de vista da sua motivação, que é fomentar a valorização das línguas e com isto a intrínseca virtude da valorização cultural.
Já não estou tão de acordo quanto à estratégia do ponto de partida. Premiar indivíduos não é nem sustentável nem reflexo de um diagnóstico assertivo da problemática das línguas nacionais de matriz bantu e pré bantu.
Há que criar as bases, começando por concluir o estudo encomendado há mais de cinco anos a académicos africanos para a HARMONIZAÇÃO das grafias.
Embora concordemos com a axiologia segundo a qual a escrita de uma língua é algo artificial, se virmos o fenómeno linguístico como processo de aquisição inconsciente e reflexivo, uma vez que o natural da aquisição de uma língua ocorre por meio da imitação e da repetição, também não estaremos a afiançar nenhum dislate se advogarmos que a codificação/normatização é determinante para impor uma língua como factor de aprendizagem sustentado pela cientificidade.
Qual é afinal a posição do Estado angolano relativamente à dualidade ortográfica que nos "divide" entre católicos e convencionalmente bantus, com toda a dispersão que isto representa? Irá o júri optar pela norma do Instituto de Línguas Nacionais ou ficará em cima do muro? Iremos escrever "Kanjala" (pequena fome, que remete para um eventual episódio de estiagem no passado, onde o prefixo "ka" indica ora diminutivo ora depreciação) ou "Canjala" (conforme legado do Ministério da Administração do Território do governo passado, onde o "ca" não tem significado outro que não a contumácia jurídica de um povo que através dos seus representantes se apegou em decretos do regime colonial 40 anos depois de conquistar a independência)? Escreveremos "Kwanza" ou "Cuanza"?
Exma senhora ministra, pode parecer ingratidão, vindo de quem já embolsou da instituição que a senhora dirige um montante de 593 mil kwanzas no ano de 2012, pelo Prémio Provincial de Cultura e Artes, na categoria de investigação em ciências sociais e humanas, pelo contributo que vem prestando na divulgação da língua e Cultura Umbundu, através do conto e das novas tecnologias de informação comunicação. Mas impele-me a consciência patriótica e de estudioso para alertar enquanto é ainda cedo. Mais sustentável será investir na investigação como ponto de partida e não já na premiação de indivíduos.
Criando as bases, teremos frutos a médio e longo prazos. O ensino das línguas nacionais ganharia alento para sair da letargia. Já premiando indivíduos, teremos presença cíclica e manchetes da imprensa e não muito mais do que isso. É que sem consistência nas bases, o próprio produto cultural premiado não encontrará depois aptidão intelectual na sociedade para a devida descodificação e multiplicação.
Reconheço que a condição social dos artistas é tudo menos confortável e que um prémio é sempre um incentivo ao génio criativo do artista e também à conta bancária. Mas no campo das línguas nacionais, o nosso estágio aconselha ainda arrumar a casa.
Esta é a opinião de quem por outro lado reitera a palavra no sentido de alimentar o sonho da chegada do dia em que escrever em linguas nacionais não será mais um caminhar numa vereda em que tudo se permite e não há certeza do correcto e do não correcto. Aí, sim, prometo escrever em Umbundu contos originais e recolher da nossa tradição oral, assim como dar aulas na língua de que sou nativo, com ou s
em prémios. Ainda era só isso. Obrigado
Gociante Patissa (escritor e linguista)
Baía Farta, 16 Dezembro 2017 | www.angodebates.blogspot.com | www.ombembwa.blogspot.com
terça-feira, 12 de dezembro de 2017
terça-feira, 14 de novembro de 2017
sábado, 11 de novembro de 2017
terça-feira, 7 de novembro de 2017
Os serviços de apoio de sua excelência eu tornam público que, a seu pedido e julgado procedente, o autor Gociante Patissa disponibiliza grátis de 07 de Novembro a 17 de Dezembro a versão digital no formato Adobe PDF do seu livro de contos intitulado «FÁTUSSENGÓLA O HOMEM DO RÁDIO QUE ESPALHAVA DÚVIDAS», a número 01 da colecção designada «Novos Autores», por via de uma Bolsa Literária da iniciativa do projecto «Ler Angola» no ano de 2014 e que foi descontinuado há por aí dois anos. Sustentam tal decisão a grande procura pelo referido livro, já esgotado na rede de mercados Kero, combinado com a extinção do projecto que editou a obra. Assim, em caso de interesse, deverá de preferência escrever para patissagociante@yahoo.com ou também deixar na secção de comentários o seu e-mail (na verdade a primeira via seria a mais aconselhável). Está-se a considerar a ideia de disponibilizar via whatsapp mas ainda não se chegou à conclusão quanto à viabilidade e conforto de ter de ler 120 páginas no telemóvel. Passe a palavra. Ainda era só isso. Obrigado
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quinta-feira, 2 de novembro de 2017
domingo, 22 de outubro de 2017
a) Enunciado (o mais fiel possível conforme observado):
“Já sabes? A minha vizinha virou maluca”.
“Ouvi que tem mais uma de Benguela”.
“Isso até
“Estão a pisar grandes máquinas”.
“Tipo nada, os kotas estão a largar”.
Sendo a existência do feitiço indiscutível, vale acrescentar que a sua essência é o status: acumular bens, chegar ao poder, manter-se no trono, proteger-se. Em algumas comunidades, a tendência é masculinizar o feitiço (“umbanda”), sendo “oganga” o homem (que pode chegar a matar, porstatus ou por inveja) e “ocilyangu” a mulher (que supostamente anda fora de hora a dançar nua à porta de quem quer na desgraça). Quem recebe "samba" recebe “umbanda”, embora seja uma categoria mais leve.
Voltando ao diálogo, na percepção de beleza enquanto moeda, só as mulheres que completam os estereótipos (a tal beleza aparente) merecem ostentar bens, já que, “tipo nada, os kotas estão a largar”. Logo, para uma miúda que “não é bonita nem nada” ter um carro, só pode ser porque recorreu ao feitiço para iludir clientes com um charme que não possui. E, algo cíclico, começam a espalhar-se informações sobre raparigas que alegadamente enlouqueceram porque o feitiço expirou, ou porque não teriam cumprido os preceitos do kimbanda.
c) Impressão final:
Ao mesmo tempo que me revi parcialmente no diálogo, por este representar repúdio à ascendente degeneração das relações humanas, onde adultos endinheirados corrompem raparigas com idade para suas filhas (ou mesmo netas), não deixei de sentir uma ponta de tristeza; aqueles lavadores de carros demonstraram estagnação quanto à visão de mobilidade social. Em nenhum momento se referiram a alguém (“feia” ou “bonita”) que tenha carro porque conseguiu formar-se, arranjou emprego e pediu crédito.
“Já sabes? A minha vizinha virou maluca”.
“Ouvi que tem mais uma de Benguela”.
“Isso até
‘tá a dar medo”.
“Conheço uma miúda, não é bonita nem nada, tem um [Hyundai] i10. É samba”.“Estão a pisar grandes máquinas”.
“Tipo nada, os kotas estão a largar”.
b) Enquadramento:
A ideia principal resume-se aqui: “Conheço uma miúda, não é bonita nem nada, tem um i10. É samba”. Há uma crença entre os Ovimbundu na existência de força sobrenatural para atrair homens, num estilo de vida intensamente promíscua com fins materialistas. Esse poder chama-se “samba”.Sendo a existência do feitiço indiscutível, vale acrescentar que a sua essência é o status: acumular bens, chegar ao poder, manter-se no trono, proteger-se. Em algumas comunidades, a tendência é masculinizar o feitiço (“umbanda”), sendo “oganga” o homem (que pode chegar a matar, porstatus ou por inveja) e “ocilyangu” a mulher (que supostamente anda fora de hora a dançar nua à porta de quem quer na desgraça). Quem recebe "samba" recebe “umbanda”, embora seja uma categoria mais leve.
Voltando ao diálogo, na percepção de beleza enquanto moeda, só as mulheres que completam os estereótipos (a tal beleza aparente) merecem ostentar bens, já que, “tipo nada, os kotas estão a largar”. Logo, para uma miúda que “não é bonita nem nada” ter um carro, só pode ser porque recorreu ao feitiço para iludir clientes com um charme que não possui. E, algo cíclico, começam a espalhar-se informações sobre raparigas que alegadamente enlouqueceram porque o feitiço expirou, ou porque não teriam cumprido os preceitos do kimbanda.
c) Impressão final:
Ao mesmo tempo que me revi parcialmente no diálogo, por este representar repúdio à ascendente degeneração das relações humanas, onde adultos endinheirados corrompem raparigas com idade para suas filhas (ou mesmo netas), não deixei de sentir uma ponta de tristeza; aqueles lavadores de carros demonstraram estagnação quanto à visão de mobilidade social. Em nenhum momento se referiram a alguém (“feia” ou “bonita”) que tenha carro porque conseguiu formar-se, arranjou emprego e pediu crédito.
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Gociante Patissa, Aeroporto Internacional da Catumbela 13 Maio 2013
sábado, 21 de outubro de 2017
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
sexta-feira, 13 de outubro de 2017
No dia em que os noticiários propagaram a nomeação do comunicólogo Celso Malavoloneke (CM) para o cargo de Secretário de Estado do Ministério da Comunicação Social (cargo equivalente a vice-ministro), sua excelência eu "embrulha" os parabéns na memória deste encontro que "se dei" com a excelência dele ali pelas bandas do São Paulo, em Luanda, no 31-08-2016. CM junta-se, assim, ao jornalista e escritor João Melo, recém-nomeado Ministro da Comunicação Social, cujo perfil reacende a esperança de se introduzir uma reformulação dos conteúdos e postura dos órgãos de comunicação social públicos. Católico fervoroso e antigo quadro das nações unidas, fora a passagem recente por distintos sectores do governo enquanto assessor, tem um sobrenome proverbial que na língua Umbundu significa Filhos do Tempo, o que pode tanto ser interpretado como alguém que persevera a meio a turbulências da vida ou então, num prisma diferente, alguém cujos caminhos residem no enigma do tempo. Estamos a falar de Malavoloneke (assim grafado mas para se ler /mã-lã-vo-lo-ne-ke/), sobrenome entretanto lido (no som ruidoso da já habitual tendência aportuguesadora dos nossos locutores) como /mala-vo-lo-ne-ke/ (quando na verdade nada tem que ver com malas, mas sim mãlã, significa filhos). Quanto ao kapedido, que não é original, é só não colocar fora da agenda a idosa esperança de abertura da Rádio Ecclesia em Benguela, que mais tarde se reinventou como Diocesana, ya? Ainda era só isso. Obrigado hahaha
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quinta-feira, 14 de setembro de 2017
sábado, 19 de agosto de 2017
Quando
estiver a usar “oko” e “aka” para interjeição, você estará a fazer tudo, menos acertar. É
que tem crescido nos últimos tempos, principalmente na comunicação coloquial
das redes sociais, o uso de duas interjeições da língua Umbundu, as quais
pretendem transmitir simultaneamente admiração e reprovação. O que faz confusão
para quem acompanha com alguma acuidade é que se multiplica e populariza cada
vez mais a gralha. O correcto seria “hoko!” e/ou “haka!”, isso mesmo, com H,
aspirado, correspondendo ao português “Irra!”, “caramba!”. “Oko” tem outra
função, a de advérbio de lugar, quer dizer lá. Por exemplo, “kwende oko” (vai
lá mais é). “Aka” também é pronome demonstrativo, quer dizer este ou esta, mas
com conotação diminutiva. Por exemplo, “okamõlã aka” (esta criancinha).
Talvez seja já demasiado tarde para a presente chamada de
atenção, olhando para a experiência negativa no que respeita ao uso por
empréstimo de termos e expressões de origem africana (Bantu) à língua
portuguesa. Geralmente, dada a velha questão de status inclinado, a língua
portuguesa acaba impondo corruptela, na ausência de rigor ou interesse para um
mínimo exercício de pesquisa sobre o sentido, grafia e uso correcto da palavra,
como ocorre por exemplo com a palavra "kota" (irmão mais velho), que
emprestada à língua portuguesa virou "cota", facilmente confundida
com indicador estatístico.
Por favor, quando quiser usar as palavras para expressar
admiração/reprovação, não coma o H, se faz favor. É “hoko!” ou “haka!”.
Gociante Patissa. Benguela, 17 Agosto 2016
terça-feira, 25 de julho de 2017
EXERCÍCIO PARA TRADUÇÃO UMBUNDU-PORTUGUÊS (por favor, fazer também uma contextualização da mensagem)
"Nda olete apa okasi vakwene vakutukula ño l'uwa; vomenlã wavakwene, vosi vakusole ño calwa, oco ove ove okasi vemehi. Pwavakwene ove usuke po vali enene. Eci ño ofetika ndokuvotokapo kamwe, akuti ohali ndayu yipita, unvi wufetika." (adaptação de citação que ouvi ontem)
Handi oco ño lika. Ndapandula (Ainda era só isso. Obrigado)
segunda-feira, 24 de julho de 2017
domingo, 23 de julho de 2017
sábado, 8 de julho de 2017
"U ndeti itangi vyaye vyalwa. Nda wotumalelã, wiya oñoño; nda wokwmakwama, wiya onjanda."
(expressão satírica que ouvi do primo/irmão Malaquias Nejo Patissa)
Handi mba oco lika. Ndapandula (Ainda era só isso. Obrigado)
sexta-feira, 30 de junho de 2017
quarta-feira, 28 de junho de 2017
sexta-feira, 9 de junho de 2017
Olusapo kUmbundu: "Eye ka vindila oña velamba" (calomboloka: nda ovinda omunu, kwenda osanga onã, kayisi vutwe. Esinumuinlõ: eye kohã nda olete cimwe cinvi)
Tradução literal: não é de deixar o piolho dentro da trança, quando for ela a trançar o cabelo a alguém.
Explicação: Não leva desaforos para a casa.
sexta-feira, 19 de maio de 2017
Sukumunlã, que na língua Umbundu pode ser entendido como o imperativo do verbo descarregar (oku sukumunlã), do qual se infere que o artista se assume como uma fonte inesgotável de mensagens, é uma das vozes que melhor interpretam o cancioneiro popular, o qual "despeja" numa cadência de sungura. Para além da sua inusitada energia em palco, carrega a melancolia sobre o canto proverbial e as parábolas que constituem a matriz da região. Apesar de ter merecido numa carreira de quase duas décadas algumas distinções a nível local, dentre as quais o Prémio Provincial de Cultura e Artes, Sukumunlã continua sendo um desconhecido do grande público, fundamentalmente por culpa dos critérios do mercado, que fazem culto ao oco e a outros critérios fora do espírito da arte (estética e culturalmente falando) com um empurrão da comunicação social. O TOP BENGUELA ACÁCIA DE OURO teve a sua edição inaugural ontem (18/05) nesta cidade, numa iniciativa de Adão Filipe, pela Rádio Nacional de Angola.
Flay |
Joaquim Viola (esq.) recebendo diploma das mãos do Vice-governador Victor Moita |
A organização do Top Benguela Acácia de Ouro, da iniciativa da Rádio Nacional nesta cidade, cuja edição de estreia aconteceu a 18 de Maio durante as festividades dos 400 anos da cidade de Benguela, atribui diploma de mérito a algumas figuras do sector da cultura, entre promotores e apoiantes, pela sua relevância. O destaque do blog www.ombembwa.blogspot.com vai para dois nomes incontornáveis na recolha, tratamento e divulgação da cultura musical da região Umbundu, designadamente o mais velho Joaquim Viola, autor do clássico Tchiunge, e Flay, da Catumbela e radicado em Luanda, autor dos originais "Sassa Motema", "Doçura", entre outras adaptações do folclore. São duas gerações que parecem ligadas por um mesmo factor, o pouco incentivo e visibilidade da sua vertente. Nestes casos, palavras à parte, é nas entrelinhas e no tom nada radiante dos discursos que se capta o estado de alma dos artistas. "Estamos a deixar o palco para os mais novos que querem abraçar a carreira", disse Joaquim Viola. "É uma honra muito grande para mim ser homenageado hoje ao lado dos Impactos4, em quem me inspirei para começar a cantar e fazer música", acrescentou Fay. Eles mereciam, de facto, mais, a começar mesmo pela divulgação das suas músicas, o que na última década tem sido bastante esporádico, com uma agenda discográfica das rádios e televisões muito voltada à "música" urbana, servida em doses e entulho electrónico.
quinta-feira, 13 de abril de 2017
quarta-feira, 12 de abril de 2017
"Oku cita osoma ha co ko oku yovoka; cimwe vakwene vosivaiya, ove u njali ofila mwenle opo" (*)
TRADUÇÃO - Ter um filho rei não é necessariamente estar a salvo; se calhar ele é louvado na rua, mas tu em casa morres na desgraça
(*) palavras de uma tia minha em jeito de moral de um conto que ela partilhou comigo, o qual reproduzirei em Umbundu e Português quando tiver um pouco mais de tempo e calma.
quarta-feira, 15 de março de 2017
Política linguística deve ser revista para dar um estatuto as outras línguas nacionais, reivindica escritor e linguista Gociante Patissa. Para ele, promoveu-se o português e descurou-se das outras, promovendo a exclusão.
E o seu primeiro prémio, enquanto escritor, deveu-se ao empenho na divulgação do Umbundo, sua língua materna. A DW África conversou com o escritor angolano sobre a política linguistíca em Angola.
DW África: É linguista e o seu primeiro prémio deveu-se ao seu empenho na divulgação do Umbundo. Alia sempre a sua formação às suas obras?
Gociante Patissa (GP): É inevitável por um lado. Por outro lado, sou um ser insatisfeito em relação à questão da política linguística em Angola. Penso que criamos um monstro chamado língua portuguesa e descuramos do resto. E às vezes compreendo, penso que houve uma necessidade ao longo dessas décadas de conseguir um equilíbrio enquanto nação, fazendo desse conjunto de nações uma só, já que por detrás da língua há outros fatores. Mas é altura de repensarmos, há pessoas que vão nascer, crescer e morrer sem lhes fazer falta a língua portuguesa. Então, uso as técnicas científicas para ao meu nível promover a minha língua, o que é difícil porque temos ainda o problema da dualidade de grafias. Não entendo porque uma língua tem de ter duas grafias diferentes, vamos falar da colonização e da igreja, mas as línguas são anteriores a colonização e a igreja. O católico e o protestante falam a mesma coisa, mas quando chega a hora de codificar codificam diferente. Isso depois tem como consequência o desencorajamento da produção em línguas nacionais, como é que vão ler?
DW África: Ainda sobre a política linguística em Angola, no que se refere a promoção das outras línguas nacionais o que gostaria de ver melhorado?
GP: Muita coisa, primeiro é a questão da política do Estado e o Estado tem de assumir isso, mais do que tem feito até agora. Sei que há um estudo de harmonização. Em 2012 fui entrevistado por uma jornalista inglesa e soube através dela que tinha sido encomendado um estudo a um académico africano para a harmonização ortográfica das línguas de matriz Bantu. Até hoje, volvidos 20 anos, não se sabe pelo menos o ponto de situação. Depois é a maneira como se olha [para elas], o status secundário é atribuído as línguas nacionais. O jornalismo, por exemplo, é feito em língua portuguesa, mas quando se fala em jornalismo em línguas nacionais na verdade não é jornalismo, é tradução a quente do texto em português e as deturpações que disso advém. Portanto, é preciso dar as línguas os estatutos que elas merecem. Tem de se fazer muita coisa, estou a reclamar do Estado porque ele é o decisor e quem superintende ao nível macro as políticas. Mas depois há também há questão do cidadão, por exemplo, na rua, eu falo muito bem o umbundo melhor até que o português, se eu saudar uma varredora de rua [em umbundo] ela me vai automaticamente responder em português, porque ela interpreta que lhe estou a desqualificar. Naturalmente há algumas províncias que dão algumas expetativas, eu gosto de ir ao Humabo, lá há menos complexos do que há em Benguela e em outras províncias, mas ainda assim não satisfaz. É preciso dar um suporte a isso. Por dia a televisão tem cerca de meia hora de noticiário em umbundo, o que é meia hora? É nada.
DW África: No seu percurso houve também uma passagem pela rádio, aliás, o que também transportou para a sua escrita. Gosta da forma como se faz rádio em Angola?
GP: Não, não gosto porque tenho estado a ler muito e leio um autor cubano que se chama Ignácio Virgil?? que diz que a rádio deve transmitir a vivência da comunidade. E atualmente penso que o conceito de rádio é um pouco elitista e de exclusão, faz-se muito o trabalho de estúdio, fala o artista, fala o empresário, fala o comerciante, fala o governante e às vezes fala o académico, [mas] o cidadão comum não fala para a rádio, a não ser que tenha saldo para o telefone ou que tenha cometido um crime e queira prestar contas a sociedade. Eu gostaria de ter uma rádio mais virada para a integração, para a promoção cultural, uma rádio onde a pauta informativa não relegasse para o fim do noticiário, por exemplo um evento cultural. Temos rádios especializadas no desporto, poderíamos pensar em rádios especializadas na cultura. Já há um jornal, infelizmente é quinzenal e tem uma circulação bastante complexa e limitada. Gostaria de uma rádio, mas não banal, que saiba ser o rosto da comunidade.
DW África: Há no seu país uma restrição considerável no que diz respeito a abertura de rádios. Com vê isso no contexto do acesso a informação e da liberdade de imprensa?
GP: Deixei de fazer jornalismo há alguns anos, então não estou tão inteirado sob o ponto de vista dos "dossiers" do assunto e é um pouco arriscado tecer comentários mais profundos quando a gente não está tão familiarizada com os assuntos mais recentes da área. Mas eu acho que é complexo, pelos debates que vou acompanhando o quadro que se avizinha não é muito bom porque primeiro mata a figura do freelancer. Doravante fazer jornalismo significa pertencer a uma empresa, isso faz com que a subserviência seja ainda maior, porque se você for minha diretora e eu refilar consigo automaticamente eu deixo de fazer jornalismo. E outra coisa, havia uma esperança de abertura de rádios comunitárias e penso que no atual figurino as rádios ainda não forma contempladas. Então, o que vai acontecer, vamos ter uma relação muito tensa entre o profissional as entidades empregadoras, penso que não é um quadro muito bom. Era bom ouvir o outro lado também, temos estado a ouvir o outro lado das pessoas que são contra o espírito da nova lei, então era bom ouvirmos o outro lado e percebermos os seus fundamentos. Mas penso que o quadro que se avizinha não é de todo próspero.
DW África: Tem um blog ou dois?
GP: Tenho dois, o Angodebates, que generalista e o Ombembwa, palavra umbundo que significa paz. Inicialmente [este último] era para ter mais conteúdo de natureza linguística, mas não tenho tido muito tempo para fazer pesquisa, então é mais passivo que o Angodebates.
DW África: Os seus blogues são uma plataforma para o seu mundo literário?
GP: Sim, mas agora há uma inversão, quando começou o maior número de leitores era de Portugal, Brasil e só depois de Angola. Depois houve uma inversão, penso que há duas variáveis: uma é que houve melhorias em Angola no acesso a internet, não podemos negar isso, e por outro lado penso que passou a haver também maior interesse para o consumo interno dos blogues. E é interessante porque essa inversão surge numa altura em que já há o Facebook e outras plataformas que poderiam distrair. E os meus blogues, tal como o Facebook acabam também por divulgar a minha obra em quanto escritor, Vou lá colocar fragmentos, há contos que na verdade evoluem de crónicas, é uma estrada de dois sentidos.
DW África: Homem de muitas paixões, já vi que não se separa da sua máquina fotográfica. Fale-nos desse mundo também...
GP: Vivo profissionalmente numa área que não gosto, acho que nunca gostei e nunca vou gostar. Respeito e tenho uma atitude profissional, mas se não faço arte eu expludo. Trabalho há quase dez anos na aviação, não é uma área que me apaixona, não sou hipócrita e não finjo que me agrada. Tenho bom emprego, mas em termos de natureza da atividade não é o que gostaria [de fazer]. E isso empurra-me com cada vez mais energia para aquilo que eu gosto. A minha ligação com a fotografia tem também a ver com a sobrevivência, quando aos 15 anos precisei de arranjar emprego para pagar os meus estudos na sétima classe fui bater a porta a uma casa de fotografia, penso que já havia uma relação. Então aprendi a fotografar, mas numa perspetiva mais comercial, mas ao longo desses anos sempre fui fazendo fotografia de autor e nos últimos tempos, com um pouco mais de recursos, fui evoluindo. Faço umas mais documentais e outras artísticas, é uma paixão muito grande. Acho que no futuro, na reforma, eu já a andar de bengala vou dedicar-me só a fotografia.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
UMB: Onjimbi londuko ya Diabick yatusyapo. Watula omwenyo. Vati cakala henlã mumwe vocitumãlõ cuhayele vombala yofeka. Eye wainda lokuvela anyamo valwapo naito. Ovisungo vyaye vikoka upongo cilo.
PORT: O músico chamado Diabick deixou-nos. Poisou o fôlego. Informações disponíveis indicam que foi ontem na capital do país. Andou doente nos últimos anos. As suas músicas neste momento remetem ao pranto.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
domingo, 12 de fevereiro de 2017
sábado, 7 de janeiro de 2017
O umbundu é a segunda língua mais falada em Angola, representando 22,96 por cento da população, o que corresponde a cerca de 5,9 milhões de pessoas, depois do português, que é falado por 71 por cento da população.
Depois do português e do umbundu aparecem o kikongo, com 8,3 por cento, e o kimbundu, com 7,8 por cento. Seguidamente vêm as línguas côkwe, nganguela, nyaneka, fiote, kwanyama, luvale e muhumbi com percentagens que variam entre os três e um por cento.
Os dados são do Censo Geral da População e Habitação, o primeiro realizado depois da proclamação da Independência Nacional, em 11 de Novembro de 1975, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
A população angolana é constituída por 25,7 milhões de habitantes, dos quais 12,4 são homens, o que corresponde a 48 por cento, e 13,2 são do sexo feminino, o que corresponde a 52 por cento.
O último censo realizado pela administração colonial portuguesa ocorreu em 1970 e mostrou que a população era constituída por 5,6 milhões de habitantes.
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Nota do blog Angola, Debates & Ideias: Investir na actualização do código da grafia (línguas Bantu), que é bom, para daí incentivar a produção de bibliografia e literatura diversa nessa tal segunda língua, isso é que quem de esquerdo não prioriza
domingo, 1 de janeiro de 2017
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