"Aló", atende-me uma voz
feminina.
"Sim, bom dia. Ligo da empresa X para confirmar se a senhora vai usar
o serviço que reservou para hoje. Falo com
a senhora Wanda?
Do outro lado da linha, a senhora não se contém. Rebenta
mesmo uma risada com sabor a sarcasmo. Estou calmo e deixo a senhora rir-se às
custas do meu ouvido. Instantes depois, satisfeita talvez por lavar a alma, ela
confirma, corrigindo:
"/Uanda/? /Vanda/! Sim, sou eu. Vou usar".
Não sou pago para discutir sociolinguística com os clientes.
Aliás, pouca utilidade há para pensar, de tão autómatas que certas missões são,
pelo que agradeço a atenção e deixo um até logo.
Agora, no intervalo entre uma chamada e outra, quem ri sou
eu. Sim, porque em Umbundu, língua nacional predominante no centro e sul do
país chamado Angola, e em particular em Benguela, "owanda", ou
simplesmente "wanda" [uanda], significa rede. É um nome que se dá a
crianças que surgem depois de o casal ter perdido outros filhos. É como
metáfora a dizer que a rede da morte poderá arrastar esse recém-nascido também.
E a pessoa cresce com aquele nome. Para a minha interlocutora, de certeza, só
existe uma forma, Wanda que se lê com /v/.
Já lá vão uns três anos e não sei como fui pensar logo hoje
em ruídos na comunicação.
Gociante Patissa, Benguela, 08.12.12
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